Capitulo 8 | Perdida

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Saio as pressas do cemitério em um misto de raiva, medo, indignação e choque. Como o ser humano poderia ser tão cruel a esse ponto? Como puderam escrever aquilo na lapide daquele diabo? Ou melhor como puderam lhe dar uma lapide? Pior, como ousaram colocar mamãe em seu repouso eterno bem ao lado daquele maldito?  

Também o que poderia se esperar de pessoas que ao invés de tentarem ajudar, preferem simplesmente fechar os olhos e ignorar o que acontece ao seu redor. Pessoas que já tem seus conceitos pré concebidos, que acham que sua opinião é a única coisa que vale e importa. Idiotas!

Antes de toda essa confusão eu era apenas uma menina que andava por ai e era ignorada por todos. Mentira, não era ignorada, era taxada como a filha da fracassada, da fraca mulher que prefere apanhar a se separar do marido, da safada, da mulher sem personalidade, submissa, idiota, burra e tantos outros tantos xingamentos que ouvi por esses longos anos.

Eu era vista mas nunca notada. Engraçado, ninguém nunca havia se importado com nada em relação a mim, um exemplo foi quando levei meu primeiro soco de papai, recém tinha feito meus dez anos, cheguei na escola com o olho roxo e inchado, me segurando ao máximo para não chorar devido a dor que sentia.  Todos me olhavam e logo em seguida viravam o rosto, nenhum deles veio saber o que poderia ter acontecido, preferiram se manter longe do que quer que fosse. 

Engraçado como passei rapidamente de ignorada para o centro das atenções. Agora todos parecem ter tomado conhecimento de minha existência. Claro que não me notam pelo que sou mas sim pelo que houve comigo, passei de filha da trouxa que gostava de apanhar para a pobre coitada que perdeu tudo. Irônico não?

Como se só agora, depois de tudo que houve eu fosse digna da "ajuda" de todos. – bufo com tal pensamento – Agora, somente agora ao olhar deles eu valia a pena ser salva. Hipócritas.

Continuo andando sem rumo, movida pelo ódio e indignação. Sinto a presença de alguém então me lembro do tal padre – bufo de raiva – onde estava com a cabeça quando... esquece, eu havia feito isso por minha mãe e somente por ela, pena que não poderia pedir ao tal padre que implorasse a Deus que meu pai queimasse e sofresse eternamente queimando no inferno.

_ Minha filha, espera! – O homem chega correndo ao meu lado me segurando pelo braço, mas o puxo na hora me livrando de seu toque.

_ Oh! Me perdoe querida. Se puder só... – diz retirando sua mão rapidamente de meu braço, parando e se apoiando no joelho um pouco ofegante – esperar um pouquinho. Como pode ver não estou na minha melhor forma. – Tenta soar engraçado mas ignoro tal senso de humor.

_ O que mais o senhor precisa? – falo tentando segurar toda a agitação dentro de mim, afinal precisava dele para tentar ao menos ajudar mamãe a ter finalmente um pouco de paz e felicidade

_ Para onde você vai agora minha filha? Já sabe em qual auxilio ao jovem vai ficar? Podemos ligar para a sua assistente social la da paroquia...

_ Muito obrigado mas já tenho tudo resolvido – digo cortando-o rapidamente

_ Certeza? – Me pergunta desconfiado.

_ Absoluta. Muito obrigado por sua ajuda.

_ Não tem que agradecer criança. Rezarei por seus pais com o maior prazer.

_ Pais não, mãe. Somente ela é digna de suas orações. 

_ Não entendo...

_ Somente preciso que reze por minha mãe padre, somente isso.

_ Se é o que deseja.

_ É sim, obrigado. – digo já saindo rapidamente de seu alcance.


ConfinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora