1 ano e meio depois...
Acordo assim que os primeiros raios de sol invadem a pequena janela ao lado da cama, resmungando me levanto e cuidadosamente vou desativando as pequenas armadilhas espalhadas pelo minúsculo e decrepito apartamento em que moro. Não me sinto segura sem elas, verdade seja dita acho que nunca mais saberei o significado disso.
Dormir era algo dificil, o sono cada dia mais leve, qualquer minúsculo barulho me acordava, sempre fazendo meu coração disparar, talvez fosse minha imaginação ou uma especie de premonição, instinto ou mera paranoia mas sentia, sem sobras de duvidas, que eles ainda estavam atras de mim, um premio ao qual papai fez tanta propaganda que os tornou obcecados, sedentos por um gosto, uma prova. Maldito seja por mesmo após a morte continuar tentando me arrastar pro inferno.
Me arrumo calmamente para o serviço, já fazia alguns meses em que trabalhava na pequena lanchonete no bairro onde moro. O lugar não era dos melhores mas era a única opção "segura" que consegui na cidade.
Fazia mais de um ano que havia fugido de onde moro, desde então já havia passado por três cidades diferentes, não conseguia permanecer na mesma por um longo tempo. Inicialmente tudo corria bem, conseguia emprego em um lugar afastado, onde não seria necessário qualquer tramite legal ou vinculo empregatício e o melhor de tudo receberia diariamente. Não eram os melhores lugares para se trabalhar, o salário também não era grande coisa mais era a melhor forma de me manter no anonimato, escondida, porem por mais que me mantivesse nas sombras, algo sempre atiçava meus alertas, fazendo algo dentro de mim rugir "fuja", um rugido tão forte e ensurdecedor que quando dava por mim já estava sentada em um ônibus com meus poucos pertences rumo a qualquer lugar o mais distante dali.
Vivia em um completo looping paranoico, na verdade continuo vivendo, juro que tento relaxar, tento ser o mais normal possível até por que ser diferente acaba chamando mais atenção do que deveria, mas é difícil quando se tem sempre aquele sensação de que o perigo esta ali a espreita, esperando somente um movimento em falso para se aproximar e dar o golpe.
Pronta, refaço as armadilhas das janelas e portas tomando o máximo de cuidado para não cair em uma delas. Uma das poucas vantagens de se morar nesse lugar são as varias opções de fuga fornecida e a péssima situação do local. Graças ao velho piso de tacos do corredor, era possível montar pequenas armadilhas, armadilhas que possibilitariam que ouvisse qualquer pessoa se aproximando do pequeno e solitário corredor em que se encontrava meu apartamento.
Subir todos os seis andares de escadas não era algo fácil quando se estava exausta do trabalho, havia dias que sequer levantar os pés para subir os degraus era um enorme sacrifício, mas tudo valia a pena somente pelo alivio de ser ter vários opções de entrada e saída, de saber que não estava encurralada como um bichinho assustado.
Saio do prédio por uma das saídas traseiras, todos dia uma rota diferente, nenhum padrão, nada que pudesse ajuda-los a me encontrar. Me mantenho alerta, sempre, mas faço questão te mostrar uma despreocupação que não existe, como se fosse somente mais uma jovem andando pela cidade sem qualquer problema na vida.
Quando deixei tudo para trás, pensei que enfim estaria livre, mas como se libertar sabendo tudo que sei? Vivendo tudo que vivi? O medo passou a ser algo dentro de mim, não uma sensação mais algo incrustado, tatuado, tão parte de mim como o sangue que circula em minhas veias.
As vezes me pego imaginando como seria minha vida se tudo fosse diferente, se tivesse me livrado disso tudo mais cedo, se tivesse conseguido fugir com mamãe, se tivessem nos ajudado na primeira vez que chamaram a policia, tantos "se" que não levam a lugar algum só a uma enorme magoa e tristeza, um golpe profundo em meu coração que as vezes me toma o ar tão fortemente que só consigo pensar em como conseguir ficar de pé novamente e por que não me entregar a escuridão de uma vez. Mas prometi a mamãe que nada disso seria em vão, seu sacrifício não seria em vão, eu lutaria, seria feliz e me vingaria de todos.
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Confinada
RomanceAriela nunca conheceu o lado bom da vida, desde que nasceu sua vida vida foi banhada em trevas, medo, escuridão. A única fagulha de felicidade e amor vinha de sua mãe, que lutava bravamente todos os dias para mantê-la segura e feliz por mais que iss...