SEM CORAGEM

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A segunda foi agitada. O Filipe parecia mais animado que eu para preparar a casa nova. Tinham poucos móveis por lá, todos embalados e como saíram da loja, mas era suficiente para eu me acomodar por enquanto.

Por mais presente que eu estivesse não consegui ajudar muito. Fiquei descansando e cuidando da bebê e do Art o dia todo, restrita ao meu quarto. Ele fez todo o trabalho com ajuda dos funcionários da vinícola e foi falar comigo quando terminou.

Já era noite, mas a moça que contratamos para limpar a casa tinha acabado de sair. A Bella e o Art dormiam tranquilos perto de mim.

- To esgotado! Montei os móveis do quarto do Arthur. A geladeira e o fogão estão instalados e pela primeira vez sem plástico. Nossa cama... - Ele revirou os olhos, mas tinha um tom brincalhão. - Sua cama está aí. - E se deitou do meu lado.

- Amor, não faz essa cara, é só por um tempo. - Eu afirmei.

- Já falei que não entendo. Tu falou que não é por causa da Clara ou por eu ter omitido sobre a morte do Luca. - Ele acariciou a lateral do meu rosto.

- Sim, eu tô atucanada com umas coisas. Preciso organizar meus pensamentos. - Ele levantou a sobrancelha desconfiado. - Sobre a Bella... - Eu completei baixinho, mais pra mim do que pra ele em si. Ele escutou.

- Eu sei que tu tá preocupada. Mesmo eu tendo falado tudo aquilo sobre ter outro filho, eu vou cuidar dela. Eu já falei isso mil vezes. - Ele se calou. Respirou fundo e fez a pergunta que eu estava evitando. - Você já fez o registro de nascimento? Precisava para viajar. Óbvio.

- Fiz. - Tentei terminar o assunto naquele momento.

- E colocou o nome do Luca?

- Não coloquei, mas está tudo certo, depois eu vejo isso. - Eu fui até um pouco seca, acho que pelo nervosismo por receber tantas perguntas, mas ele pareceu...aliviado e eu não entendi. - Filipe, vai pra casa, é melhor, a gente vai ficar bem. - Eu mudei de assunto e ele ficou quieto por alguns minutos, acho que estava processando toda a informação.

- Minha casa é aqui, com vocês. - Ele concluiu triste e eu o abracei. - Não me ama mais? - Ele perguntou ao pé do meu ouvido.

- Amo, você nem imagina o quanto! Só não quero te magoar. Só que sinto que já tô fazendo isso. - Eu me afastei um pouco, mas ele se recusava a criar espaço entre nós. Aproximou sua boca da minha.

- Eu sou forte e sou teu marido. Pode dividir tudo comigo. Tá me magoando me mandando embora. Se tu deixar eu ficar perto, vai ficar tudo bem.

Eu conseguia sentir sua respiração e ele fez o que estava tentando desde o dia anterior: me beijou e foi correspondido. Quando o beijo começou a ficar quente demais, ele fez com que eu deitasse no seu peito e ficou me dando beijinhos doces no rosto, enquanto acariciava meus cabelos. Nossa! Eu me sentia em casa com ele.

- Não é bom? Nós dois? Eu não consigo e não quero ficar longe. - Ele disse.

- Acho que eu só tô tentando me proteger, caso a gente termine. Pra nós dois sofrermos menos. - Eu concluí e ele riu. - Por que tá rindo? Tô falando sério.

- Porque a gente não vai se separar. Tu vai ter que me aturar pra sempre. Já passamos por tanta coisa e estamos aqui. Não vou desistir de nós por problema nenhum. E se tu acha que a Bella tá incluída na categoria "problema", não está. Ela nunca foi um problema pra mim.

- Promete?

- Prometo. - Ele se aproximou da Isabella, que dormia entre as almofadas. Segurou suas mãozinhas e ela abriu os olhos, mas continuou quietinha, olhando fixamente pra ele. - Eu sinto uma coisa estranha quando olho pra ela.

TEMPO, TEMPO, TEMPOOnde histórias criam vida. Descubra agora