Capítulo 20 - Uma virada inesperada

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Passei dias em meu apartamento, enfurnada em meu próprio inferno pessoal. 

O que faria a seguir? Essa era a grande pergunta.

Analisei tudo inúmeras vezes em minha mente, revisei cada informação, cada palavra, cada momento, cada acontecimento, cada sentimento... Não seria uma decisão fácil como imaginei que seria. Se fosse a algumas semanas atras nem pensaria a respeito, juntaria todas as minhas coisas e partiria sem olhar para atras, mas hoje... agora... alguma coisa havia mudado.

Eu não era mais a mesma, verdade seja dita estava a bons anos em uma constante evolução, em uma metamorfose de mudanças, de aprendizado, de temores, de crescimento, desejo, vontades mas ao mesmo tempo também me sentia em uma constante inércia onde permanecia em um mundo de dor, sólidão e perda, um mundo onde lutava para sobreviver porem nunca realmente viver. Mas desde que cheguei nessa cidade algo realmente se abriu dentro de mim, talvez aquela pequena fagulha de luz, a única companhia que ainda me restava de mamãe tivesse se expandido, encontrado algo pelo que valia lutar novamente, algo que eu ainda não havia visto ou entendido.

Aqui encontrei pessoas que me fizeram sentir pela primeira vez que não estava sozinha, que poderia ter algo mais do que somente eu mesma. Essa cidade me fez ter a sensação de que finalmente encontrei algo, que finalmente posso ter encontrado meu lugar e não só por estar fazendo algo que goste mas por uma paz que a tempos não sentia.

Eu lutei, cada minuto, hora e dia, desde que cheguei a esse lugar, tentei resistir de todas as formas, não deixar qualquer pessoa entrar, mas por mais que lutasse Ana, Pedro e Olivia não desistiram de mim. Mesmo sendo fechada, um tanto fria, distante e misteriosa eles viram algo em mim, algo pelo que acreditaram valer a pena lutar mesmo eu não lhes dando nada em troca. Eles abriram suas vidas, alma e coração e eu não retribui uma gota sequer, nunca contei qualquer coisa do meu passado, nunca expliquei meus medos, minhas atitudes em relações a certas coisas e eles nunca me cobraram ou exigiram saber uma única vez que fosse.

É tão dificil entender todos esses novos sentimentos dentro de mim, é doloroso lutar contra essa nova enxurrada de pensamentos, sensações, estou a tanto tempo lutando contra tudo e todos que é doloroso demais permitir que alguém entre de bom grado.

Olhando ao redor, sinto meu corpo inteiro vibrar, o lugar parecia pequeno demais para tantas perguntas, duvidas, medos, esperanças, precisava sair dali. Sem pensar duas vezes calcei meus tênis e corri,  corri o mais rápido de pude em direção a grande área verde atras de onde morava, já havia me aventurado por aquele lugar algumas vezes, era pouco usado visto que nunca encontrei ninguém por ali mas possuía trilhas muito bem marcadas o que ajudava no momento pois precisava me soltar, me libertar, eliminar toda essa angustia e amargura de dentro de mim por um pequeno momento que fosse. Isso me ajudar a clarear minha mente e entender a gravidade de minha escolha, entender suas consequências e como isso mudaria o rumo da minha vida.


Corri por quilômetros, forçando meu corpo o máximo que pude, sentindo cada músculos se unindo em protesto, as roupas molhadas de suor e as passadas se tornando cada vez mais lentas. Ofegante olhei ao redor e me joguei em uma pequena clareira, me deitando e encarando o céu sob mim,  de olhos fechados implorei aos céus que não estivesse tomando a decisão errada. Eu já sabia o que faria, sendo sincera comigo mesma não conseguiria tomar qualquer outra decisão, mesmo que me forçasse ou fosse imposto, obrigada. E mesmo sabendo disso não conseguia dizer as palavras em voz alta, era como se algo me impedisse de pronuncia-las pois isso as tornaria real e faria com que não pudesse voltar atras, mesmo sabendo que nunca seria capaz de fazer algo tão covarde... 

Tanta coisa havia acontecido e pelo visto continuaria acontecendo... 

Exaustão, essa era a palavra que me acompanha dia após dia, eu estava exausta. Exausta de sempre ter de me manter atenta, de não poder ir para casa pelo mesmo caminho pois precisava despistar qualquer pessoa que me seguisse, de todo lugar que entrar ter um plano de fuga em mente, de analisar todo o lugar e saber exatamente onde ficam as saídas, entradas e possíveis esconderijos, de me preocupar com tudo e todos, de me manter nas sombras, de não viver, de não conseguir dormir direito, de estar sempre rígida, de me sentir culpada, de nunca poder apagar toda a dor que me corroi dia após dia, de não me apegar a nada, de estar sozinha... 

ConfinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora