Nesse momento, Five estava sentado na cama igual uma criança birrenta. E Nathaniel estava ao seu lado, limpando o corte em seu braço.
Depois de alguns minutos em silêncio, Cinco decidiu perguntar:
— Onde aprendeu a fazer tudo isso?
— Ah, você sabe... sobrevivência — disse, tentando não entrar muito no assunto. Tinha apreendido a fazer todos os tipo de curativos. Precisava usar a maior parte deles quando se tratava de apanhar de seu pai.
Five continuou o olhando, não desviou o olhar em nenhum momento. Nathaniel parecia fazer tudo em uma calmaria e sem pressa.
E mesmo que o Hargreeves tivesse falado sobre o fim do mundo está ainda mais próximo. Ele ainda estava calmo, como se não ligasse.
O que parecia desesperador para muita gente, pra ele era como molhar um papel.
— Pronto — disse ele, pondo o curativo de ursinho em seu braço. — Você precisa trocar em pelo menos, três em três horas. Ok?
Não obteve resposta, Nathaniel olhou para cima, encontrando os olhos de Five fixados em si.
E eles não falaram por pelo menos cinco minutos. Apenas os olhares que queimavam um sobre o outro.
Parecia doloroso de certo forma, mas doía de um jeito tão bom.
Neil foi o primeiro a quebrar o olhar, coçando a garganta e se levantando.
Acho que temos que ir.
Five assentiu e vestiu a blusa social branca por cima e pôs o colete xadrez, logo depois colocando o resto do uniforme.
Ele colocou Dolores em um bolsa, e a pôs nas costas.
— Isso não é jeito de carregar a namorada, Five — disse o de cachos.
— Pelo menos eu tenho namorada — retrucou ele.
— Ah, sim. Desculpe por ofender seu manequim — levantou as mãos, se redendo. — Não foi minha intenção.
Cinco não respondeu, apenas abriu a janela e desceu pelas escadas.
Nathaniel foi logo atrás, se deparando com alguém catando lixo?
— Onde foram parar as cenas do pai? — perguntou em desespero.
— Podemos ir ver um filme, ou algo assim? — disse uma voz.
Nate desceu o resto das escadas, parando no chão. Ele olhou para o cara que estava dentro do lixo, e para o outro que estava parado na grade.
O garoto sentiu uma magia estranha, um dos dois ali presente estava morto.
— Ou o mar?
— Cala a boca! — disse Klaus para Ben. — Estou procurando o que quer que seja que vale tanto dinheiro e que estava naquela caixa, para que o Pogo deixe de me chatear!
Os dois homens pareceram notar a presença do garoto parado ali, depois que Five desceu o resto das escadas.
— Eu perguntaria o que anda fazendo, Klaus, mas depois me ocorreu — disse, já no chão. — Eu não me importo.
— Olá! Há maneiras mais fáceis de sair de casa, parceiro. Ainda mais com um garoto bonito em seu alcance — disse Klaus, olhando para o garoto e para Five.
— Como é? — Nathaniel ficou surpreso, e até mesmo incrédulo com a insinuação do outro.
— Está é a maneira que envolve menos conversa — Five estava ao seu lado agora, com as mãos nos bolsos. — Ou era o que eu pensava.
— Escuta, você precisa de companhia hoje? Ou está bem acompanhado com os cachinhos? — perguntou, logo depois piscando para Cinco. — Eu podia... liberar espaço na agenda.
O de uniforme revirou os olhos. Nathaniel ainda tentando saber qual dos dois estava morto. Até que percebeu que não era o Hargreeves dentro do lixo.
E sim o que estava na grade, mas ele fingiu que não o via. Por enquanto. Ben o encarava, também sentindo alguma magia fluir do garoto.
— Você já tem trabalho.
— Isso? Não, posso fazer em outra hora — tentou explicar. — Só... só não sei onde coloquei uma coisa, só isso.
Klaus entrou no lixo por completo, logo voltando.
— Encontrei — disse, erguendo um pãozinho. Nate sorriu, achando engraçado. — Graças a Deus!
Ele mordeu o pão.
— Isso vai dar uma baita de uma digestão — disse Neil.
Klaus olhou para o garoto.
— E qual é o seu nome, namorado do Cinco? — perguntou, sugestivo.
Nate engoliu as palavras, pensava seriamente em atacar Klaus com suas lâminas
— Isso não é da sua conta, Klaus — disse Cinco. — E eu não vou mais financiar o seu vício em drogas.
Ele caminhou e puxou Nat pelo o pulso.
— Vão lá — disse Klaus. — Se for ver, eu só queria estar com o meu irmão e seu novo namorado.
Ben o olhou.
— Não você — respondeu a Ben. — Mi hermano! Eu te amo! Ainda que você não consiga amar a si mesmo!
Cinco não se importou, apenas continuou puxando Nate pelo o pulso e os dois acabaram roubando um carro que estava estacionado na esquina.
Cinco dirigiu.
— Ele parece ser legal — disse Neil.
— Ele é um idiota — foi apenas isso que disse, antes de ficarem em silêncio outra vez.
[...]
Minutos depois, os dois estavam parados em puro tédio. Dentro do carro enquanto vigiava o outro lado da rua.
— Que tédio — disse Nat. — Se eu quisesse ser segurança, Cinco. Eu teria me tornado segurança.
— Cala a boca — disse ele. Olhando para o médico de prótese andando do outro lado.
— Você não vai atropelar ele, vai? — perguntou Neil, se inclinando para perto e olhando para fora.
Cinco o olhou, indignado. Depois ele olhou para a bolsa e abriu o zíper, a tirando de dentro. Junto a algumas garrafas de bebidas alcoólicas.
— Desculpe te deixar aí dentro por tanto o tempo — desculpou-se com o manequim. — Não, não estou bêbado. Estou trabalhando.
— Por agora, não. Mas se continuarmos no fracasso, então ficará em bêbado breve — disse o garoto mais novo. — Não é, Dolores?
— Reconfortante da sua parte, Nathaniel — disse Cinco.
Parecia estranho, mas foi a primeira vez que ouviu Five pronunciar seu nome. E por algum motivo, era fodidamente bom.
— Esse foi o lugar que aconteceu a cena do olho, ou pelo menos. Que vai acontecer, então apenas temos que esperar — respondeu Five.
— Você decide — brincou Nat, se ajeitando no banco do carro.