Capitulo 4 | Perdas e ganhos

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Acordo desnorteada, o corpo doendo e um cheiro sufocante de fumaça, tento me levantar mas sinto as pernas fracas de mais para suportarem o peso do meu próprio corpo. Vou me arrastando até a parede mais próxima, ainda sem entender o que estava havendo, quando minha visão finalmente se estabiliza percebo a cena caótica que havia transformado o que um dia foi meu lar.

Alerta começo a me arrastar pelo chão tentando procurar minha mãe, a fumaça atrapalha um pouco a ver o caminho por isso vou me arrastando cegamente. Paro abruptamente sentindo algo viscoso entre meus dedos, meu corpo inteiro treme, se retesa com o medo.

_ Não por favor! Não pode ser – resmungo baixinho tentando fazer com que meus batimentos cardíacos e minha respiração voltassem ao normal.

_ Não meu Deus eu te imploro.. por favor.

_ Mãe! - grito tossindo com a fumaça que fica mais e mais forte. – Mãe!

Começo a engatinhar novamente, tateando a enorme poça viscosa tentando contorna-la, sem conseguir ver uma saída me levando aos tropeços e saio mancando me apoiando nas paredes, entrando no que um dia foi nossa sala. Mal chego a porta do cômodo e caio de joelhos com a cena a minha frente, viro meu rosto rapidamente e ponho tudo que estava em meu estômago para fora.

Ali no meio da sala estava o corpo de papai, ou o que um dia fora ele, seu corpo era um caôs, sangue o cobria por toda parte e bem ao seu lado podia-se ver suas mãos decepadas de seu corpo e o que parecia ser sua língua jogada bem ali ao lado de seu rosto, rosto que agora se encontrava desfigurado assim como o de mamãe ja havia ficado tantas vezes.

Luto contra a anciã e tento me concentrar, tentando ao máximo não focar em tamanha brutalidade, mas era difícil, que diabos havia acontecido ali?

_ Mãe! – grito com o máximo de força que consigo, o desespero vai tomando conta de mim a medida que o tempo passa e não a encontro. Se fizeram isso com papai... oh Deus... não por favor.

Ignoro minha dor e continuo gritando, me arrastando pelas paredes procurando-a, o fogo começa a aumentar, fazendo a casa produzir vários sons de estalos, aquilo não era bom, precisava encontrar mamãe rápido.

Tropeço em uma enorme viga, caindo com tudo no chão, respirar se torna cada vez mais difícil, em breve a casa será tomada pelas chamas e eu não conseguirei sair, talvez seja esse o propósito de tudo isso, finalmente teríamos nossa liberdade, de uma forma torta mas teríamos.

Assim que ia me levantar vejo o corpo de mamãe caído, inerte, tento correr o mais rápido possível ate seu corpo e me jogo de joelhos ao seu lado.

_ Mãe? Por favor mãe fala comigo. Acorda! Você não pode fazer isso comigo! Você não pode me deixar aqui sozinha - choro sacudindo seu corpo. – Por favor mamãe volta pra mim. Volta! - grito enterrando meu rosto em seu peito.

Mamãe começa a tossir incontrolavelmente devido a fumaça, deito seu corpo no chão e começo a abanar a fumaça para longe, sei que é um gasto de energia em vão mas não custa tentar. Assim que parece recuperar totalmente os sentidos mamãe me olha assustada e começa a chorar.

_ Ah minha filha! Eu sinto tanto... - chora copiosamente. Me jogo ao seu lado e a puxo para meu colo, a abraçando e acalmando-a.

_ Se acalma mamãe, não chora por favor. - tento conter as lagrimas que insistem em cair. – Nos vamos sair daqui, você consegue andar? – Ela maneia a cabeça afirmativamente.

Me levanto com dificuldade, ignorando todas as dores, firmo meu corpo o máximo possível e começo a ajudar mamãe a se levantar e apoiar seu corpo sobre o meu. Começamos a andar, tento pensar em algum caminho alternativo para fugirmos daquela cena grotesca do que um dia havia sido papai, mas infelizmente só havia uma saída daquele cômodo. 

ConfinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora