TU TEM QUE REAGIR

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Eu estava sozinha no centro de São Paulo. Eu não sabia as horas, estava sem celular, sem relógio, mas pelo nulo movimento das ruas devia ser madrugada. Andei sem rumo até ter a impressão de que alguém me seguia, eu vi sombras no chão. Meu coração disparou. Apertei o passo, quase correndo. A falta de ar dominou meu corpo, comecei a sufocar. Sombras e mais sombras vinham atrás de mim. Corri, o mais rápido que eu pude. Desci as escadarias do metrô e fui em direção a plataforma de embarque. Não havia trem na estação, mas fui em direção à beirada, como se eu fosse embarcar. Minhas pernas não paravam de correr e não obedeciam aos comandos do meu cérebro. Caí no vão do metrô e gritei. Escutei alguém chamar meu nome ao longe, mas a dor impedia meus movimentos.

- Madah, madah, madah! - Acordei grudada na cama, suando, coração disparado. Era a voz do Luca. Demorei a abrir os olhos. Tive medo de não ser um pesadelo. Quando abri vi um Luca assustado, me segurando pelos braços. - Madah!

- Oi. - Eu resmunguei baixinho.

Minha rotina agora incluía pesadelos e confusão mental. Eu perdi um pouco a ideia de tempo e espaço. Não sabia ao certo quanto tempo havia se passado desde que o Arthur foi embora.

- Vamos levantar, vai. Eu vim de Bento Gonçalves, a Bruna me ligou. - Ele disse em meio a escuridão do quarto. Não dava pra ver se era dia ou noite.

- Não, eu não tenho forças. - Respondi.

- Você vai tirar de onde não tem e vai levantar. Vem! Eu te ajudo. - Ele puxou meus braços e me sentou.

- Não, me deixa! - Eu choraminguei.

- Vem, você vai tomar um banho e vamos ao médico. A Bruna está fazendo uma sopinha pra você. - Me joguei de volta na cama, cobrindo a cabeça com as cobertas.  - Madah, você quer perder seu bebê? - Pra falar a verdade eu tinha esquecido do bebê, parecia um sonho bem distante. Eu nem sentia mais os enjoos, a dor do meu corpo sobrepôs todos os sintomas da gravidez. - Quer? Me responde. - Olhei pra ele assustada. Por que estava sendo duro comigo?

- Claro que não. - Eu disse chorando.

- Então você vai comer, vai tomar um banho e vamos pro médico. Você tem que cuidar do seu filho.

- Eu não tenho forças.

- Tem. Eu te ajudo.

- Convenceu ela a comer? -  A Bruna entrou no quarto. Ela trazia uma bandeja, como muitas outras vezes nos últimos dias.

- Ainda não, mas vou. Me dá essa bandeja aqui. - Luca pegou a bandeja das mãos dela. Não ousei dizer nada, ele estava bravo e eu não conseguia discutir.

- Talvez ela coma com a notícia que eu tenho. - Bruna sorriu levemente, querendo que eu ficasse curiosa e me fisgou, claro!

- Fala logo. - Eu falei baixinho.

- Come primeiro. - Ela me chantageou.

- Não. Tá falando sério? - Eu choraminguei.

- Claro. Come pelo menos a metade da sopa que eu conto.

Ela esperou pacientemente. Eu forcei o máximo que pude, meu estômago doía demais, mas consegui comer o suficiente para ela se convencer a me contar.

- Tá bom já, né? Prometo que daqui a pouco eu como mais um pouco. Meu estômago dói muito. - Minha voz ganhou até um pouco de força.

- Ta bom, ta bom! - Ela sorriu. - O juiz liberou a guarda compartilhada do Art e regularizou as visitas. - Eu levantei rápido, o que me deu um pouco de tontura.

- Calma Madah, você tá há 3 dias nessa cama sem comer, está fraca. Vai com calma. - Luca se preocupou. Eu o ignorei e continuei falando.

- Então ele vai poder voltar pra cá? Ficar perto de mim?  - Eu me animei.

TEMPO, TEMPO, TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora