Quase dois anos depois...
Tudo estava muito quieto, silencioso de mais para que conseguisse me acalmar, algo estava errado e o pior de tudo era que eu não sentia nada vindo. Ja faziam meses que aquela sensação incomoda sob minha pele havia desaparecido, aquela sensação que sempre me ajudou, me manteve alerta e me salvou mais vezes do que poderia contar. Ela simplesmente havia desaparecido e com isso se instalou esse silencio, essa quietude que estava me matando aos poucos. Uma coceira silenciosa e incomoda sob minha pele.
Parte de mim queria acreditar que finalmente consegui despista-los, que toda o esforço, todas as lagrimas, a dor e os sacrifícios feitos tinham valido a pena, cada um deles por mais triste e devastador que tenham sido haviam me feito chegar até aqui, a conquista da liberdade que tanto sonhei, da chance de finalmente viver, conhecer o mundo...
Juro com todas as forças do meu ser que queria acreditas nisso, que finalmente seguiria em frente deixando o passado para trás, tudo antes desse momento seria uma enorme cicatriz em minha alma mas somente isso, nada alem disso, uma marca, um símbolo do que passei e do que aquilo me tornou, mas... não consigo.
Aquela voz familiar dentro da minha mente não deixa, qualquer deslize de minhas barreiras ela grita aos quatro ventos o quanto estou sendo imprudente, o quanto essa sensação de liberdade é falsa, que tudo faz parte de algum plano sádico daqueles malditos amigos de papai.
A cada dia, a cada ínfimo barulho, a cada estranho sombra pelo caminho minha mente parecia se quebrar, era impossível fugir da paranoia, não estar sempre atenta, escondida, invisível...
Eu estava tão cansada de tudo isso, cansada de nunca poder relaxar por um momento, aproveitar o por do sol ou as noites estreladas que tanto amava, casada de não conseguir uma noite tranquila de sono, me sentindo um cachorro sempre alerta aos invasores de sua casa, cansada de todos os dias o corpo enrijecer a qualquer barulho, cansada de estar sempre bolando planos, analisando os lugares que vou, que entro, arquitetando todas as formas possíveis de fugir dali caso fosse preciso mas o que mais tem me tirado as forças é o fato de que estou cansada de ficar sozinha.
Não me restou ninguém, pensar em se quer deixar alguém entrar em minha vida me tira o ar. Sabia que qualquer pessoa próxima a mim corria riscos de mais, fazer parte da minha vida era algo perigoso e não poderia fazer isso com ninguém, é injusto colocar qualquer pessoa que seja em perigo sem que ela soubesse de tudo, sem que soubesse onde esta se metendo.
As vezes me pergunto se realmente vale a pena lutar por tudo isso. Uma luta dura e cruel para um fim solitário.
Realmente odeio dias como esses, dias em que caio em uma eterna divagação, dias onde estou tão exausta e quebrada por dentro que preciso reviver tudo para me fazer lembrar de por que apesar dos pesares valia a pena continuar.
Dor, lagrimas e fúria foram o que me guiaram até aqui, minha vida nada mais era que pura trevas e escuridão, mas nem sempre foi assim, já tive luz em minha vida, uma luz tão brilhante que chegava a cegar. Uma luz repleta de amor, carinho e gentileza, uma luz que durante longos anos afastou as trevas o máximo que pode, mas não foram anos suficientes, a luz se apagou cedo de mais e a escuridão se aproveitando disso invadiu, dominando e por mais que tenha desolado tudo ainda conseguia sentia bem ali no fundo do meu peito, pequeno, fraco, porem vivo minúsculo grão de luz, se segurando, lutando, se recusando a deixar as trevas dominarem.
Não me importava onde morávamos, as poucas coisas que tínhamos, a escola em que estudei ou se quer a cidade, nada disso me fazia derrubar uma lagrima de saudade ou dor, mas perder mamãe foi devastador, a dor e a culpa seriam algo tatuado para sempre em minha alma. Se não bastasse essa dor, logo em seguida perdi a valente senhora que me acolheu em um momento tão dificil, onde me encontrava machucada, perdida, queimando em ódio e dor, mesmo assim ela viu um reflexo de si mesma em mim e se arriscou por um completa estranha. Nunca soube seu nome, somente a chamava de Nana assim como os outros, ela fez de tudo para me ajudar, me ensinando a me esconder, a ter uma chance de viver, chance que lutou anos para ter e quando finalmente conseguiu acabou prematuramente, graças a mim. Outra perda que ficaria para sempre enraizada em mim.
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Confinada
RomanceAriela nunca conheceu o lado bom da vida, desde que nasceu sua vida vida foi banhada em trevas, medo, escuridão. A única fagulha de felicidade e amor vinha de sua mãe, que lutava bravamente todos os dias para mantê-la segura e feliz por mais que iss...