- Rafaela Narrando 🐍-
Ao chegar na pedra, a mulher com a menina está de costas pra mim e então eu me aproximo.
- Oi, boa noite. Foi você que me mandou mensagem? - Pergunto receosa da resposta.
Ela se vira pra mim e é aí que minha ficha cai. Ela tinha o rosto completamente lotado por hematomas por mais que a maquiagem cobrisse uma boa parte, os hematomas ainda apareciam.
- É você? Você veio de verdade? - Ela me olha com lágrimas nos olhos e então ela solta a mão da criança e me abraça e eu fico sem entender nada, mas retribuo o abraço. - Você veio, você está aqui.
Ficamos alguns segundos em silêncio enquanto ela soluça no meu ombro.
- O que aconteceu? Quem é você? - Pergunto rompendo o silêncio.
Ela se solta do abraço e puxa a mão da menina e quando a menina vira meu coração se parte em mil pedacinhos.
- Olha, eu não posso demorar muito, mas eu vou resumir pra você entender, tá bom? - Ela fala acelerado e eu assinto. - Eu sou casada com um delegado da federal só que ele não é um anjinho como pensam, ele me bate, me estupra e eu aturava por causa da minha filha, mas ontem foi o pior dia da minha vida. Ele chegou em casa e fez tudo o que podia comigo e quando se cansou de mim ele partiu pra cima dela. Claro que eu tentei impedir, mas ele me bateu tanto mais tanto que eu não conseguia nem abrir os olhos, eu apenas escutava os gritos da minha menina. - Ela diz e automaticamente meus olhos se enchem d'água. - Olha eu sei que parece loucura mas essa é a minha história e hoje de manhã eu consegui pegar o telefone e procurei por albergues, ongs, mulheres que ajudam outras mulheres e foi quando eu vi o seu vídeo queimando o seu marido e foi quando te mandei a mensagem. - Ela diz e eu assinto para que ela continue. - Eu vou voltar pra ele e hoje um de nós dois vai morrer, mas eu preciso que você cuide dela. - Ela fala e eu arregalo os meus olhos na hora.
- Como assim? Você não vim junto? Você não tem nenhum parente? Como assim? - Pergunto na hora.
- Se eu não voltar ele não vai parar, isso acaba hoje e eu só preciso que você tome conta dela por um dia e depois eu volto e busco ela. - Ela diz e eu coço a cabeça. Tô nervosa.
- Mas você não tem nenhum parente pra deixar ela? Jura? Eu sou péssima com crianças. - Falo apontando pra menininha que continha um olho roxo e sua boca machucada.
- Eu não tenho família e nem ele e você é a única pessoa que eu confio por mais que eu não te conheça. Por favor, cuida dela por um dia. Só um dia. - Ela diz e eu juro que penso em dizer não.
- E por que você não vem com a gente? Deixa ele pra lá, no morro ele não sobe e eu posso proteger você. - falo e ela nega.
- Ele é um delegado, amanhã ele coloca aquele morro à baixo e fora que ele não vai desistir nem de mim e nem dela. Então, por favor... Cuida dela. - Ela diz e eu não tenho mais argumentos.
- Tudo bem. - Me dou por vencida.
- Obrigada, muito obrigada. - Ela diz chorando e então se abaixa na altura da filha dela. - Essa aqui é a Alícia, não é meu amor? Se apresenta pra ela. - ela fala com a garotinha que dá um passo pra frente e eu me abaixo.
- Meu nome é Alícia e eu tenho 5 aninhos. - Ela diz fazendo o cinco com a mão.
- Oi princesa, meu nome é Rafaela e eu sou amiga da sua mãe. - Falo e ela me abraça apertado.
- Eu sei tia, obligada po ajuda a gente. - Ela diz e eu sorrio pra ela.
Me levanto e a mãe dela também.
- Aqui está as coisas dela. - Ela diz me entregando uma mochila. - Amanhã eu busco ela aqui por essa mesma hora, tá bom? - Assinto e ela se abaixa de novo pra falar com a menina.
- Olha, a mamãe precisa fazer uma coisa muito importante e você vai ficar com a titia Rafa, tá bom? Mas, amanhã eu volto pra te buscar, tá bom? - Ela assente. - Te amo meu amor.
- Eu tamem te amo muito mamãe, vamos tia rapaela? - Ela diz meu nome errado e eu rio.
Pego na mãozinha dela e encaro aquela mulher que eu nem lembro o nome.
- Olha, toma muito cuidado por favor, você não pode morrer, ok? Eu não sei cuidar de criança e você merece ser feliz com a sua filha, ok? - Falo e ela assente me agradecendo.
Pego na mão da menininha com o meu coração pequenininho e vou andando em direção ao carro com o coringa me olhando com o seu olhar indecifrável.
Alícia - 5 anos.
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Era Uma Vez...
FanfictionUma fic clichê sobre o complexo da maré, mas nem tão clichê assim. /+18 PLÁGIO É CRIME ⚠️