Já fazia algumas horas que me remexia na cama sem conseguir dormir, a reunião de hoje havia sido pior que as últimas, parecia que nunca chegaríamos a um consenso. Metade das pessoas estavam divididas entre apostar todas as nossas fichas e investir forte na festa da fraternidade enquanto a outra estava esta com medo de ao apostar todos os recursos em um único lugar poderíamos estar deixando várias possíveis vítimas desprotegidas, facilitando a vida do sujeito.
Eles não estavam completamente certos, mas também não estavam errados, era um situação difícil, ainda mais quando não se tinha todas as informações sobre o plano, me sentia mal em esconder certas coisas vitais de todos ali, por mais que não os conhecesse eles estavam doando seu tempo, bem estar e até a própria vida em prol da segurança não só de suas mulheres, filhas e amigas, mas de várias estudantes e habitantes desconhecidos da pequena cidade.
Porém por maior que fosse meu desconforto, não confiava em nenhuma daquelas pessoas e somente por isso engolia esse mal estar na boca do estômago sempre que pensava em quão ruim poderia ser enfiá-los no meio de tudo isso sem toda a verdade, sem que saibam que eu sou a vitima, sou o grande e tão esperado prêmio que o assassino não vê a hora de colocar suas mãos imundas — somente esse pensamento me faz estremecer.
Eu confiava em Miguel, sabia que ele e Erik passaram todas as horas possíveis planejando, visitando as redondezas do local da festa, analisando pontos fortes e fracos e dando o seu melhor para criarem um plano sem qualquer chance de erro, mas Miguel estava certo, a área era muito mais vantajosa para uma fuga do que para um cerco.
Meus pensamentos se silenciam no momento que ouço o barulho de algo se quebrando dentro do apartamento, me levanto silenciosamente da cama, abrindo a porta o mais delicadamente possível seguindo até a sala pé ante pé em busca de Miguel, se eu ouvi o barulhoi ele com certeza também tinha ouvido, será que alguém... paro abruptamente ao ouvir Miguel amaldiçoando enquanto se abaixava rapidamente
— Miguel? — Chamo confusa, assim que ouve minha voz seu corpo se tenciona. Me aproximo querendo saber o que aconteceu, mas ele me impede.
— Fique ai Bela, tem caco de vidro por todo o lugar — diz olhando meus pés descalços, mas só consigo enxergar o sangue escorrendo por sua mão como uma pequena cachoeira.
— Sua mão, o que houve? — Ignoro sua carranca e me aproximo desviando dos enormes cacos no chão. Pego delicadamente sua mão cortada levantando-a para que diminua o sangramento ou pelo menos esperando que isso aconteça.
— O que tá acontecendo? — Ele desvia o olhar — Fala comigo. — repito apertando levemente seu braço, chamando sua atenção. Uma sensação inquietante me toma ao perceber o quão estranho era essa troca de papéis, eu fazendo a pergunta que ele tantas e irritantes vezes fez a mim e eu ignorei, e agora eu me achava no direito de obrigá-lo a me dizer o que estava acontecendo. Hipócrita! Isso era o que eu era nesse momento, mas Miguel não era como eu, ele nunca se privou de falar o que sente, nunca se escondia, sempre foi sincero, honesto, algo estava errado eu podia sentir e não gostava disso, desse Miguel fechado, se esquivando de perguntas, de mim, de me olhar...
Miguel tenta se afastar, mas seguro firme seu braço, sei que se ele realmente quisesse poderia se livrar do meu aperto facilmente, mas no fundo sabia que não o faria.
— Não é nada Bela. Desculpa ter te acordado — passa a mão livre por seu rosto cansado. Olhando atentamente seu rosto, percebo pela primeira vez o quão pálido estava, olheiras enormes trazendo um ar exausto ao seu rosto, as brilhantes safiras de seus olhos opacas, sem vida. Há quanto tempo ele não dormia? Como não havia reparado em todo esse cansaço antes?
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Confinada
RomanceAriela nunca conheceu o lado bom da vida, desde que nasceu sua vida vida foi banhada em trevas, medo, escuridão. A única fagulha de felicidade e amor vinha de sua mãe, que lutava bravamente todos os dias para mantê-la segura e feliz por mais que iss...