Capítulo 28 - Águas profundas (cont...)

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Não precisei abrir os olhos para saber onde estava, esse cheiro era algo difícil de se esquecer, um cheiro de perda, morte...  sofrimento. Tudo isso me fazia voltar ao dia que havia perdido tudo, ao dia que começou minha longa e difícil jornada solitária por um mundo onde eu não conhecia nada nem ninguém.

Tentei voltar no tempo em minha mente, tentando descobrir o que havia acontecido, o que havia me trago até ali, mas tudo era uma mistura de borrões, cansaço e um enorme sentimento de medo. Eu me lembrava de estar preocupada com alguma coisa, mas o que? Eu estava tão cansada, meu corpo parecia ter sido atropelado por uma enorme carreta ou quem sabe jogado de um prédio, mas eu sabia que nada disso tinha acontecido.

Abro os olhos, piscando inúmeras vezes tentando mante-los abertos, as pálpebras estavam tão pesadas que era um constante desafio. Bocejo, me esticando, sentindo cada partezinha do meu corpo protestar em resposta, quando finalmente meus olhos se mantem abertos vejo alguém encostado no batente na porta, uma figura alta, imponente, que parecia se aproximar a cada respiração que dava. Senti meu coração se acelerar no mesmo instante, precisei piscar freneticamente para dispersar a nuvem de sono que ainda cobria meus olhos, tentando descobrir quem era, ver algo com clareza,  mas a medida que a figura se aproximava seu cheiro me atingiu com força. Aquele cheiro era único, forte, marcante, intrigante e pertencia a única pessoa que parecia deter o poder de me irritar e encantar ao mesmo tempo.

_ Bom dia, Bela Adormecida! Como esta se sentindo?

_ Miguel? Que raios esta fazendo aqui? - pergunto confusa mas ao mesmo tempo aliviada.

_ Bom dia pra você também Bela! Sim eu dormi bem obrigado, a cadeira daqui é a mais confortável que estive em anos - diz se sentando ao meu lado - E você como esta?

_ Desculpe. Eu só... não estou entendendo, o que eu to fazendo aqui. Não lembro de ter sofrido nenhum acidente ou algo parecido.

_ Você não se lembra de estar doente? Ter sumido por uns dias?

_ Sumido? Por dias? - pergunto confusa - Certeza que não é você quem deveria estar aqui? Eu não sumi por dias Miguel, ontem mesmo eu estava na universidade, até acenei para você em cima daquele prédio. 

_Isso foi na segunda. Você não apareceu na faculdade por dois dias. A Olivia ficou preocupada e foi até a sua casa, mas como você não atendia ela achou que estivesse fora, mas no outro dia você não apareceu novamente e ela entrou em desespero. Ela foi correndo até Ana e Pedro pedir ajuda mas ninguém conseguia acalmar a garota, ela chorava tanto que ninguém entendia uma palavra. Demorou um pouco mas logo entendemos o que se passava e fomos atras de você no seu apartamento.

_ Não é possível, eu lembro de ter ido as aulas,  ver você e me despedir da Olivia... 

_ Eu sai da cidade na segunda e voltei quinta, até segunda você tinha ido as aulas normalmente, a partir dai você sumiu.

_ Estranho. - bocejo . - Mas o que quer que eu tenha acontecido ja passou, estou me sentindo muito bem - digo me levantando mas fico tonta, uma mão rapidamente me segura, me estabilizando para que não caía da cama.

_ Parece que sim afinal os médicos suspenderam os remédios depois que você finalmente passou uma noite bem e sem febre.

_ Passei a noite? Eu to aqui a quanto tempo? - pergunto alarmada.

_Dois, três dias? Não sei bem.

_ Você só pode estar brincando comigo! Eu não posso ter perdido todos esses dias em um hospital, eu nem posso pagar por um hospital Miguel! Eu preciso sair, eu... - paro encarando a parede em minha frente assustada, o coração batendo tão rápido que dificultava respirar.

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