SEU BEIJO TEM GOSTO DE CHUVA

678 20 28
                                    

Fui para o banho, mas eu estava parecendo uma adolescente. Depois de meses ELE estava sentado na minha sala e eu não sabia o que fazer ou falar, o que vestir. Pela primeira vez desde que nos separamos ele não tinha uma expressão de raiva ou mágoa. O que me deixava feliz e ao mesmo tempo com medo de contar sobre o bebê. Aquela era minha chance! Mas ele iria me perdoar por ter omitido essa gravidez por tanto tempo? Ele estava realmente namorando aquela guria?

Qualquer um diria que gastei o chão do quarto de tanto andar de um lado pro outro. Experimentei uma infinidade de camisolas e pijamas. Desde o mais confortável e velho ao mais sexy, o que na nossa situação seria ridículo. Por fim decidi por uma camisola de malha confortável, mas com detalhes em renda e um robe combinando por cima. Sequei um pouco o cabelo com secador e fui pra sala.

- Oi. Agora sim, apresentável. - Eu falei tímida. Ele estava sentado no sofá e me acompanhou com o olhar enquanto eu ia em direção a cozinha americana. - Quer algo para beber? Tem vinho, suco de laranja, água com gás.

- O de sempre, vinho...

- E uma taça de água com gás. - Eu completei.

- Isso.

- Acho que tenho uma garrafa do nosso, consegui comprar em um restaurante aqui em São Paulo. - Eu falei enquanto abria a adega quase vazia.

- Comprar? Por que não me pediu, guria? Eu trazia de Bento Gonçalves. - Ele parecia surpreso.

- Ahh capaz. Não ia ficar te pedindo vinho. Eu nem tô bebendo.

- Que besteira, eu traria pra você. Quanto você pagou? - Eu ri sem graça, eu tinha pagado uma fortuna.

- 300 pilas.

- Barbaridade. - Ele riu. - Tu sabes que não precisa comprar. - Ele se aproximou devagar, assim como as palavras que saiam da sua boca. - Nós nem chegamos a dividir a sociedade e assinar o divórcio. Está tudo com o juiz ainda, mas não tivemos oportunidade de conversar...

Fiquei acompanhando seus movimentos, mas me calei. Na verdade eu não queria falar sobre esse assunto, porque eu tinha medo, pavor de assinar aquele maldito papel e ficar longe do Filipe pra sempre. O Luca tinha razão, eu o amava e sentia muita falta da nossa relação, só não sabia como voltar atrás.

- Aiií - Senti uma pontada na paleta.

- O que foi? - Ele perguntou. Fiquei esfregando meu pescoço para dissipar a dor. - Deixa que eu abro. - Ele tomou o abridor das minhas mãos e me guiou até o sofá. - Senta aqui vai. Respira fundo. - Eu fiz como ele pediu. - Melhor ir na emergência.

- Não é nada demais. É só tensão. Fiquei muito tempo na mesma posição, dirigindo.

- Tem certeza? - Ele perguntou preocupado.

- Tenho sim. Já vai passar. Sabe aquelas dores na paleta, quando a gente fica muito tempo sentado e tenso?

- Uhum. Eu te faço uma massagem. Se não passar, a gente vai, tá? - Ele se prontificou a me ajudar.

- Pode abrir seu vinho tranquilo. - Eu sorri sem graça, olhei pra baixo, eu estava surpresa com aquela sugestão. Estávamos nos odiando e ele oferece uma massagem?

Ele abriu a garrafa calmamente. Levantou para buscar a taça que eu havia deixado na bancada da cozinha. Serviu um pouco do vinho e sentou no sofá de modo que eu ficasse de costas pra ele. Ele estava levando aquela massagem a sério e eu tinha a sensação de que todo o ar do ambiente havia se dissipado, eu não respirava e ele percebeu.

- Respira Madah! Você tá muito tensa, não faz bem. - Mal sabia ele o motivo da minha tensão. Eu já tinha até esquecido da dor. Ele tomou um gole do vinho e descansou a taça na mesinha de centro.

TEMPO, TEMPO, TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora