PRA SEMPRE NA SUA GRAVIDADE

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Naquela noite tínhamos fechado a trattoria só para nós dois. Às sextas vinham sendo os dias em que celebrávamos o nosso amor. Chegamos rindo, distraídos, mas havia um homem sentado em uma das mesas. Era o seu Augusto. Sozinho com sua taça de vinho. Há muito tempo não o víamos.

- Seu Augusto, está tudo bem? - Filipe o abordou preocupado. - Quanto tempo!

- Oi meu amigo novo. - Ele parecia triste. Olhar distante.

- Oi meu amigo velho. - Filipe respondeu no mesmo tom.

- Boa noite seu Augusto. - Eu cumprimentei educadamente.

- Oi minha filha. Eu já vou indo. É óbvio que estou atrapalhando. - Ele falou baixinho, parecia sem graça.

- Não atrapalha, de jeito nenhum, janta conosco? - Filipe ofereceu.

- Vocês são o casal que o chef espera? Pelo visto ele está preparando um jantar romântico. - Augusto deu uma gargalhada alta. - Até parece que um casal jovem, apaixonado vai querer jantar com um velho como eu. - Ele parecia melancólico.

- Por favor... - Eu pedi educadamente.

- De modo algum. Vou para o hotel. Se souberem de alguma casa pra alugar...

- Vai morar aqui? - Filipe perguntou.

- Sim, perdi tudo meu amigo, tudo: minha filha, meus restaurantes faliram. Para esse velho aposentado aqui só resta se aconchegar na sua cidade favorita no mundo. - Ele saiu pela porta e um sentimento tocou meu coração.

- Seu Augusto... Por que não aparece qualquer dia pra jantar, na nossa casa? O Filipe cozinha. - Sugeri, porque se eu fosse a anfitriã teria que servir lasanha congelada. Filipe ficou me olhando.

- Obrigado pelo convite, você não imagina o quanto fico feliz em perceber que não tem rancor. Eu apareço sim, nós combinamos. - Ele agradeceu o convite.

- Não é nada mediante ao que fez. O senhor salvou a minha vida e da minha filha. À propósito, temos uma casa pra alugar. - Eu ofereci, afinal estávamos sozinhos naquela vinícola. Seria bom ter companhia.

Ele sorriu e saiu pela porta, a bengala a tira colo.

- Tá falando sério, amor? É muita generosidade sua. - Filipe perguntou incrédulo.

- Claro, é só o que eu posso fazer pra agradecer. Eu gosto dele. Vai ser bom ter alguém por perto e acho que ele tá precisando de uma família, não acha? - Ele riu e me beijou.

- Eu também gosto. Se ele alugar nossa casa não preciso ficar horas falando de vinho contigo. Terceirizo a tarefa para ele. - Eu ri, seria bom dividir com alguém essa tarefa.

- Só tem uma tarefa que você não vai poder terceirizar, sinto muito. - Eu concluí rindo.

- Qual? - Ele não entendeu.

- A de pai de 3. - Eu disse com uma cara sapeca e mordi os lábios.

- Bah, tá falando sério? - Ele ficou sério de repente.

- Uhum. - Ele me beijou, me abraçou e ficou me sacudindo no ar. - Amor, eu tô enjoada, me coloca no chão. - Eu pedi rindo.

- Desculpa, amor, mas eu sou o mais feliz dos homens. Eu te falei que na hora certa ia acontecer... Por isso tu ficou com aquele papo hoje a tarde, de que não sabia se ia me acompanhar no vinho. - Ele balançou a cabeça e me beijou mais uma vez.

- Não quer saber se é menino ou menina? - Eu perguntei.

- Tu já sabe? - Eu balancei a cabeça afirmando que sim.

- Eu já tô de 4 meses e não desconfiava, correria de trabalho, as crianças. Eu passei mal, fiz o exame e pela idade gestacional já dava pra fazer a sexagem fetal logo depois. - Eu expliquei.

- Fala logo. - Ele pediu. Eu abri a bolsa e entreguei o exame pra ele. Ele ficou olhando pro papel sem dizer nada. Estava emocionado.

- Eu te amo. Eu te amo. Te amo. Independente do resultado que aparecesse aqui, mas eu acho perfeito assim. - Me abraçou e não parecia querer soltar. - Nossa! O Art vai ficar muito feliz. A Bella não sei, vamos ver. Como a gente vai chamar ela? - Ele perguntou.

- Não sei, mas lembra que tínhamos dois nomes pra menina quando eu estava grávida do Art? Isabella e qual era o outro? - Eu tentei me lembrar.

- Era Antônia. - Ele lembrou imediatamente. Era esse o nome da nossa filha, Antônia, inestimável. Uma lágrima caiu do meu olho.

- Ela já estava escrita nos nossos planos há muito tempo. A gente só tinha dois nomes pra menina. Menino era só um, Arthur. - Eu disse emocionada.

- Estava! As nossas filhas estavam nos planos há muito tempo. - Ele acariciou a lateral do meu rosto e eu fiquei mexendo a cabeça na direção da mão dele. Curtindo o carinho. - Dança comigo pra comemorar? - Ele convidou.

Ele foi no caixa, conectou o som ambiente ao celular. Me puxou pra dançar, uma música familiar, a nossa música. Eu fiquei imersa naquele abraço e naquela letra.

"Something always brings me back to you
It never takes too long
No matter what I say or do
I'll still feel you here
Until the moment I'm gone"

- Promete que algo sempre vai nos trazer de volta um pro outro? E que nunca vai esquecer dessa música e de nós dois? - Ele pediu no meu ouvido.

- Prometo. Eu te amo. - Eu sussurrei.

"You hold me without touch
You keep me without chains
I never wanted anything so much
Than to drown in your love
And not feel your rain

Set me free, leave me be
I don't want to fall another moment into your gravity
Here I am and I stand so tall
Just the way I'm supposed to be
But you're on to me and all over me"

- A diferença pra música é que eu quero SEMPRE estar em torno da sua gravidade. Vou te puxar pra perto de mim até o fim da vida.

Fim

♥️

Música Filipe e Madalena - Gravity (Sara Bareilles) - Tradução e vídeo da música no início do capítulo

Something always brings me back to you
It never takes too long
No matter what I say or do
I'll still feel you here
Until the moment I'm gone

You hold me without touch
You keep me without chains
I never wanted anything so much
Than to drown in your love
And not feel your rain

Set me free, leave me be
I don't want to fall another moment into your gravity
Here I am and I stand so tall
Just the way I'm supposed to be
But you're on to me and all over me

You loved me 'cause I'm fragile
When I thought that I was strong
But you touched me for a little while
And all my fragile strength is gone

Set me free, leave me be
I don't want to fall another moment into your gravity
Here I am and I stand so tall
Just the way I'm supposed to be
But you're on to me and all over me

I live here on my knees
As I try to make you see that you're
Everything I think
I need here on the ground
But you're neither friend nor foe
Though I can't seem to let you go
The one thing that I still know
Is that you're keeping me down

Keeping me down
You're on to me
You're on to me
All over me
Something always brings me back to you

TEMPO, TEMPO, TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora