PODE ME ESPERAR TAMBÉM

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Dois minutos depois que o Luca saiu da minha casa, na segunda de manhã cedo, o Filipe chegou. Achei estranho ele vir assim de supresa no início da semana. Eu estava muito atrasada pra buscar o Arthur na casa do amiguinho.

- Amor! - Eu me enlacei no pescoço dele, dando um beijo doce na sua boca. Ele respirou fundo, segurando sua boca na minha. Parecia que precisava prolongar aquele momento. Me afastou e tive uma sensação esquisita.

- Madah, a gente precisa conversar. - Ele disse sério.

- Precisa ser agora, amor? Eu preciso ir buscar o Arthur, tô atrasada e muito! Ou tu vai comigo e a gente conversa no carro? - Eu ignorei o jeito estranho dele.

- E o colégio?

- Hoje ele pega as 8h. Pedi pra Luana dar um banho neles e eu coloco a roupa do Art no carro mesmo. Já estão me esperando.

- Vamos buscar, a gente deixa eles na escola e volta pra cá. - Ele esfregou os olhos.

- Não podemos falar no caminho? - Eu perguntei enquanto acariciava seu rosto.

- Acho melhor não. - Ele disse sério.

- Está me deixando preocupada. - Acho que eu tinha uma expressão esquisita.

- A gente conversa na volta.

Ele foi em silêncio o caminho todo. Se eu iniciasse um assunto, ele respondia com "sim" ou "não" "talvez" ou só assentia com a cabeça. Depois de um tempo parei de falar. O que ele tinha? Eu já estava ficando nervosa e triste.

Na volta ele sentou no sofá e lá ficou por longos minutos. Me abaixei, ficando entre suas pernas.

- Amor, pelo amor de Deus, me fala o que tá acontecendo? - Ele respirou fundo.

- Eu vi tu e ele aqui ontem a noite. - Ele finalmente disse.

- Como assim Filipe? - Eu fiquei sem entender, já que ele tinha chegado de manhã.

- Eu vi você e o Luca aqui, juntos. Eu abri a porta e vocês estavam juntos ali no sofá. Vai negar?

- Não vou negar. Nós somos amigos! Não aconteceu nada demais. Ele dormiu aqui na sala. Eu juro! - Eu me defendi.

- Tu não estava brigada com ele?

- Estava, mas ele apareceu aqui, pediu desculpas e eu admito, eu sinto falta dele.

- Acho que ouvi o suficiente. - Ele estava...chorando. - É melhor eu ir embora. - E levantou.

- Meu amor. Eu sinto falta sim, mas não desse jeito que tá pensando. Você está com ciúmes!

- Não tô. Só não quero ver minha mulher com outro no sofá. Abraçada. E não é qualquer outro, é o Luca! Ele é o pai da sua filha. - Ele esfregou os olhos.

- Filipe, está entendendo tudo errado, desde o início. Por favor, confia em mim. Vamos conversar com calma. - Eu supliquei.

- Então promete que vai se afastar do Luca, pra sempre. - Ele pediu e eu fiquei perplexa. Ele não podia exigir isso.

- Não está me pedindo isso. Tu nunca foi assim, o que está acontecendo? - Eu perguntei um pouco irritada.

- Madalena, quando nós ficamos juntos de novo eu achei que poderíamos passar por cima do que aconteceu, mas não dá. Eu não consigo te ver perto dele. Eu fico louco. Perco noites de sono pensando nisso.

- Por que, Filipe? Por que?

- Porque eu te amo e não estou sabendo lidar com essa sua nova vida. - Eu fiquei pensativa.

- Você quer terminar? - Perguntei sentindo uma dor inexplicável no peito. Eu não estava entendendo onde ele queria chegar.

- Claro que não. Já falei que não vou perder você assim pra ele. - De repente tive uma ideia pra tentar contornar a situação.

- Por que não tenta se aproximar do Luca?

- Não quero! Não quero ele perto da gente.

- Por que? Se tu se aproximar dele, vai ver que não tem porquê sentir ciúmes. E tem mais, eu sei o quanto tu gosta do seu irmão e o quanto te faz mal ficar longe dele também. - Ele me encarou, mas não respondeu. - Vai negar que gosta dele?

- Eu gosto, mas...- Ele resistiu e eu o interrompi.

- Então esquece isso, amor. Eu já te falei mil vezes que não precisa ter ciúmes. - Eu peguei na mão dele. Ele estava olhando pro chão, com olhar triste. - Eu te amo! Te amo. Só existe você e a nossa família na minha vida.

- Jura? - Ele perguntou. - Você fala de um jeito.

- Como? - Eu não entendi o que ele queria dizer.

- "Nossa família".

- E não é?

- Tem a sua bebê.

- Ué! - Eu fiquei sem palavras. - O que tem ela?

- Não sei. Acho que ela vai sempre estar entre a gente. Ela vai unir vocês dois. Já está unindo. - Eu fiquei triste com essa constatação dele.

- Não fala assim, Filipe. Isso não é verdade! - Minha campainha tocou. Era o Luca.

- O que ele quer? - Filipe perguntou irritado.

- Por favor, Filipe. - Eu pedi e ele se jogou no sofá.

- Oi, o que houve? - Eu entreabri a porta e o Luca foi entrando. E eu atrás dele tentando dizer, sem sucesso, que o Filipe também estava ali.

- É que eu perdi minha... - Ele viu o Filipe sentado no sofá e ficou sem saber o que fazer ou dizer. - chave... Só vim buscar minha chave. - Eles se encararam. - Eu não devia ter vindo.

- Não tá aqui, eu acho. Tu lembra onde pode ter deixado? - Tentei agir naturalmente.

Os dois emburrados não falaram mais nada e eu fiquei andando pela casa procurando a bendita chave. Por fim achei caída no banheiro do corredor.

- Tá aqui, Luca. Deve ter caído do seu bolso. - Estendi a chave pra ele.

- Me salvou! Como sempre. - Ele se aproximou e me deu um beijo prolongado na bochecha. Senti uma provocação na sua voz. Aquele jeito de guri de apartamento que eu amava e odiava ao mesmo tempo. - Eu já vou, mas te espero quinta na inauguração do bar.

- Pode me esperar também. - Filipe se manifestou. Olha o que o ciúmes causa nas pessoas, o Filipe nunca tinha pisado em um bar como esses, ele sempre detestou.

- Será sempre bem-vindo irmãozinho. - Luca debochou.

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