NOSSA SEGUNDA CASA

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Acordei com o Filipe entrando no nosso quarto. Recostou do meu lado, não usava cueca samba canção como de costume. Deve ter levantado cedo ou dormiu na cave, como fazia muitas vezes. Me estendeu uma xícara de chá. Sentei, me aconchegando nele, que beijou o topo da minha cabeça. Senti um alívio no peito com aquele gesto de carinho. Eu estava tão triste e angustiada na noite anterior.

- Vamos levantar, dorminhoca? - Ele brincou comigo.

- Que horas são? - Eu perguntei manhosa e dei um golinho no chá quente.

- 10h. Marcamos com o arquiteto e com o mestre de obras. Eles já chegaram. Estão tomando café na mãe. - Ele me explicou e pela sua voz vi que estava preocupado em deixá-los esperando.

- Jura? Bah, perdi a noção do tempo. Dormi demais.

- Tu estavas precisando descansar, mas temos que ver a obra. Falar daquelas mudanças.

- Hummm! - Eu concordei, colocando a caneca na mesinha de cabeceira. Minha voz demonstrava minha preguiça e sono. Me espreguicei nos braços dele.

- Se não quiser ir, fica aqui dormindo, que eu falo com eles. O Art também já está lá na vó, comendo. Melhor assim? - Ele tentou me mimar, mas eu queria acompanhá-lo. Eu sabia o quanto aquela casa era importante pra ele.

- Não, eu vou. Quero ver como está ficando nossa casa. É a última chance de mudar qualquer coisa. Tomo um banho rápido. - Eu me levantei de imediato, resgatando minha xícara e uma tolha limpa no armário.

- Ta, vai rápido então, senão vai atrasar tudo e tenho que ir na trattoria e na festa hoje.

Sai correndo para tomar banho, mas antes dei um beijo apaixonado nele. Eu não queria deixar nenhum vestígio da nossa briga na noite anterior. Ele retribuiu o beijo, me agarrando tão forte pelas costas que quase derrubei o chá. Eu ficava louca quando ele me abraçava e me beijava assim.

Em 15 minutos estávamos todos de pé em frente a obra: o arquiteto, o mestre de obras, meu marido, eu, com Art no colo, minha sogra e o Mateus, marido da Gi.

Ficamos admirados olhando a casa em estilo industrial. Era rústica, combinava com o restante da arquitetura da vinícola. Era tudo o que sonhamos. A fachada toda em pedra que mescla tons de marrom, cinza e bege. Janelas de metal preto e acabamentos em madeira. Dois andares. Andar principal aberto, cozinha americana, uma sala enorme, quatro quartos bem confortáveis, dois deles com suíte e closet. No andar de cima uma varanda de vidro que percorria toda a frente. No subsolo o projeto especial do Filipe, uma adega climatizada. Do lado de fora, uma piscina climatizada, churrasqueira e varanda para receber os amigos. Eu não gostava de receber em casa, mas o Filipe sim e fez questão.

- Bah, acho que já dá pra vocês mudarem! Tá pronta daí. - Sugeriu minha sogra.

- Mãe, você conhece a minha mulher! Ainda tem umas mudanças que ela quer fazer. - Ele disse rindo.

- Senti uma alfinetada hein, amor? - Eu brinquei, deixando o Arthur descer e correr pelo jardim. - Mas é verdade Telma, eu quero tudo perfeito pra gente mudar. Detestaria morar no meio da obra. Tem a piscina também, que ainda não tá cercada. Viu? Já tenho que correr atrás do Art. - Eu disse enquanto gritava para evitar que o guri não se aproximasse da beirada. - Arthur, vem meu filho... outra hora a gente brinca no balanço. Vão entrando! - Eu falei para os demais, enquanto o Art subia no balanço que havíamos instalado ali a pouco tempo. 

- Vem Arthur, obedece sua mãe! Agora não é hora de brincar.  - O Felipe chamou a atenção dele. 

- Pode ir amor, eu já vou. - Eu o tranquilizei e eles entraram.

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