Destinatário: Bae

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Boa leitura.

Remetente: Lizz

Destinatário: Bae

Despedidas doem, principalmente quando você não quer partir.

Eu não quis dizer adeus ao meu neto, à minha melhor amiga ou à minha vida, mas aprendi que deixa-los ir, dói muito menos do que lutar.

Todos têm sua hora e, mesmo que não fosse o dia da minha morte, algo em mim morreu naquela noite.

Passei muitos anos da minha vida negando meu destino. Não como libélula, isso não, mas como ser humano. Sempre foquei muito no fato de ter sido a escolhida para representar a força e a bondade de uma libélula, ser privilegiada a ter uma vida infinita, e repleta de histórias.

Eu seria eterna, mas acabou que contei tanto com esse detalhe que esqueci de viver, de amar, de sentir. E quando os primeiros sinais de mediunidade começaram a se manifestar e precisei de alguém para confiar, percebi que estava sozinha. Eu era eterna, diferente das pessoas à minha volta.

Sentir a perda de quem amamos é a mais dolorosa das dores. Nunca estamos preparados para ver a morte abraçar quem amamos. Mas quando ela os abraça, é como se pudéssemos sentir os braços gélidos em torno de nós, como se milhares de facas fossem cravadas em nossos corações.

Eu já senti essa dor.

Quando meu marido faleceu, foi doloroso, e suas palavras antes de me deixar estarão sempre guardadas no meu peito: ''Você é a luz que iluminou a minha alma dolorosa. Seu sorriso minguante sempre foi o meu lugar preferido, e seus olhos cor de mel me fazem esquecer e anular qualquer tipo de dor e angústia...''.

O amei desde a primeira troca de olhares, aprendi com ele tudo que ensinei ao Jungkook, deixei meu amor vivo nas memórias do nosso neto mesmo que de forma oculta. Mas meu principal erro foi não ter sido uma boa mãe para o meu único filho. Ele ter me abandonado e tirado meu potinho de felicidade de mim, foi castigo por não ter sido o que ele precisava. E, mesmo assim, nada doeu tanto como ter que esquecê-la.

Dizem que as pessoas mais sortudas são as que encontram suas metades, mas também são as mais sofridas, já que o destino nos impõem uma distância.

Meu destino me obrigou a viver longe. Sei como dói.

Ela sabe como dói.

Transferi para ela minhas memórias, com o intuito de aquecer seu belo coração, mas amargurei o meu ao arrancar de mim o que mais amei em toda a minha mísera vida.

Cada dia longe é como se o destino jogasse sal em minhas feridas abertas, a costurassem e rasgassem novamente. Dia após dia. O jeito brutal que o tempo vai roubando minhas memórias, como forma de pagamento, as trancafiando em algum lugar de seu limbo espacial me proporciona mesma sensação torturante. E de novo, e de novo, e de novo.

" - Mesmo que não me veja, estarei aqui. Mesmo que não me ouça, chamarei por ti. Mesmo que não se ame, te amarei por ti. O universo é infinito, assim como meu amor por você.", tal frase é a chave para minhas memórias, trancafiadas mas jamais esquecidas, sempre guardadas no fundo de meu interior.

Eu fui o clichê da minha época.

A forma como a pertenço é tão nítido, de maneira que nunca pertenci a ninguém. Ainda sinto o calor retumbante em meu peito, da mesma forma que senti da primeira vez, quando coloquei meus olhos nela.

E depois de anos... Estou aqui agora, olhando para minha outra metade. Mesmo que em planos diferentes, tecnicamente.

Ah, Baeghab... Quanto tempo.

M O O N D U S T - Jjk + PjmOnde histórias criam vida. Descubra agora