Capítulo 33 - Que os jogos comecem

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Bela

Enfrentar novamente todas aquelas lembranças não havia sido fácil, havia escondido-as tão bem em minha mente que se tornaram nebulosas, confusas, mas era impressionante como apesar disso tudo meu corpo se lembrava de todo o medo, tristeza, dor... era como se tivesse sido marcado em cada nervo do meu corpo, em minha alma.

Eu havia reparado no rosto de cada um, esperando apreensiva que a ficha caísse e me mandassem embora, dizendo que era demais, que não poderiam se arriscar, que não fariam isso, mas só vi dor, tristeza e vários estágios de raiva passando por suas faces, nenhuma pena, ultraje ou traição. Ali pude ver tanto amor e carinho que tudo parecia demais, havia tantos anos que ninguém cuidava ou se preocupava comigo, éramos somente eu e eu mesma e isso parecia bastar antes mas... não mais.

Por mais que fugisse, negasse e não me permitisse, essas pessoas foram quebrando minhas barreiras, escalando meus muros e a cada dia mais eu me via ansiando pelos abraços e conselhos de Ana, a preocupação e carinho de Pedro, as loucuras e apoio de Olivia e o amor, cuidado e idiotices de Miguel. Eles eram partes essenciais em minha vida, sem eles eu não saberia o que fazer e por isso luto tanto para que fiquem seguros, espero que ter contado uma parte da minha historia realmente faça diferença e mantenha  todos bem, ou não sei o que será de mim.

 Pela primeira vez na vida me vi implorando a qualquer Deus que existisse e estivesse me ouvindo que não deixasse que nada acontecesse com eles.

_ Você ta bem? - Miguel me pergunta quando finalmente chegamos em casa.

_ Na medida do possível - confesso cansada - Bom... Eu vou tomar um banho e dormir. Boa noite  - digo me virando rapidamente, fugindo, precisando ficar sozinha.

_ Boa noite! - me responde e posso notar em seu tom que queria dizer algo mais, que estava preocupado, mas eu não podia falar mais nada... não agora pelo menos.

Sigo até o banheiro entorpecida, desde o momento que me permiti invadir aquele pequeno cômodo em minha mente, fui inundada por tantas sensações e sentimentos que parecia estar sentido tudo e nada ao mesmo tempo, era como se meu sistema nervoso tivesse colapsado e não soubesse se eu deveria sentir ou não tudo aquilo.

Enquanto a banheira enchia minhas mãos tremiam, as lembranças tentavam a todo momento invadir minha mente, me afogar, me quebrar... mas eu as afastava, lutando com tudo para fechar aquela maldita porta que nunca deveria ter sido aberta. 

Eu não queria pensar em nada daquilo, nada do meu passado, nada! Mas inúmeras perguntas invadiam minha mente, exigindo respostas, respostas que não queria sequer imaginar por que se tudo isso houvesse sido uma mentira... se eu estivesse me engannado todo esse tempo... Não! Eu não podia me deixar levar por isso por que se eu não pudesse confiar em minha própria mente... o que seria de mim?


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O cansaço consumia cada parte do meu corpo, da minha mente, eu queria me render a ele mas cada vez que fechava os olhos era bombardeada por imagens, lembranças cruéis e perturbadoras de meu pai, do que fazia comigo...  com mamãe... 

Me recusava a deixa-lo entrar mais em minha mente, me perturbar, odiava que mesmo morto ou assim acredito ele ainda possui esse poder sobre mim, odiava ser fraca a esse ponto, queria tanto ser forte como Miguel, ele era resolvido, não tinha medo de lutar, de falar o que sentia, se abrir e eu sabia que as coisas na vida militar não eram fáceis, sabia de alguma forma que por trás de toda aquela fachada existia uma escuridão que talvez nem ele soubesse.

Eu precisava fazer alguma coisa, me distrair ou iria acabar enlouquecendo presa nesse quarto com todas essa gritaria ensurdecedora em minha mente.

Ouço um pequeno zumbido vindo da sala, me levanto e abro a porta lentamente, caminho em  direção ao barulho o mais silenciosamente possível, não queria acordar Miguel ou assusta-lo com minha presença inesperada, afinal esse era meio que o quarto dele, pelo menos a noite.

ConfinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora