TEMPO, TEMPO, TEMPO

REESTREIA: LONGA TEMPORADA

Um ano e meio depois e nós estávamos felizes: eu entreguei meu apartamento em São Paulo, mas ia sempre a trabalho, para fotos, porque continuei na agência five. O Filipe lançou um vinho pinot noir leve e delicioso que fez com que ele ganhasse um prêmio internacional, tornando a vinícola renomada na Europa e um ponto turístico de referência em Bento Gonçalves. Ele receberia o prêmio dali a 2 meses na Itália e aproveitaríamos para fazer uma viagem em família: eu, ele, as crianças, a Giovanna e nosso afilhado, Matteo.

Eu também estava cada vez mais conhecida. Às vezes eu não entendia o porquê gostavam tanto do meu conteúdo. Seguidores vinham até mim em Bento Gonçalves, nos reconheciam na rua e faziam homenagens. Tinham verdadeira adoração pela Bella e pelo Art. Eu ainda achava aquilo um pouco estranho, mas confiando nesse afeto e consideração que tinham por mim eu lancei uma linha de maquiagens e cosméticos, inspirada nas uvas e vinhedos. Foi um sucesso de vendas.

Os processos? Foram encerrados. Algumas pessoas processadas, contas de Instagram bloqueadas. Recebemos as indenizações e destinei o dinheiro para ajudar vítimas de crimes digitais. A Clara foi declarada culpada pelos crimes de sequestro, invasão de privacidade, injúria e difamação. Não descobrimos quem atirou a pedra na nossa casa.

Nossa casa e as crianças eram a paz em meio ao caos do trabalho. Todas as noites, o que eu mais queria era voltar pro aconchego do meu lar e ficar com meu marido e filhos. O Filipe estava diferente: ao invés de ficar horas na cave sozinho, ele queria companhia, me levava para o meio das uvas. Eu também estava mais disposta a estar com ele, a compartilhar momentos bons e ruins. À ouvi-lo.

Só tinha um detalhe que faltava pra completar o que sonhamos...

Era bem cedo, 5h30 da manhã, mas eu já havia levantado e passava um café na cozinha. Eu havia recebido o terceiro lote da minha linha de maquiagens e pensei em testar e gravar o conteúdo de divulgação para o meu instagram antes que a Bella acordasse. O Filipe desceu as escadas e me deu um abraço, beijando minha orelha e causando um arrepio no meu corpo todo. Lembrei dos seus toques na noite anterior e suspirei. Por que, mesmo passado tanto tempo, ele ainda me causava esse efeito?

- Oi amor! - Ele sussurrou no meu ouvido. Senti seu hálito quente, com cheirinho de menta. - O que houve, está se sentindo mal? - Ele estranhou minha presença tão cedo. Geralmente eu acordava às 8h me arrastando para arrumar o Arthur pro colégio.

- Não. Não tô enjoada. - Eu respondi e olhei pra baixo, cortando o assunto de imediato. Eu sabia que ele ficava na expectativa em me ver enjoada. Depois de mais de um ano e testes frustrados, eu ainda não tinha ficado grávida.

- Desculpa, não quero te perturbar com esse assunto. Na hora certa vai acontecer. - Ele tentou me tranquilizar, carinhoso, enquanto continuava me abraçando por trás da cadeira.

- Por que pareceu tão fácil quando engravidei da Bella? Do Arthur então... - Eu perguntei desanimada.

- Eu não sei, talvez não tínhamos tanta expectativa... éramos mais novos também. Se tu quiser podemos buscar algum tratamento. - Ele sugeriu. As palavras saiam pausadamente da sua boca.

Quando se tratava desse assunto ele tinha muito medo de me magoar. Confesso que era um ponto sensível para mim. Eu e ele já tínhamos feito diversos exames, não existia nenhuma questão médica nos impedindo de ter outro bebê e eu me sentia culpada.

- Não quero. Eu sou muito feliz com a Bella e com o Art. Eu te juro. Eu não to triste. - Eu garanti e era verdade. Ele me deu um beijinho na bochecha e foi em direção a jarra de café.

- Então por que tu tá com essa carinha? É sono? - Ele fez um biquinho para mim.

- Ahh! - Eu suspirei. - Tu vai achar bobagem, mas é por causa da creche. - Ele deu um sorriso leve e eu já comecei a chorar.