Capítulo 18 - Sempre alerta!

111 21 31
                                    


Essa cidade despertou algo em mim, algo tão diferente, tão conflitante com o que estou acostumada a sentir que me tornei mais inquieta que o habitual. Somente os estudos não davam contar de tirar essa energia reprimida, esse medo, essa pontada estranha em meu peito, eu precisava de mais. Comecei então a correr pela cidade, sem rumo, apenas apreciando a queimação dos músculos de minhas pernas, tentando ficar o mais exausta possível mas a única coisa que conseguia era ficar cansada mentalmente.

Me perguntava quando finalmente todos dessa cidade me esqueceriam e viveriam suas vidas como antes. Era perturbador ser o centro das atenções. Nunca pensei que uma cidade pequena pudesse ser assim tão... sufocante.

A maldita cidade tinha uma universidade, o que ao meu ver indicava uma alta rotatividade de pessoas, futuros alunos, pais e todas essas coisas, mas pelo visto estava enganada e o que era um plano de me esconder, me tornando uma sombra em meio a tudo se tornou a porcaria de um espetáculo onde os holofotes se mantinham constantemente sob mim, me tornando o centro das atenções.

A maioria das pessoas desse lugar me assustava, sempre sorrindo de mais, sendo extremamente receptivos e felizes. Não era normal algo assim. Em todos os lugares que entrava ou caminhava podia sentir o peso de seus olhares em mim, uma pequena parada em algum lugar e assustadoramente alguém se teletransportava ao meu lado puxando assunto como se nos conhecêssemos a anos, parece que nunca ouviram sobre espaço pessoal. 

Cansada de continuar tendo toda a maldita atenção comecei a me embrenhar nos lugares menos movimentados, não que a cidade tivesse uma grande extensão mas eu tinha certeza que encontraria alguma coisa ali. Foi em uma dessas escapadas quase desesperadas em busca de paz que finalmente encontrei o que parecia estar procurando. Não foi uma grande área ou refugio para exercícios, mas uma casa, um lugar que não era grande nem pequeno, mas era tão bem cuidado e tão diferente de tudo mais naquela cidade que parecia algo saido de um filme. Se parasse por tempo suficiente para absorver tudo poderia imaginar anos e anos atras, vários carros antigos estacionados no grande pátio , homens com seus casacos de couro, seus penteados lotados de gel junto com suas garotas com suas longas saias rodadas e penteados elaborados dançando ao som de algum jukebox.

Eu estava sem fôlego, o lugar era surreal, e quanto mais observava mais fascinada ficava. Me aproximei calmamente, notei o pequeno fluxo de pessoas entrando e saindo e quanto mais próxima mais meu coração se apertava, não entendia bem o que aquele lugar transmitia mas era algo tão bom, tão certo, era quase o sentimento de ser abraçado por alguém que se ama, não a mesma sensação que tinha quando estava nos braços de mamãe, mas a sensação de quando ficávamos juntinhas assistindo TV fingindo ter uma vida completamente diferente da realidade, onde éramos somente nos duas contra o mundo, sem a existência do mal encarnado que chamava de marido e toda sua podridão.

Eu estava apavorada. 

 Algo queimava em meu peito mas dessa vez não era uma queimadura dolorosa como se algo estivesse se quebrando, não, era diference, era calorosa, boa, estranha. Honestamente não sabia o que pensar, o que fazer, tudo estava tão estranho que não sabia se realmente poderia confiar em meus instintos novamente. Mas ali estava eu encarando o lugar, como se me chamasse, como se uma voz sussurrasse que aquele era o meu lugar, onde eu deveria estar.

Mas como acreditar nessa sensação, quando nunca pertenci a lugar algum?

Sai o mais rápido dali, tropeçando em meus próprios pés, tentando entender que diabos havia acontecido. Por dias tentei esquecer tudo isso, era loucura, minha paranoia finalmente se elevando a um nível novo de insanidade. Mas não conseguia esquecer, estava tão presa ao lugar que voltei inúmeros dias ao lugar querendo ver por mim mesma se toda essa sensação era real ou fruto da minha imaginação deturpada.

ConfinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora