Olhei de rabo de olho pra ela. Ela estava sentada no banco da frente do carro, as crianças atrás na cadeirinha. Estávamos indo para o aniversário dos gêmeos. Ela sorria e eu sorri também, vendo que depois de tudo que passou ela estava forte, decidida e mais importante, feliz.
Nos últimos meses ficamos assim, flertando. Fazíamos muitos programas em família, mas ela ainda estava esperando eu dizer claramente que a tinha perdoado e isso a mantinha distante de mim, fisicamente. Desviava os olhares e os beijos. Eu respeitava e sentia uma saudade louca. Só que eu demorei muito para perdoar genuinamente. Fiquei me sentindo roubado. Sentia que ela e o Luca tinham me tirado algo, que mesmo sem eu saber, era importante demais pra mim. Me mantive por perto e tentei reestabelecer aquela confiança perdida entre nós. Acho que consegui, porque ela me cativava de um jeito que nenhuma mulher jamais conseguiu. Eu já tinha tomado minha decisão, já tinha perdoado e a única coisa que faltava era o momento ideal para falar com ela. Poderia ser ali, no carro, quem sabe...
Ela chamou minha atenção.
- Filipe, olha ali a nossa foto! Olha lá Arthur, tu, a mamãe e a Bella. - Ele se debruçou por cima da cadeirinha da irmã pra ver a foto. Os olhos dela e dele brilhavam. A sensação de ver a minha família naquele outdoor, era algo que eu nunca senti. Eles eram o melhor que eu poderia ter sonhado. Eu estava emocionado.
- Tu tinha razão. Não me arrependo de ter assinado a autorização pra eles fazerem as fotos. - Eu concluí. - Eu não sei explicar a sensação de ver vocês ali. Tô muito orgulhoso. - Ela sorriu.
- Faltou você! - Ela concluiu.
- Eu não sou tão fotogênico quanto vocês. - Eu ri da sugestão. Daqui a pouco ela ia querer me arrastar pra fotografar também e eu não tinha o menor jeito.
- Ahhh tá bom. É o cara mais fotogênico que eu conheço. - Ela me elogiou. - Mas os nossos filhos são mais.
- Eu fiquei lindo na foto, né papai?! - O Art perguntou convencido de que tinha feito um bom trabalho.
- Ficou, filho. Lindo do pai! Gostou de fotografar?
- Uhummm, tinha um monte de comida lá. - Nós dois rimos juntos no banco da frente.
Eu fiquei esperando o assunto das fotos acabar para dizer o que eu queria, mas antes que eu tivesse chance ela começou a falar baixinho para que o Arthur não escutasse. Ele estava distraído no tablet.
- Filipe, nós estamos dando um tempo e eu fiquei pensando... Você saiu ou pensou em sair com outra mulher? - Ela perguntou e eu me assustei, mas ela continuou tranquila me olhando, como se fosse um tema qualquer.
- Como assim? Eu não, tu saiu? Por que tá perguntando isso? - Eu fiquei com ciúmes e muito confuso nessa hora.
- Eu levei a Bella na consulta de 4 meses com o Hugo e ele me chamou pra jantar. - Eu quase bati, por pouco não deu tempo de frear e evitar a traseira do carro da frente.
- Aiiií, cuidado!!! - Ela chamou minha atenção. Continuei dirigindo perturbado em direção a casa de festas.
- Desculpa... - Depois de um silêncio constrangedor eu continuei o assunto. - E como ele sabe que estamos dando um tempo? O que não quer dizer que estejamos separados. - Eu falei emburrado.
- Ele me perguntou e eu falei. Não é segredo pra ninguém, por que seria pra ele? - Ela explicou com uma tranquilidade irritante.
- Tu quer... jantar com ele? - Eu perguntei.
- Seria bom. - Aquela resposta foi como um soco no meu estômago. Eu querendo ficar junto e ela pensando em jantar com outro.
- Tudo bem por mim. - Eu falei emburrado, mas eu estava quase chorando de tanto ciúmes. Estacionei.
- Mesmo? - Ela parecia muito surpresa. Desceu do carro para soltar as crianças.
- Uhum. - Eu falei baixinho e entredentes. Não sei se ela escutou.
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TEMPO, TEMPO, TEMPO
RomanceAté quando vale a pena lutar por um amor? O quanto vale a pena deixar os sonhos de lado por um casamento? Por um homem? O quanto se pode errar e voltar atrás? O quanto o amor é capaz de perdoar? O quanto os erros nos fazem perfeitos? O quanto os e...