NENHUM DIA É PERFEITO PARA DESPEDIDAS

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Vinhedos carregados de uvas, a colheita estava se aproximando. Velas, roupas escuras, olhares tristes escondidos embaixo de óculos de sol. O dia estava ensolarado, perfeito pro Luca, mas nenhum dia seria perfeito pra se despedir dele.

Entrei em silêncio na capela de madeira. Lembrei de quando ele me chamava de cunhadinha e eu odiava. Sorri com a lembrança. Só queria que ele estivesse aqui implicando comigo, como sempre. Uma lágrima escorreu involuntariamente. Avistei a Dona Telma, a Giovanna e o Mateus perto do caixão. Procurei o Filipe, estava sentado, de cabeça baixa, ao lado dele estava a Clara. Ela segurava seus ombros, esfregando seus braços. Não me viram. Fiquei imóvel, a dor de toda aquela cena me impedia de ter qualquer atitude. O Luca não merecia uma cena de ciúmes.

Me aproximei, a Bruna atrás de mim.

- Quem é essa encostada no Filipe? - Ela perguntou baixinho.

- Adivinha. - Eu disse. - A Clara.

- Madah, eu sei que é pedir muito, mas não precisamos de uma confusão nesse momento.

- Eu sei, Bru. Não vou fazer nada, pelo Luca. Eu prometo.

Todos os olhares se viraram pra mim. Dona Telma veio na minha direção. O olhar dela não era muito amigável. O Filipe levantou rapidamente e veio até nós.

- O que tu tá fazendo aqui, guria? Não basta ter causado isso? Sai daqui agora. Deixa eu enterrar meu filho em paz. - Ela se exaltou.

- Eu? Está louca, Telma? Eu tenho dois filhos e não quero nem imaginar sua dor. Eu amo o Luca, como ia causar isso? Ele era meu melhor amigo. Tudo o que eu queria era que ele estivesse bem e vivo. Também tenho direito de me despedir dele.

- Mãe, menos, bem menos. Está todo mundo olhando e tu sabe muito bem que não foi culpa da Madah. O Luca tinha bebido e bateu o carro. Eu sinto muito pelo meu irmão, mas a responsabilidade foi toda dele. - Filipe esclareceu a situação rapidamente e se virou pra mim. - Amor, cadê as crianças? Eu supliquei pra você não vir.

- Vai pedir pra eu ir embora também? - Eu perguntei.

- Claro que não, meu amor. - E me abraçou, acariciando meus cabelos.

- Ela fala na sua cara que ama outro e você aceita. - Telma provocou. Como ela tem a capacidade de mudar toda a situação a seu favor? O amo como amigo, não é óbvio? Parece que nunca conheci minha sogra até me separar do Filipe. Ele apertou minha mão forte, como um sinal.

- Não responde. Faz o que eu tô pedindo. - Filipe falou no meu ouvido e me puxou pela mão, para que nos aproximassemos do caixão.

Vi o rosto sereno do Luca, parece que estava tendo um sonho bom. Meu coração estava em paz.

- Vai com Deus meu amigo e até breve. - Eu disse, acariciando seu rosto.

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