Era Uma Vez...

c i n c o

● Coringa Narrando 🚩 ●

Sabe quando tu sabe que tem algum bagulho errado?

Pois é, toda vez que eu olhava pra mina do Guga eu sentia essa porra.

Tem algum bagulho ali e eu não consigo descobrir.

No meu morro é proibido estupro. Estuprou? Tu morre na merma hora.

E eu sei que tem algum bagulho de errado lá na casa do Guga, mas como que tu acusa sem provas? PORRA, não dá!

Eu cresci sem um pai e com a minha véia ensinando o que é certo e o que é errado.

Meu coroa era presente, até os cu azul tirar ele de mim.

Depois disso, quando eu fiz 15 já me envolvi. A coroa não gostou muito não, mas aceitou.

Fui crescendo aqui até o dono morrer e deixar pra mim.

Assumi tudo com 21. Foi quando o Guga assumiu a boca 5.

A mina dele nunca sai de casa, e nas duas vezes que eu brotei lá por mais que ela tentasse apagar os bagulhos da cara dela com reboco, dava pra ver os hematomas.

Eu não sou burro. É só juntar um mais um que tu vai ver que dá dois e ele bate nela.

Outra coisa que não aceito também é agressão. Porra, quer me deixar puto? Agride uma mulher na minha frente. Mermão tu cai na hora com uma balinha na testa e eu não tô fazendo mais do que a minha obrigação.

Eu posso matar o Guga, mas se o chefe dos chefes vim e ver que não tem provas pra ter matado, tenho até dó de mim. Sobra nem os ossos.

Por isso, não fiz nada. Sem a palavra dela ou uma prova dele pegando ela, sem condição fazer alguma coisa.

Eu fico indignado como o Guga trata ela, ela faz de um tudo por ele, rango bom e ele faz essas paradas.

Tá no erro.

Na minha mente tu tem que valorizar quem tá do teu lado e é assim que funciona.

Eu tenho minha coroa e ela me tem. Tudo o que ela quer, ela tem na mesma hora fi.

Ela queria ir pra Búzios esse final de semana... Tá lá. Tudo o que ela quiser, ela vai ter de mim e repito. Não faço mais que minha obrigação.

A mina do Guga tava gata demais hoje. Ela era natural porra, não precisava de nada dessas patifarias de fingir ser alguém.

Vi o Guga sair do lado dela e decido me aproximar.

- Qual foi novinha? - Falo com ela e me sento ao seu lado.

- Voce só sabe falar isso? - Ela diz e joga o cabelo pro lado.

- Quer que eu vá direto ao assunto que eu tenho contigo? - pergunto e ela logo fica apreensiva.

- Não sabia que você tinha assunto comigo. - Ela diz.

- A partir do momento que acontece alguma coisa dentro do meu morro que eu não saiba, eu tenho assunto sim. - Falo e ela engole no seco.

- Manda. - tenta disfarçar.

- Ele te bate? - pergunto e disfarço bolando um.

- Gustavo nunca levantou a mão pra mim. - Ela diz e eu respiro fundo.

- Só vou perguntar mais uma vez. Ele te bate, não bate? - pergunto e acendo a boa.

- Não. - Ela diz e sua voz falha. Fumo a boa e velha maconha.

- Eu sei que ele te bate, mas se você não disser nada, não tem como eu te salvar. - Falo sério.

- Ele não me bate, coringa. - Ela diz e eu apago o cigarro.

- Jae. - digo e me levanto.

Como eu disse, se ela não conta, eu não posso fazer NADA.

● Rafaela Narrando 🎀 ●

Eu queria dizer pra ele? Queria.

Mas disso, só eu posso me salvar.

Ele sai e eu sei que ele ficou puto.

Vejo Guga se aproximar e o cheiro de puta barata invade meu nariz, logo me bate a vontade de vomitar. Engulo a vontade e tomo mais um gole do refrigerante.

- Vai fazer mais um pra mim, vadia. - Ele fala fazendo menção a bebida.

Apenas me levanto e vou  fazer mais um.

Olha para Gustavo que está conversando com um cara na nossa mesa e tiro o comprimido do meu bolso, eu já tinha tirado da cartela.

Amasso o comprimido, misturo com o morango e no final coloco muito mais vodka.

Coloco um guarda chuvinha vermelho dessa vez e levo para o Gustavo.

Ele dá a primeira golada e eu só rezo para que ele não sinta o gosto do remédio.

- Esse tá.. - Ele dá mais uma golada. - Esse tá bem melhor.

Respiro aliviada e espero ele tomar toda a bebida.

- Gustavo, será que podemos ir para casa? - Pergunto já esperando a porrada.

- Jae. - Ele diz e apenas me puxa com total força, sem ao menos se importar se está me machucando ou não.

Ele monta na moto e eu monto logo em seguida. Tá na hora da reviravolta acontecer.

O bicho vai pegar.