Um aceno. Um sorriso triste. Nossa última lembrança um do outro. Ele se esforçou tanto pra fazer as pazes comigo e com o Filipe antes de partir. Principalmente comigo. Eu precisava me despedir do meu amigo. Fui pra casa em silêncio com a Bruna.
Pedi que ela gravasse o encontro do Art com a irmã. Naquele momento eu estava destruída, pela dor. Dor que tirou o Luca de nós, o meu marido da alta da nossa filha do hospital e até a alegria de trazer minha pequena pra casa. Eu não ia deixar tirar a felicidade do Arthur em conhecer a irmã. Eu queria ter essa lembrança e quem sabe um dia ela seria mais feliz.
Abri a porta bem devagar e coloquei a cadeirinha no chão. Ele veio correndo e pulou nos meus braços. Não contive a emoção.
- Mamãe, eu estava com muita saudade! - Ele disse chorando. Me esforcei pra segurá-lo nos braços. Ele soluçava. Nunca tinha ficado tanto tempo longe de mim ou do Filipe. Parecia tão magoado e isso cortou meu coração.
- A mamãe está aqui, filho. Estou com muita saudade também. Eu sinto muito. Pensei o tempo todo no meu gurizinho. - Fiquei acariciando seus cabelos até que se acalmasse. - Você quer ver sua irmã? - Ele fez que sim com a cabeça, esfregando os olhos vermelhos de tanto chorar. - Me dá a mão, vamos sentar no sofá. - Ele obedeceu enquanto olhava curioso pra bebê. - Oi Vera! Tudo bem por aqui? - Eu tentei dar um meio sorriso pra ela.
- Oi dona Madalena! Tudo bem. Ele só estava sentindo muito a falta de vocês, mas comeu bem, brincou e a noite dava um trabalhinho, mas acabava dormindo.
- Agora a mamãe tá aqui né filho? - Acariciei seus cabelos. - E não precisa me chamar de Dona Madalena. - Eu dei um sorriso sem graça. - Só Madah.
- Oi de novo, Vera! - Bruna cumprimentou enquanto colocava as minhas coisas e da bebê na mesa da sala.
- Oi filha! A mamãe vai tirar você da cadeirinha. - Eu disse enquanto desabotoava o cinto. A Bella resmungou um pouquinho.
- Ela vai chamar de mamãe também? - O Art perguntou desconfiado.
- Vai, meu amor. Tu e ela são meus dois filhinhos. Mas ainda vai demorar um pouco, ela é muito pequeninha pra falar. - Quer segurar ela?
- Uhum. Eu vou ajudar a cuidar dela né, mamãe?
- Isso mesmo, vai ajudar muito a mamãe. Agora vai lá lavar as mãos com a tia Vera, pra poder pegar sua irmã.
- Tadinho, tanta coisa aconteceu em três dias. Vocês nem puderam se preparar pra chegada da bebê. - A Bruna concluiu. - Mas não se sinta culpada, daqui a pouco as coisas se acertam, tá amiga? - Parecia que a Bruna lia meus pensamentos.
- Eu preciso me despedir do Luca. - Fiquei ninando a Bella e ela me olhou com olhar questionador, mas não deu tempo de perguntar.
- Mãe, mãe! Pronto, lavadinha minha mão. - Arthur veio correndo. Pisquei o olho pra Vera em agradecimento.
- Senta aqui então. - Ele sentou e deixei ele pegar a irmã, não sem me emocionar. A Bruna tirou algumas fotos, filmou. Me impressionou a delicadeza do Arthur com a irmã. Ele estava encantado.
- Dona Madalena... Desculpa. - Vera começou a falar e parou. - Madah, eu fiz um almoço pra vocês. Devem estar com muita fome. Fiz salada, Strogonoff e arroz. Ah lavei e passei todas as roupinhas do bebê, desculpa eu ter mexido, mas achei que iria ajudar, já que estava tudo embalado no seu guarda-roupa ainda.
- Era o que eu precisava, Vera. Você foi um anjo. Comida de casa e as roupas da minha filha prontinhas pra usar. Obrigada. Eu vou amamentar a bebê, está na hora, mas queria que você arrumasse as roupas do Arthur, naquela mala grande. As da bebê nas malas de maternidade. Quando a bebê dormir eu vou arrumar as minhas. Pega aquela minha garrafa de água também, por favor. Filho, a Bella está com fome, tá bom? Depois você segura ela mais um pouco. - Peguei a bebê dos braços dele.
- Madalena, eu não tô acreditando. - A Bruna estava chocada.
- Se eu não conseguir embarcar com a bebê no avião, você vai dirigir Bruna. - Eu completei.
- Amiga, você não vai conseguir, tua filha tem 2 dias. Você está louca, só pode.
- Que dia vai ser... O enterro? - Eu perguntei baixinho.
- Não vou te dizer. - Fiquei emburrada.
- Eu vou contratar um Uber. - Ela ficou pensativa. Pegou no celular e ligou pro Filipe.
"Filipe, pelo amor de Deus. Coloca juízo na cabeça da tua mulher. Ela quer sair daqui pra ir pra Bento Gonçalves! Eu achei que contando pra ela do Luca, ela iria entender e seria compreensiva. Não queria que ela ficasse com mais raiva de você, mas parece que ela está fora de si."
Eu revirei os olhos. Não consegui ouvir o que o Filipe dizia e a Bruna repassou o telefone pra mim.
- Ele tem razão, não era pra eu ter te contado. - Ela concluiu triste.
"Madah, pensa na Bella. No avião o bebê precisa ter mais idade e de carro é uma viagem muito longa. Pra você e pra ela."
"Eu quero me despedir do Luca. Eu vou de qualquer jeito. Já decidi."
"Então deixa a Isabella e o Arthur com a Vera." - Ele falou sério.
"De jeito nenhum. O Arthur está super sentido e eu quero amamentar nos...minha filha." - Eu corrigi rapidamente, rezando pra ele não ter percebido meu erro. Agora eu até estava decidida a contar, mesmo que ele me odiasse e resolvesse se separar, mas não era a hora. Eu tinha que esperar o luto pelo Luca passar. - "Não vou dar fórmula de jeito nenhum."
"Eu não queria que você perdesse o foco, por isso omiti. Mesmo doendo tanto, eu tentei te proteger e proteger nossos filhos."
"Não tinha como me proteger dessa dor." - Eu conclui, chorando.
"Não tinha, mas eu tentei, porque eu te amo." - Ele disse desanimado.
"De mais a mais você não quer que eu vá por ciúmes e por causa da sua família."
"Tá bom, Madalena, então é isso." - Ele ironizou, irritado.
Silêncio. Nenhum dos dois falou por longos instantes, mas ele não desistiu de me convencer.
"Só me escuta, por favor. Nós dois estamos magoados, é um momento muito difícil. A nossa família está muito abalada. Eu te entendo, mas o que você está querendo fazer não tem cabimento." - Ele falou e se emocionou ao falar no Luca. "O Luca se foi, mas a filha de vocês está aqui e precisa de você agora."
"Para de repetir isso, por favor."
Desliguei.
- Você vai, Bruna? Não podemos perder muito tempo.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomansaAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...