MAIS FORTE QUE AS PALAVRAS

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Ela era tão pequena e se parecia tanto com o Arthur. Logo eu que nunca fui muito de chorar, estava emocionado. Toda a dor pela perda do meu irmão se combinou com o milagre do nascimento daquela guriazinha.

Eu achei que iria sentir que ela era um pedacinho dele aqui conosco, mas eu não consegui. Só conseguia questionar mentalmente:

"Por que eu deixei a mulher que eu amava ir embora?"

"Por que eu não cedi e dei o filho que ela tanto quis?"

"Por que a Isabella tinha que ser filha do Luca? Não ia ser. Não ia."

Depois desse dia muitas vezes me culpei pelo meu egoísmo, porque a única coisa que eu pedi, desde que eu vi a Madalena grávida naquele apartamento, era que o Luca estivesse enganado, que ela desmentisse aquela história e falasse que aquela menina era fruto do nosso amor e não de uma noite qualquer com ele.

- Eu vou cuidar de você, pequena. Me perdoa por ser egoísta e não querer dividir você com ninguém? - Eu falei baixinho, passando os dedos na cabecinha pelada. Ela resmungou um pouquinho. A Madah nos olhava atentos, tinha uma expressão inquieta.

- Filipe, não precisa ficar com ela enquanto eu tomo banho. Ela pode chorar. Podemos chamar a enfermeira e ela fica, é melhor. - Ela falou, preocupada.

- Eu quero ficar com ela. Deixa ela aqui no meu colo. - Eu fui firme e depois quase supliquei. - Vai tranquila! Até parece que esqueceu que já tivemos um filho.

- Tá vendo? O papai vai ficar bem. Em 5 minutos estamos de volta. - A enfermeira foi empurrando a Madalena pro banheiro e ela com a cabeça virada, curiosa.

- O papai...o papai. - Eu falei baixinho, enquanto segurava suas mãozinhas minúsculas. Será que eu tinha esse direito?

Depois de pouco tempo a Madah estava de volta. Tomou um banho as pressas, eu percebi. A bebê ficou quietinha no meu colo, mas ela estava estranha. Pediu que eu devolvesse o bebê, pra trocar e mamar, mas a bebê não estava suja ou com fome. Logo que a enfermeira Flávia saiu eu fui devolver a bebê pro colo dela e tentar entender o que estava acontecendo.

- O que foi? Tá estranha. - Eu constatei.

- Nada! Só me dá ela?

- Claro que sim. Você acha que ela quer mamar?

- Não sei, vou tentar dar mais um pouco. Ela mamou muito pouco. - Ela se preparou e deitei a bebê nos seus braços. - Você não me chamou mais de amor, depois de ontem. - Ela concluiu, triste. - Falou que ela ia separar a gente, mas você que está se afastando.

- Ei olha pra mim? Não tem nada disso. Ouviu? Eu te amo. Me desculpa por ter pensado assim, que ela ia nos afastar. Vendo ela aqui nos seus braços e tudo o que aconteceu desde que eu te vi grávida naquele outdoor, só posso pensar que ela nos uniu. Quando eu soube que ela existia eu só quis ficar mais e mais perto de você. Não me pergunte o porquê, eu só senti dentro do meu coração que eu deveria esquecer toda mágoa, assumir os erros que também eram meus e voltar pra perto da minha mulher. Que é você. Só existe você na minha vida.

- Sentiu?

- Senti! - Ela ficou me olhando de um jeito estranho. - E eu tenho medo de dizer as coisas que passam pela minha cabeça, as coisas que eu tenho que dizer.

- Fala. Por favor.

- Não é a hora. Em casa, depois, nós conversamos. Tá bom? - Fiz um carinho em seus cabelos. Dei um beijo em seus lábios. Ela correspondeu.

- Uhum. - Ela concordou. - E meu celular? Por que quis me deixar aqui isolada do mundo?

- Confia em mim. Eu vou pegar pra você, está no carro. Eu só quis te proteger e não te isolar de ninguém. Tá bom? - A bebê chorou, largando o peito. - Tá vendo? Não quero que perca o foco. Meu amor, meu amor, meu amor, meu amor, meu amor, meu amor, meu amor... - Ela sorriu pela primeira vez.

- Eu te amo.

- Te amo mais.

Eu queria muito ficar com ela. Eu sabia que ia ficar magoada por eu sumir dois ou três dias, mas eu precisava enterrar o meu irmão. Saí do hospital em direção a situação mais difícil da minha vida.

TEMPO, TEMPO, TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora