O hotel estava em completo silêncio. Como ficava em frente a trattoria eu conhecia bem os funcionários dali. Toquei a campainha de mesa da recepção insistentemente e um guri conhecido veio me atender sonolento e um pouco confuso.
- Madah, quanto tempo. Tu era a última pessoa que eu esperava aqui hoje. Ainda mais essa hora. - Ele bocejou preguiçosamente. - Infelizmente não temos mais quartos. Até aquela guria que trabalha com o Filipe está tendo que dividir o dela com o pai. Sabe como é nossa cidade até março, sempre cheia.
- Ah Fabinho, é com ela que eu vim prosear. Qual é mesmo o quarto? Ela me falou, mas esqueci. - Tentei parecer calma.
- Eles estão no 702. - Ele revelou sem maldade.
- Tu pode anotar um recado pra mim? Acho que não vou incomodá-la agora. Está tão tarde. - Eu fiz uma cara de inocente.
Observei se o elevador estava na recepção. Estava. Era minha oportunidade. Quando ele virou de costas para anotar o recado eu entrei no elevador e fechei a porta rápido. Só escutei os gritos desesperados atrás de mim. Quando cheguei no sétimo andar apertei o botão de emergência, o que fez com que o elevador travasse. Eu tinha bastante tempo para falar algumas verdades pra Clara até o Fabinho, que não estava nada em forma, subir 7 andares de escada.
Toquei insistentemente a campainha do quarto. Quem atendeu foi o pai dela, seu Augusto.
- Menina, você me desculpe a indelicadeza, mas não é mais hora para visitas. - Ele disse firme, mas ao mesmo tempo de forma educada. Eu não me importava com a educação dele. Eu tinha um objetivo claro com aquela visita.
- Muito bom que o senhor esteja aqui! Quero saber o que o senhor acha de gravar às escondidas um casal transando, na sua própria casa, e postar no Instagram e em sites pornô? Muito indelicado, não é mesmo? - Eu debochei e forcei minha entrada na pequena saleta que separava a entrada do quarto.
- Menina, eu não estou entendendo onde você quer chegar. Que assunto é esse? - Ele parecia irritado. Fechou a porta, acho que para que os outros hóspedes não escutassem a confusão iminente.
- Ahh o senhor não sabe né? - Eu me irritei também.
- Pai, quem é? - A tal da Clara veio de lá de dentro e se deparou comigo. - Madalena? O que tá fazendo aqui?
- Ótimo você ter chegado aqui, Clara. - Me coloquei de frente pra ela. - Com que direito você entrou na minha casa e tirou aquelas fotos e vídeos? Se estava com inveja, vou te dar o recado mais uma vez: o Filipe é MEU marido, MEU. Está ouvindo? - O pai dela nos olhava assustado.
- Você fez isso, Clara? - O pai dela perguntou incrédulo.
- Fez sim, Augusto. Eu tenho muito respeito pelo senhor, mas sua filha não presta. O passatempo dela é infernizar minha vida e ficar se metendo entre eu e meu marido. - Eu desabafei.
- Clara? - Ele perguntou, acho que esperando que ela se explicasse.
- Olha, vou dizer uma coisa. A grande modelo e influenciadora Madah Bellini tem talento pra filme pornô. - Ela debochava de mim e eu fervia por dentro. Eu estava com tanto ódio. - Você é vagabunda né, Madalena? Nem sabe quem é o pai da sua filha. - Quando ela disse essas palavras minha mão estalou no seu rosto, tirando sangue da boca. Ela me olhou assustada.
- Esse tapa é pra você aprender a não se meter com a minha família. Lembra bem de como doeu antes de passar perto do meu marido e dos meus filhos. Tu devia ter vergonha de gravar aquele vídeo, sabe por que? Porque ele só prova o quanto a gente se ama e o quanto somos felizes juntos. - No momento isso não era tão certo, mas perante àquela mulher eu ganhei muita segurança. - Você é uma invejosa, queria estar ali no meu lugar, mas nunca conseguiu e nem vai conseguir. Você é podre!
- Você vai se arrepender de ter metido a mão na minha cara. - Ela chorava de raiva, mas quando levantou a mão pra mim, o pai dela conteve sua fúria. - Sua carreira acabou, vadia!
- Você não vai bater na moça, Clara. Está errada, desde o início, eu falei pra você se afastar desse rapaz. Mas nãooo, você cismou de vir morar aqui e grudou nele. Eu sempre fui contra. Não está vendo que eles tem uma família? Que os dois se amam? Que papelão, minha filha. Você me envergonha!
Ela ficou em silêncio. Bateram na porta. Devia ser o Fabinho. No mesmo ritmo que entrei, eu fui embora correndo. Não escutei, mas imaginei as milhões de desculpas que o recepcionista estava despejando em cima deles e as pragas que estava me rogando.
Corri pro carro. O Filipe estava me ligando desesperadamente.
"Madah, onde tu tá? Bah, tô preocupado." - Ele desabafou.
"Saí do hotel agora, fiz o que eu tinha que fazer, coloquei essa invejosa no lugar dela. O pai da dela estava presente, como testemunha de quem é a filha dele. Foi bom!" - Eu concluí com raiva.
"Então vem pra casa, vem. A bebê está com fome, vem!" - Tentei escutar se a Isabella estava chorando. Não parecia. Ele estava tentando me enganar pra eu voltar pra casa.
"Eu tenho um lugar pra ir antes." - Eu soltei a informação e desliguei.
Estacionei em frente a casa da minha sogra e fui entrando.
- Telma! É a Madalena. Preciso falar contigo. - Eu gritei da sala.
- Está louca, Madalena? - Ela veio correndo do quarto, só de hobby. - Vê se isso é jeito de entrar na minha casa.
- Eu que devo fazer essa pergunta... Você é louca? Porque parece. Caso seja, fica o aviso: é melhor a senhora andar na linha, porque senão eu vou pedir uma medida protetiva contra ti e não vai mais poder morar aqui e muito menos ver meus filhos.
- O Filipe nunca ia permitir. - Ela concluiu.
- Experimenta. Eu já não te quero perto dos meus pequenos. Vai ser só mais um motivo. Então põe a mão na consciência, Telma: esquece essa Clara, pede desculpas pro Arthur e pro Filipe. Bah, teu neto está te odiando. Eu não quero isso, mas se eu não sentir um movimento seu pra melhorar eu vou mexer meus pauzinhos. Está avisada! - Ela ficou assustada, não disse nada.
Atravessei o quintal a pé. Gotas enormes começaram a cair e rapidamente se transformaram em chuva forte. Eu me sentia leve, pois em partes minha alma estava lavada.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...