TEM COMO NÃO SER ASSIM TÃO PERFEITA?

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Fomos para um bar de sertanejo badalado no centro de São Paulo. Confesso que eu queria estar encolhida na minha cama, chorando. O cheiro de bebida alcoólica no ar me enjoava e sertanejo não era o ritmo certo para o momento, mas o Luca insistiu e quando chegamos logo me puxou pela mão para o meio da multidão.

Nos sentamos em uma mesa que vagou perto do bar e eu decidi ficar, afinal eu nunca tinha ido a um lugar como aquele, com tanta gente, tão animado. As luzes e a música que embalava a dança de casais animados me fez sorrir. Ele pediu uma cerveja, água pra mim. Ficamos observando, ele sorria também. O DJ trocou a batida, uma música familiar.

- Vamos dançar? - Ele perguntou bem alto, já puxando minha mão.

- Não. Não tô no clima... - Ele revirou os olhos. Os estragos da minha última conversa com o Filipe estavam estampados no meu rosto.

- Esquece o Filipe, vai... - Ele suplicou um pouco triste, entrelaçou os dedos na minha mão e me puxou de novo. Eu fui, não queria admitir, mas eu estava me divertindo.

- Mas eu não sei dançar! - Eu gritei em seu ouvido, a música não deixava nenhuma conversa continuar, estava alta.

- Eu te ensino. Vem! - Fomos pro meio da pista.

Ele me ensinava os passos e eu ria. Há muito tempo eu não me sentia tão leve. Fiquei pensando em como ele era um bom amigo e como era bom tê-lo por perto.

- Melhorou o humor? - Ele perguntou ainda ao pé do meu ouvido.

- Você não muda! Para de implicar comigo. - Eu gargalhei e outra música começou a tocar.

- Essa é muito boa! - Ele afirmou animado.

Uma boa dose de endorfina já circulava pelo meu corpo, eu estava vermelha. Ele me girava de um lado pro outro, mas de repente me segurou mais perto, as mãos entrelaçadas no meu cabelo, justamente no refrão da música.

- "Tem como ser um pouco menos linda? Tem como eu ser o dono da minha vida? Tem como não ser assim tão perfeita? Já tomou meu coração e tá subindo pra cabeça." - Ele cantou baixinho no meu ouvido.

Fiquei me perguntando se ele estava cantando pra mim ou se só estava envolvido pela melodia. Tentei me afastar um pouco, nossos lábios se roçaram. Empurrei o peito dele com as mãos, agitada.

- Preciso ir ao banheiro, Luca! Grávidas né?! - Eu cortei o clima estranho. Não conseguia olhar nos olhos dele. Eu não ia fazer isso, ele era irmão do Filipe.

Depois disso eu pedi pra ir embora. Fomos pra casa da Bruna em silêncio. Nenhum dos dois ousou tocar no assunto por um bom tempo.

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