Todas as noites chamadas de vídeo rendiam horas e horas de conversa até eu pegar no sono, muitas vezes com o celular na mão. Estratégias para amenizar a ansiedade pelo próximo encontro. Ele estava na minha vida de novo e eu estava muito mais feliz, admito. Não que tenhamos voltado. Na verdade não havíamos falado exatamente sobre o assunto. Acho que nós dois estávamos cheios de dedos. Com medo de falar sobre o que nos assombrava e correr o risco de voltarmos para o abismo de distância e dor, do qual havíamos saído há tão pouco tempo.
Só estávamos nos deixando levar pelos momentos e conversas.
Ele dizia que sentia saudades, que não via a hora de vir pra São Paulo e que se pudesse deixaria o trabalho e viria durante a semana mesmo. Fizemos planos de passeios pela cidade. Escolhemos uma nova escola pro Art. Ele até insistiu para que eu me mudasse pra um apartamento maior. Acho que por causa da bebê, mas esse ainda era um assunto delicado pra nós dois.
Eu contava pra ele de todas as campanhas e fotos que eu estava fazendo. Dos projetos no instagram. Desbloqueei ele das redes sociais e ele se surpreendeu vendo que em tão pouco tempo eu já dava dicas sobre o mundo da moda, maternidade e o quanto eu era boa nisso, em falar com a câmera. Dizia que não tinha como não se apaixonarem pelo meu jeito.
Eu achava fofo o seu modo doce e calmo de tentar me reconquistar.
Já ele me falava sobre a vinícola e sobre o dia a dia em Bento Gonçalves, o que me trazia uma nostalgia gostosa. Fizemos planos de colocar o vinho da Bentô em mais restaurantes e mercados de São Paulo.
Em um dos telefonemas comentei sobre o telefonema da Giovanna. Ele não se surpreendeu. Também foi questionado pela família, mas pediu pra eu não me preocupar, que todos estavam achando esquisito simplesmente o fato dele estar animado. E sobre o Arthur: ninguém tinha que se meter nas nossas decisões.
Já um tema era proibido, quase como um tabu: os papeis do divórcio. Já estavam com o juiz há algum tempo. Uma hora ou outra o acordo ia chegar nas nossas mãos para assinar. E chegou. Na quinta-feira de manhã.
Ele viria pela primeira vez nos ver naquele fim de semana, mas teríamos que lidar com nosso primeiro fantasma.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...