VALE A PENA VIVER PELO PERDÃO

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Chegamos no aeroporto em tempo recorde. Era imprudente correr tanto com o carro, mas eu só queria encontrar o Art. Uma dose de esperança tomou conta do meu coração. Estacionei de qualquer maneira e eu fui puxando a Madalena pela mão pelo aeroporto. Ela parecia sem forças para andar rápido, não falava uma palavra. De repente parou.

- Aconteceu alguma coisa ruim com o Art. Tô sem ar. Preciso sentar. Eu tô sentindo. - Ela dividiu comigo o que estava pensando e levou a mão no peito, se escorando em um banco próximo. A voz estava por um fio, tive dificuldade de entender. Há pelo menos 2 horas ela chorava sem parar. Veio o caminho todo assim e eu não conseguia acalmá-la.

- Pensamento positivo, amor. Ele está aqui, vamos achar. - Ela não me respondeu. Acariciei suas costas. Comprei uma água em um quiosque perto.

- Eu não quero ver, vai você. Só me fala quando estiver tudo bem. - Ela implorou. - Eu não vou suportar a dor de perder meu filho.

- A gente não vai perder nosso filho. - Minha voz também embargou. Ela teve um pressentimento, estava falando sério. Me aproximei de um segurança e me informei sobre onde era o posto da polícia. Ele me apontou uma portinha a uns 50 metros. Em um ímpeto a Madah levantou e foi correndo até lá. Não sei como teve forças pra correr tanto. Eu fui atrás dela. Ela entrou pela porta e alguns segundos depois ouvi ela gritar desesperada.

- ESTE NÃO É MEU FILHO, não é. - Segurei na porta antes de entrar. Respirei fundo. Não era nosso filho.

O telefone tocou. Era a Dona Telma. Eu abracei minha mulher bem forte. Ela sabia. Ela sentiu que tinha algo errado e tinha.

As próximas horas foram de angústia e muita dor. Minha mãe não tinha muitas notícias do Arthur, só soube dizer que ele havia batido a cabeça e precisava de uma transfusão de sangue urgente. A Madalena foi em silêncio do meu lado, e este só era quebrado de tempos em tempos pelos seus soluços e por ligações que ela fazia de 10 em 10 minutos para a minha irmã. Eu acelerava o carro mergulhando naquela terrível noite e não encontrava as palavras certas. Eu mesmo estava perdido.

Chegamos correndo na recepção do hospital Santa Maria, que ficava em Siena mesmo. A Gi e minha tia estavam sentadas, minha irmã com a Bella chorosa em seu colo. Assim que nos viu a Giovanna veio correndo até nós.

- Per favore, siamo i genitori di Arthur Bellini, ragazzo caduto dal tetto. - Eu expliquei ofegante para a recepcionista que nós éramos os pais do Art.

- Filipe, a mamãe, ela vai morrer... - A Giovanna disse com a voz embargada. Em um gesto automático a Madah pegou a Bella do colo dela. A bebê esticava os bracinhos ansiosa.

- Como assim Gi? Cadê a mãe? Ela ta com Art? - Eu perguntei sem entender nada.

- Cadê meu filho, Gi? Quero ver meu filho. - Madah perguntou desesperada.

- Ele está na sala de cirurgia, quebrou a perna... - Eu fiquei ouvindo e olhando pra Madah, eu precisava tentar ser o alicerce dela. Eu estava em pedaços, só queria que aquela viagem acabasse logo, mas eu precisava ser forte para a minha família.

- Fala Gi! - Eu e Madalena gritamos ao mesmo tempo.

- Pelo amor de Deus, eu preciso saber. Eu sei que algo ruim aconteceu com meu guri. Eu senti! - A Madah desabafou.

- Fratura exposta. Perdeu muito sangue e bateu a cabeça. - Minha tia Gisela completou, enquanto esfregava os braços da minha esposa, tentando acalmá-la.

- Precisava de uma transfusão urgente... - A Gi continuou. - ...mas o hospital não tinha o tipo de sangue dele, fratello. A mamãe era a única que poderia doar, ela teve que assinar uma documentação, porque a pressão tava alta. Filipe, não permitem doação de pessoas de mais de 60 anos que nunca doaram, ainda mais com a pressão como tava a dela. Mas ela assumiu o risco. Ela tá lá dentro agora. - Eu fiquei em choque, agora minha mãe e meu filho estavam lutando pela vida naquele hospital. Me senti mal por não ter conversado com ela, por ter brigado com meu filho. De que valiam ressentimentos e brigas bobas agora?

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