Dezembro passou rápido, assim como o início de janeiro.
O Art ficou de férias do colégio e muito animado ao ir pra uma colônia de férias com o Matteo. A Bella deu o seu primeiro sorriso, descobriu o pé e estava cada dia mais esperta. O Filipe, como sempre, muito envolvido com o trabalho, afinal era época de produção.
O número de views do meu vídeo só crescia e por isso fui chamada para muitos podcasts e entrevistas. Além de dicas de mãe e modelo, passei a falar sobre invasão de privacidade, perseguição sexual e minha luta para que os responsáveis pelo que sofri fossem punidos. Os vídeos e fotos vazados foram tirados do ar, mas infelizmente, depois de um mês, o processo tinha andado menos do que eu esperava. Não descobrimos quem jogou a pedra na nossa casa. Eu me angustiava ao ver que quem me ofendeu; homens que me assediaram e continuavam assediando; e contas que compartilharam minha vida sem autorização, continuavam com a certeza da impunidade. Mesmo com advogado acompanhando o processo nada foi feito em relação a essas pessoas.
Para trazer um pouco de leveza para o meu conteúdo, comecei a contar sobre a vida no campo e na vinícola e o assunto fazia mais sucesso do que eu esperava. Muitas pessoas comentavam que iam fazer a rota do vinho por indicação minha, então as nossas reservas de merendim esgotaram antes do início da festa.
A Giovanna mudou rapidamente para um apartamento grande no centro da cidade, como o Filipe pediu. Fomos visitá-la e ela e o Mateus não vieram uma, mas várias vezes para a piscina com as crianças. Churrascos animaram nossa casa em todos os fins de semana e contei com a presença da Bruna em vários deles. Era muito bom ter os amigos de novo por perto.
Já a Clara, sumiu. Ela devia explicações, mas a justiça não conseguia encontrá-la. Esse fato garantia que ela não iria nos perturbar por enquanto, mas ao mesmo tempo eu ficava em alerta, afinal ela estava solta e sem responder pelo que fez. Foram encontradas provas no celular, de que ela produziu e publicou pela primeira vez os conteúdos, mas não adiantava nada se ela estivesse desaparecida. Crimes digitais também não implicavam em pedido de prisão preventiva. Um absurdo, mas a realidade.
Eu e Filipe ainda estávamos dando um tempo. As pessoas estranhavam nossa proximidade, mesmo estando separados, mas nosso objetivo era conviver bem pelos nossos filhos. Às vezes ele tentava se aproximar, mas em todas elas deixei claro que eu precisava de uma decisão definitiva e não de momentos de prazer. Ele voltou pra outra casa à contragosto, mas as vezes dormia por aqui e confesso que as noites eram muito mais fáceis com ele por perto. Nos divertíamos juntos, conversávamos sobre tudo e somos uma ótima dupla para cuidar das crianças. Óbvio que sentíamos saudades um do outro. Ele sempre beijava meu rosto se demorando ali com a boca na minha pele, já eu me largava em alguns abraços. Existia desejo, carência e amor entre nós. Ficava nítido. A única coisa que não ficava era o motivo pelo qual ele tinha tanta dificuldade em dizer "eu te perdoo, eu te amo, vamos esquecer tudo."
O Natal e o ano novo passamos nós quatro, em casa. Não fomos para a ceia da Dona Telma como sempre. Na verdade, só falamos com ela o estritamente necessário. Ela tinha se recusado a deixar a casa, nunca pediu desculpas para o Arthur e para mim e o Filipe estava muito chateado com toda situação. Sabia que o melhor era que ela ficasse longe, mas não tinha coragem de tomar uma medida drástica, como uma ordem de despejo.
Em janeiro, o boticário me chamou para uma campanha de protetor solar, mas dessa vez com as crianças. Pediram fotos deles e aprovaram o perfil. A marca estava lançando a nova linha de produtos e o cachê era irrecusável. Era mais dinheiro do que ganhei no ano anterior todo. O Filipe foi reticente, achou que era muita exposição para os dois, não queria colocá-los nesse mundo e até pediu que eu parasse de postar eles no instagram quando começaram a nos reconhecer na rua. Surpreendentemente, quando eu já estava quase desistindo do trabalho (a empresa só iria contratar se fôssemos os três), ele topou. Disse que não concordava, mas que confiava em mim.
Por fim, quando menos esperávamos já estávamos envolvidos com os preparativos da festa da vindima, a colheita estava finalizada e os eventos começando a tomar forma. O calor contagiava a cidade, os turistas estavam mais presentes nas ruas, nos restaurantes, nos bares e na Bentô. Eu passei a ajudar alguns dias na trattoria, como antes. Colocava a cadeirinha da Bella ao meu lado, no caixa, e ficava lembrando do quanto minha vida havia mudado no último ano. Não somente ela, mas eu também e eu gostava da minha nova posição perante a vida. Admirava muito mais a Madalena versão 2023: mais segura, madura, modelo, influenciadora, mãe de dois e dona da minha própria vida e dinheiro.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...