Em pouco tempo estávamos no carro em direção ao sul. O Art foi cantando pelo caminho, embalado por uma playlist do Zeca Baleiro.
"Eu me flagrei pensando em você
Em tudo o que eu queria te dizer
Em uma noite especialmente boa
Não há nada mais que a gente possa fazer
...
Se não eu, quem vai fazer você feliz?
Se não eu, quem vai fazer você feliz?"Já o Filipe batia os dedos distraidamente no volante no ritmo da batida. Me olhava, sorria e quando o trânsito dava um descanso, acariciava e beijava minha mão.
A intenção dele era fazer poucas paradas e chegar logo, mas como uma grávida fica com vontade de fazer xixi de 40 em 40 minutos, não foi possível. Parecia que a Bella estava abraçada na minha bexiga. Só a noite, quando o cansaço chegou e a música cessou, o Arthur e eu dormimos.
Acordei quando estávamos estacionando, o dia clareando e o sol batendo no meu rosto. Ele estava esgotado. Tirou o Art do carro, colocou na cama. Tomou um banho e apagou.
Como a minha bebê estava se mexendo muito e eu, mesmo cansada, não conseguia ficar na cama, fiquei rodando na minha antiga casa. O cheiro dos lençóis, os detalhes da decoração, o banheiro, tudo parecia estar do mesmo jeito. Era como se eu nunca tivesse ido embora. Era reconfortante e ao mesmo tempo assustador.
Saí de carro para comprar os ingredientes para fazer um café da manhã especial pro Art. Na volta encontrei o Filipe preparando Mate na cozinha. Fiquei observando o jeito dele, como estava arrumando a mesa com cuidado. Estava ainda mais guapo, sem camisa, com cara de sono e a barba por fazer. Ele notou minha presença.
-Bah, tu tá aí há muito tempo? Me dê aqui essas coisas, deve estar pesado. - Ele pegou as sacolas da minha mão. - Roubei! - E me deu um beijo surpresa na boca. Eu ri da sua malandragem.
- Não, estava te observando. - Eu dei de ombros.
- E gostou do que viu? - Ele perguntou fazendo uma cara safada e me puxando mais pra perto, enquanto começava um beijo quente que não conseguíamos mais terminar.
Tomei fôlego, tentando sair dos braços dele.
- Filipe, o Art vai acordar. - Eu finalmente consegui dizer.
- Ele tem o sono pesado. - E continuou.
- Tu pode.. ter... razão - Eu consegui dizer em meio a outro beijo. - Mas não vamos arriscar. - Ele me calou com mais um beijo.
Nós estávamos emprenssados na bancada da pia, de costas para a porta. Não previmos que minha ex (atual) sogra ia entrar em um rompante pela área de serviço alguns minutos depois.
- Filipe, o seu João disse que aquela guria está aqui. - Nos afastamos com o susto, arrumando as roupas rápido. - Por que não dormiu lá em casa? Depois de tudo... - Ela viu nossa proximidade, o beijo e talvez algo mais. Ela não sabia como agir, ficou atucanada.
- Depois de tudo...? - Eu perguntei e ela se calou. - Que guria, Dona Telma?
Eu não ia deixar ela falar mal de mim. Ali ainda era minha casa.
- Depois de nada. Já vi o suficiente.
- Mãe, que bom... porque acho que isso só diz respeito a mim e a Madah, né?
Ela não se conteve.
- Meu filho, fica de bico, essa moça não presta! - Ela se exaltou. - Todos nós nos enganamos muito com ela.
- Mãe... - O que ele ia falar? Fiquei esperando que me defendesse, mas ela nem deu chance.
- Filho, olha o que ela fez contigo e com o Luca. Destruiu nossa família causando essa briga entre irmãos. Te traiu e nem para assumir um relacionamento com ele.
- Oi? A senhora está louca, Dona Telma? Não que te interesse, mas eu NUNCA. OUVIU? NUNCA traí o Filipe. - Ela me ignorou.
- Ainda tem essa criança. - Ela disse com desdém. - Não percebe que ela vai ficar sempre entre tu e ele?
- Mãe, por favor. - Ele segurou a porta apontando o caminho para que ela saísse. - Hoje é aniversário do Arthur. É pra ser um dia feliz, de celebração, cheio de amor. Não sei se percebeu, mas está atrapalhando.
- Está me expulsando, Filipe? - Ela perguntou, seu tom era quase de uma ameaça.
- Não quero faltar com respeito, mas a senhora entrou sem bater. Volta por favor em uma outra hora, mais apropriada. - Ele disse calmo.
- Posso dar os parabéns pro meu neto pelo menos? - Eu me meti, não deixei.
- Ele está dormindo, mas pelo que percebi a senhora não veio aqui pra isso, né? Amanhã faremos a festinha, pode vê-lo lá ou mais tarde.
Ela virou as costas e eu caí em prantos. Nós achamos que seria fácil assim, retomar, mesmo que em partes, nossa antiga vida? Mal sabíamos o que viria pela frente naquela festa inocente.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...