Demorei muito a conseguir dormir. Um nó na garganta me impedia de respirar, parecia que eu estava sufocando. Por volta das 5h da manhã eu finalmente adormeci, mas logo o Filipe bateu no quarto avisando que estava indo receber os turistas, mas que voltaria mais tarde para conversarmos.
Levantei igual um furacão, agitada. Liguei para a Bruna em São Paulo e confirmei que iria aceitar o convite para ficar em sua casa. Nessa vida ela foi a minha única incentivadora na carreira de modelo. Ficou chocada pois não acreditava que um dia eu iria de verdade, mas ao mesmo tempo feliz e até mais animada que eu. Por lá eu poderia conseguir algum trabalho para começar.
Juntei em uma mala as minhas roupas, na outra as roupas do Art, umas economias, jóias e coloquei no carro. Na volta o Filipe não iria mais nos encontrar ali. Eu sabia que era errado ir embora assim, mas eu precisava recomeçar minha vida e o Filipe nunca ia deixar eu levar o Arthur por bem. Eu não ia deixar meu filho.
- Dona Telma. Posso entrar? - Eu bati na porta da minha sogra. - Vim buscar o Arthur.
- Mamãe. - O Arthur correu pros meus braços. - Mamãe, eu senti saudade. Por que você me deixou aqui?
- Madalena, o que foi aquilo ontem? Poxa, deixou todo mundo na mão. - Ela reclamou.
- Eu passei mal. Era só o que me faltava eu ter que marcar o dia ideal pra passar mal e não deixar ninguém na mão. - Eu disse irritada.
- E o seu filho?
- Ele tem pai, avó, babá. Não deixei com nenhum estranho. - Eu me irritei e ela não respondeu. Abaixei na altura do Art. - Filho, se despede da sua avó que a gente já vai. Dá um abraço bem forte nela.
- Vai pra onde? - Minha sogra perguntou.
- Pra casa. - Eu respondi secamente.
- Tá esquisita, Madalena.
Saí com o Arthur sem responder e fui arrumá-lo antes de irmos. Dei banho no pequeno e enquanto ensaboava o seu corpinho fui explicando a nova situação pra ele, mas não sem me emocionar.
- Filho, a gente vai fazer uma viagem pra São Paulo e vamos morar lá por um tempo. A mamãe vai tentar conseguir trabalho de modelo pra sair em revistas, sabe?
- Que legal mamãe! - Ele me olhava atento.
- Você vai ter um novo colégio, vai fazer novos amigos. Você vai gostar? - Acariciei os cabelos pretos dele, ensaboando.
- Vou sim, mas não queria fazer novos amigos, eu queria um irmãozinho.
- A mamãe vai te contar um segredo.
- Quero saber o segredo.
- A mamãe promete que o irmãozinho que você pediu vai chegar. O papai do céu mandou ele pra gente.
- Jura mamãe? - Ele perguntou todo feliz.
- Juro! Mas pode ser irmãzinha também né?
- Pode. Pode. Quero irmãzinha. - Ele ficou pulando de felicidade e me abraçou forte e o vesti em uma roupa confortável. - O papai vai com a gente, né?
- O papai tem o trabalho dele aqui, então vamos só nós dois, mas o papai vai te visitar e você vai poder vir ver ele também.
- Hum. Não queria ir sem o papai. Quero ficar com o papai. - Ele disse choroso.
- Eu sei meu amor, a vida às vezes é assim mesmo. O papai e a mamãe não vão ficar mais casados, cada um vai ter sua casa, mas o importante é que nós dois te amamos muito e vamos estar com você sempre. Confia na mamãe!
Fiquei acariciando os seus cabelos e ele adormeceu no meu colo no sofá. Seria melhor assim, eu não queria que ele chorasse. O sofrimento era inevitável, mas viria no dia a dia. Na falta da família unida.
Escrevi uma carta para o Filipe.
Não deixem você acreditar que foi sem culpa e sem amor que tomei essa decisão. Quero ser alguém melhor, mais realizada, pra mim e pra nossa família, mas não posso fazer isso em Bento Gonçalves. Preciso seguir meu próprio caminho.
Desfrute da liberdade que eu nunca fui capaz de te dar. Sinto muito por isso! Nosso amor veio de outras vidas, mas espero que eu possa te reencontrar ainda nesta vida.
Como não é um adeus e sim um até logo, quando eu chegar em São Paulo te passo o endereço da Bruna para você nos visitar. Assim que estivermos mais calmos, menos magoados, temos que conversar sobre o Arthur e sobre outros assuntos também.
Com amor, Madalena.
Coloquei o guri no carro e não olhei para trás. Eu ia ser julgada por ir embora, mas seria mais ainda se deixasse o meu pequeno. Eu precisava me afastar do Filipe e ir atrás dos meus sonhos. Afinal as maiores decisões da vida vêm carregadas de culpa.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...