A chuva havia cessado e um mormaço tímido entrava pela janela do banheiro. Pensei em almoçarmos fora. Eu poderia mostrar a cidade para o Filipe e passaríamos o dia, talvez a semana juntos, mesmo que ainda tenhamos muitas dúvidas pairando no ar...
Ele queria voltar para o Sul ou queria ficar aqui? O que aquela noite significou para nós dois? Por que eu tinha tanto medo de contar sobre a bebê? Era certo ter feito amor com ele, enquanto eu omitia algo tão importante, uma filha? O que ele sente por mim? Como eu me sentia sobre o beijo que ele deu na Clara?
Eu, sinceramente, não queria respondê-las naquele momento. Eu só queria sentir aquela felicidade, por um dia que fosse.
- Mamãe, mamãe! - Escutei o Art entrar no quarto.
Por que ele estava me chamando? O Filipe estava com ele na sala. Desliguei o chuveiro e me enrolei rápido na toalha. Ele colocou a cabeça na abertura da porta.
- O papai deixou esse papel.
- Como assim filho? Cadê o papai? - Perguntei preocupada.
- Foi embora.
Saí do box molhando o banheiro todo e peguei o papel das mãozinhas dele. As minhas lágrimas se confundiram com a água do banho, manchando o papel.
Me enxuguei, vesti a primeira roupa que vi e bati no apartamento da Bruna.
- Espera aí! Me explica desde o início, porque não estou conseguindo acompanhar. - Bruna pediu, parecia agitada com o bilhete do Filipe nas mãos.
- Fala baixo, Bruna! O guri ouve tudo. - Eu pedi sussurrando.
- Relaxa, ele está vendo desenho e eu coloquei o volume bem alto.
Contei pra ela o que tinha acontecido. Ela parecia incrédula e fazia perguntas pontuais, estratégia que sempre usou para que eu contasse tudo nos mínimos detalhes.
- Vocês complicam demais as coisas. - Ela disse frustrada.
- Eu não. Eu ia conversar com ele sobre o futuro, sobre o que essa noite juntos significou e eu queria voltar. Queria muito. - Minha voz estava fininha e involuntariamente fiz um beicinho triste.
- Você não complica, Madah? Você está escondendo que ele é o pai da sua filha. - Eu olhei pra baixo envergonhada.
- Eu sei, mas ele vai me odiar quando souber. Ele mesmo disse que não ia me perdoar. E eu simplesmente não estou conseguindo lidar com esse fato agora.
- Uma hora vai ter que lidar. - Eu desviei do assunto da bebê.
- O que você acha, Bruna? Será que ele foi embora por que eu não falei nada quando ele me contou sobre o beijo? Ele hesitou um pouco antes de ficarmos juntos. O que isso quer dizer? Eu pressionei demais. - Eu despejei um monte de perguntas em cima dela, choramingando.
- Sabe o que eu acho? Ele foi embora cheio de culpa, vendo que de certa forma você está feliz com a sua nova vida e ele não quer atrapalhar. Pelo menos é o que está escrito aí no bilhete. Quis deixar o caminho livre pra você ser feliz do jeito que preferir.
- Como você conseguiu tirar tanta informação de um bilhete? De mais a mais, por que ele atrapalharia? É claro que eu tô muito feliz com o que eu conquistei, mas eu queria o amor dele também.
- Ele não sabe disso e ainda está achando que você ficou com o irmão dele e pior, que está esperando um filho. Vocês ficam omitindo o que sentem, agora estão os dois nessa situação, enquanto poderiam estar juntos e felizes. - Pra ela era tudo tão óbvio. Ela deu de ombros.
- Como?
- Assume logo que você ama esse homem.
- Pra que? Pra ser rejeitada de novo? De jeito nenhum. Se ele me amasse, estaria aqui agora. - Ela revirou os olhos.
- Ele te ama. - Eu fiquei pensativa, duvidando.
- Você até pode ter razão Bru, mas eu também cansei de ficar atrás do Filipe e não ter valor. Eu sofri muito com esse jeito omisso dele enquanto éramos casados.
- Você sabe o que faz, amiga, mas tenho até uma prova desse amor.
- Qual?
- Ele deixou o Arthur. Preferiu ficar longe do filho a te ver sofrendo mais. - Fiquei pensativa, imersa em meus pensamentos.
- Amiga! - Bruna chamou minha atenção. - Seu telefone está tocando.
Olhei para a tela do celular.
Gi amiga.
Essa descrição não representava a realidade. "Amiga". O que ela queria depois desse tempo todo? Depois de ter me excluído da sua vida e ignorado todas as minhas ligações e mensagens? Será que tinha acontecido alguma coisa com o Filipe?
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
عاطفيةAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...