TALVEZ UM DIA TU ENTENDA MEUS PORQUÊS

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O cortejo fúnebre começou. Como eu não conseguia lidar com aquela situação e não queria mais um enfrentamento, deixei que eles seguissem sem mim. Fui acompanhando de longe, a Bruna ao meu lado. Depois retornamos para a porta da capela e fiquei esperando o Filipe. Foi quando vi a Clara se aproximando.

- Oi Madalena, está tão sumida... - Eu e Bruna olhamos pra ela ao mesmo tempo. As duas sem acreditar no que estávamos ouvindo. Depois de tudo ela querer puxar assunto comigo?

- Uhum. - Respondi monossilábica.

- Me falaram que você está começando a carreira de modelo em São Paulo. - Ela continuou.

- Sim. - Respondi entredentes.

- Foi até bom né Madah, porque aí muitas coisas que você deixou pra trás eu acabei assumindo, eu ajudo o Filipe no atendimento da loja aqui na vinícola, no restaurante. Além disso, ele tá fazendo de tudo pra eu me tornar uma ótima sommelier. Estou aprendendo com o melhor! - Ela me provocou, falando das "maravilhas" que ela fazia na vinícola.

- Só nunca vai conseguir assumir o posto que tu mais quer, não é? De mulher dele. Esse já é meu. - Eu falei firme e saí de perto.

- Já já ele abre os olhos, tenho certeza. Arrumou até filho com o irmão dele, essa fantasia não vai durar muito tempo, não é mesmo? - Ela falou alto e a Bruna, me surpreendendo, se irritou com ela.

- Olha, eu vou te dar só um aviso. Se afasta da Madalena e da família dela. Você não está vendo que estão todos de luto aqui? Que perdemos um amigo, irmão e filho querido? Se o Filipe quisesse você, ele estava com você. Aceita isso e vai arrumar outro cara, porque quem está fantasiando aqui é você e não ela. - Dona Telma, Giovanna, Mateus e Filipe se aproximaram. Devem ter escutado o falatório.

- Madalena, ela é uma amiga da família, está nos ajudando muito na vinícola. Se tu não tivesse tanto ciúmes do Filipe ia ver que ela é uma ótima pessoa. - Dona Telma falou e eu não contive minha expressão de deboche, mas também não respondi. Até mesmo a Giovanna, que estava brigada comigo, não comprou o discurso de boa prenda da Clara.

- Mãe, menos, a Clara também tem os interesses dela em ajudar aqui! - A Giovanna completou. Acho que a Clara não entendeu a alfinetada que levou, mas era óbvio que a Gi estava deixando claro que o interesse dela ia além da vinícola.

- Olha só, vou falar pra todas escutarem. Não quero ouvir mais nada. Essa conversa, discussão, seja lá o que for, termina agora. Nós acabamos de enterrar o Luca. Não é possível que não possamos ter um minuto de paz, pra sofrer o luto pelo meu irmão. E Clara? Está sobrando aqui. Não quero ser grosseiro, mas esse é um momento em família. Peço que nos dê licença. - Filipe pediu. Ele estava calmo, mas eu gostei das palavras duras dele. Me senti protegida, porque eu não comecei aquela briga, não revidei, então aquele discurso não poderia ser pra mim.

- Se você está dizendo, Filipe... Me desculpa, eu só tentei ser educada com a Madalena, mas já que não sou bem-vinda, vou embora. - A Clara disse se fazendo de santa. Que ódio! Meu sangue estava fervendo, mas respirei fundo e a ignorei. Ela virou as costas e foi embora.

- Filipe, olha a educação... - Dona Telma protestou e o resto do grupo ignorou. Giovanna e Mateus foram em direção ao carro deles sem dizer uma palavra.

- Filipe, eu fiquei te esperando, mas preciso ir pro hotel. Já fiquei muito tempo longe da Bella, ela deve estar com fome. - Eu esqueci aquela confusão generalizada e expliquei pra ele.

- Filipe? - Ele questionou, achando estranho o porquê eu não estava chamando de "amor".

- Ouviu? Vou pro hotel. A bebê precisa mamar.

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