Capítulo 24 - Um bom plano mas não o melhor.

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Parece que o destino havia se encarregado da escolha de ver ou não Miguel. Assim que coloco os pés em nosso prédio o encontro sentado nas escadas com uma enorme sacola de papel pardo ao seu lado.

_ Ei! - se levanta  parecendo um pouco sem jeito - Algo me dizia que você tentaria fugir de alguma forma da nossa conversa, precisei garantir que não acontecesse.  -  soa descontraído mas algo nele emana certo nervosismo...  ansiedade... apreensão, me deixando confusa e um tanto curiosa.

_Não nego - dou de ombros - mas parece que não tenho muita escolha.  Algo  me diz que eu realmente deveria dar uma chance ao que quer que queira me dizer.

_ Obrigado! - diz olhando ao redor, apontando para as escadas. - Podemos?

_ Claro!

Subimos em silencio, confesso que estava apreensiva sobre nossa proximidade, ele tocaria sobre o assunto da noite passada? Fingiria que nada aconteceu... 

 Honestamente não importa, desde que ele finalmente diga que raios esta acontecendo e onde me encaixo nisso tudo já estava de bom tamanho,. Fiquei horas pensando em tudo que havia ocorrido e nada me vinha em mente do por que eu teria algo haver com o ataque de sua irmã, não parecia me encaixar em qualquer cenário por mais absurdo que fosse,

_ Puta que... 

_ Oh merda! Desculpe, me esqueci completamente desse buraco no assoalho. - ofereço minha mão para ajuda-lo a se levantar.

_ Sem problemas - se levanta limpando rapidamente as roupas com as mãos - Tenho algumas coisas la embaixo que sobraram da reforma, posso dar um jeito... 

_ Não! - me apresso rapidamente em dizer - Obrigado por se oferecer mas não precisa.

_Mas... 

_ Realmente aprecio, mas não. Obrigado.

_ Tudo bem então! - se rende meio desconfiado, mas permaneço com o semblante em branco.

Me viro rapidamente fugindo de seu escrutínio e abro a porta, enquanto espero que entre olho ao redor, a entrada do apartamento estava completamente vazia, tanto de personalidade, quanto de moveis. Eram poucas as vezes em que consegui ou quis realmente comprar algo para um lugar em que morei durante todos esses anos, não fazia sentido comprar algo que seria deixado para trás, era um dinheiro jogado fora no fim das contas.

Nenhum dos lugares que havia morado me fez ter aquela sensação de casa, segurança, pertencimento, sem falar que nunca ficava tempo o suficiente, sempre estava fugindo, correndo, deixando tudo para trás. Verdade seja dita não estava preparada para me fixar em um lugar, estava com medo, sofrendo, paranóicas de certa forma e por um bom tempo em um eterno e profundo luto.

Mas essa cidade, despertou algo em mim ou talvez finalmente tenha conseguido me libertar de certa forma das amarras do passado. Porem independente do que fosse algo havia mudado, eu sabia disso, sentia... Não posso dizer que o medo e a incerteza se foram, não mesmo, elas nunca iriam embora, principalmente o medo mas agora também havia coragem dentro de mim, havia determinação e principalmente havia algo por quem e por que lutar.

Quando Miguel adentra o apartamento vejo seu rosto vasculhando o lugar, notando o mesmo que eu, o vazio e solitude de tudo. Um lugar sem alma, personalidade. Reparei que não era a primeira vez nos últimos dias que tal constatação me incomodava, talvez quando o quadro de mamãe estivesse concluído e finalmente viesse preencher essas paredes vazias eu poderia chamar esse lugar de casa e dai para frente tudo se desenrolaria, se tornando algo vivo, aconchegante e caloroso,  um lar de verdade.

ConfinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora