Qual é a importância de ser reconhecido?
Por estranhos? Nenhuma.
Já ser valorizado por quem a gente ama. É inestimável.
Fama? Eu garanto que não importa.
O que importa mesmo é o sorriso dos filhos. Quando olham pra você como se fosse a única pessoa capaz de resolver seus problemas inocentes.
Importa o carinho do marido. E ser a mulher mais inteligente, bonita e atraente pelos olhos do homem que ama.
Importa a fofoca e bons drinks com a melhor amiga. Um churrasco com os amigos aos domingos. A família reunida jogando conversa fora. O perdão.
Importa ser referência na profissão, no caminho que escolhemos para sustentar a família e nossos sonhos.
No fim do dia o valor só é reconhecido através das lentes do amor.
Agora quando vemos alguém que amamos ser reconhecido, o coração se enche de orgulho. A felicidade deles é a nossa e a algo inacreditável acontece.
Era assim que eu estava me sentindo, vendo meu marido naquele terno azul marinho de corte perfeito, pronto para receber o prêmio de melhor vinho pinot noir produzido no mundo em 2022.
Sorri pra ele orgulhosa, mas lembrei das crianças.
- Amor, será que o Art está com dor? - Eu perguntei mais uma vez. - Acho que vou ligar de novo, conferir se ele tomou o remédio na hora certa. - Ele tomou o celular da minha mão e me deu um selinho, tentando me distrair.
- Não! Fica tranquila. De jeito nenhum. Hoje eu tenho exclusividade, porque fui enganado, fiquei achando que teria vários momentos românticos e que ia transar muito na Itália. - Ele ficou me beijando e me abraçando enquanto eu tentava tirar o celular da mão dele, rindo.
- Ah é? - Eu ri. - Estou sabendo dessas intenções agora. - Mordi os lábios, provocando. Ele olhou o relógio.
- Amor, vai tomar banho, senão a gente vai se atrasar. - Ele apertou minha cintura com firmeza, me imprensando entre seu corpo e a porta do banheiro. - Só não te levo pro banho, porque a gente precisa sair em uma hora. - Ele sussurrou no meu ouvido, enquanto puxava minha camisola de seda com uma só mão. Ele já estava pronto, mas me ter ali, nua em seus braços era uma proposta tentadora demais. Ainda mais depois dos últimos dias.
Ele beijou minha boca com vontade e passava uma das mãos firmes entre meus seios, depois suspirou fundo e se afastou.
- Vou me amassar todo. Vai! Vai! Antes que eu não resista. - Ele riu, enquanto passava a mão na barba, fazendo charme. Ele tinha razão. Entrei rápido no banheiro.
Estávamos hospedados sozinhos naquele hotel. Escolhido a dedo por ele, inclusive a suite de frente pra piazza que tinha uma varanda com hidro e cercada por flores.
Nós fomos curtir um fim de semana de casal e todos ficaram em Siena. Veriam a entrega do prêmio do Filipe pelo youtube. Já eu era sua mulher, tinha que acompanhá-lo.
Art ficou em casa com a perna engessada. Já tinha 10 dias que havia recebido alta, mas ainda não podia pisar. Eu finalmente tive coragem de deixar a Bella com a Tia Gisella e com a Gi pra gente dormir fora, depois de muita insistência do Filipe. Já Dona Telma, depois de ter tido uma parada cardiorrespiratória e em consequência disso um AVC, ficou com sequelas: cadeira de rodas, estava tentando reaprender a andar e a ter domínio do próprio corpo. Havia tido alta no dia anterior. Só que mesmo passando por toda àquela provação, ela parecia feliz em estar perto do Filipe e do Art. Como se estivesse aliviada com o perdão deles.
Tomei um banho rápido, sequei o cabelo com o secador de forma que os fios ficassem ondulados e prendi a franja. Escolhi um vestido vermelho de seda, aberto nas costas e batom vermelho pra combinar. Saí do banheiro procurando minhas sandálias.
- Vamos amor?
- Uau! - Ele me elogiou e eu sorri feliz. - Vou desistir de ir.
- Para, seu bobo. - Eu fiquei tímida.
O evento seria realizado em uma villa luxuosa em Florença. Chegamos de carro e fomos recebidos em um tapete vermelho logo na entrada. O local era tão iluminado que ofuscava nossos olhos. O Filipe cumprimentou tantas pessoas, conversou em italiano com sócios das vinícolas mais importantes do mundo. E eu fiquei ao seu lado, tentando entender o contexto da conversa.
Eu achava engraçado o jeito que ele olhava pra mim quando algumas dessas pessoas eram mulheres. Tentando identificar se eu estava com ciúmes. Depois sussurrava em meu ouvido que me amava. E depositava beijinhos doces na minha bochecha e na minha boca. Eu me sentia amada, me sentia no centro do seu universo e foi o que eu desejei sentir desde quando o conheci.
Ele recebeu o prêmio, falou algumas palavras em italiano. Eu estava emocionada por vê-lo naquela posição de destaque, não entendi muito bem o que disse, mas ele falou meu nome e depois me chamou no palco.
- Pode vir aqui, amor, dividir mais esse momento comigo? - Ele falou no microfone em português. Eu caminhei até o palco, sorrindo, nos aplaudiram. Ele me deu a mão.
- Te amo. - Me deu um papel. - Lê! É o meu discurso. Fiz pra você. - Eu abri o papelzinho, fiquei alheia a tudo, como se não estivéssemos em um palco.
"Eu andei por muito tempo perdido, procurando preencher um vazio, uma falta dentro do meu peito. Este pinot noir ficou por alguns anos só no papel. Esperando esse nó desatar dentro do meu coração. E a responsável por desatar e atar todos os meus nós está aqui comigo essa noite, minha companheira da vida toda, mãe dos meus filhos. Eu dedico esse prêmio a ela, ao meu amor, Madalena Bellini."
- Eu te amo! - Eu sussurrei, bem devagar, para que ele pudesse ler meus lábios. Não pude evitar chorar.
Fomos intimados para uma sessão de fotos na lateral do palco e convidados para um jantar que aconteceria depois do fim da premiação.
- Vamos embora! - Ele me surpreendeu.
- Como assim? Não vamos esperar o jantar? - Eu perguntei.
- Tem algo muito melhor esperando pela gente. Uma surpresa.
Saímos discretamente. Antes de entrar de volta no quarto ele tampou meus olhos. Fui andando, guiada por ele até o que parecia ser a varanda. A brisa quente passava pelo nosso rosto. Ele tirou a mão dos meus olhos e eu vi o que estava preparado para nós. A varanda toda iluminada por velas a perder de vista. Olhei para ele sorrindo. Ele beijou meu pescoço e meus ombros, depois soltou as alças do meu vestido, revelando meu corpo nu.
Aquela noite, como muitas outras, faz parte da nossa história e da nossa memória.
VOCÊ ESTÁ LENDO
TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...