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- Ana Júlia Narrando -

Na minha família todo mundo é envolvido com o tráfico, caso não se lembrem. Tem até um atirador de elite, enfim.

Fiz uma reunião pra convocar os soldados dos morros de cada um, já que o Augusto fez o favor de matar a maioria e deixar uns 25.

- Bora tio Lucas, quantos homens tu pode oferecer? - Pergunto pro tio Lucas que tava lutando pra entregar. - Eu quero os melhores, isso virou questão pessoal.

- Porra, tu pode o cu e ainda pede raspado. - Ele fala e dou uma risada.

- Mas ela não pede, ela manda né. - meu pai diz me dando razão.

- Bora galera, os melhores soldados e eu quero pra daqui a uma hora. - Falo e geral assente.

- Bora agitar isso aí, então. - Meu marido Pedro diz e eu começo a pegar os nomes.

- Rafaela Narrando 🐍-

- Olha pra mim, coringa! Você não pode dormir, meus filhos não vão ficar sem um pai! - Falo e bato no rosto dele.

Augusto quase matou o coringa e agora eu preciso ser forte por mim e por ele.

O Augusto tentou me estuprar e o coringa não deixou, então, mais tortura nele e porrada.

O bichinho tá todo quebrado, sangrando pra caralho e quase indo de vez.

Eu amo o coringa e pra sempre eu vou amar ele, mas eu tô tão chateada que não consigo tratar ele com carinho.

Porra, ele prometeu. Ele prometeu pra mim e mentiu, mentiu na cara dura. Eu não perguntei uma vez só, eu perguntei várias vezes. E ele preferiu mentir!

- Vi...vida? - Coringa me chama e eu o olho. Ele tá com a cabeça no meu colo e eu tive que rasgar a blusa dele pra amarrar na coxa dele que não parava de sangrar.

- Não fala, você vai piorar por favor... - Falo com lágrimas nos olhos.

- Eu preciso ter o seu perdão, por favor. Eu te amo e tudo o que eu fiz foi pra proteger você. - Ele diz engasgando e minha garganta fecha na hora. - Não foi pelo meu ego, te juro que não foi. Eu escondi isso de você por que não aguentaria te ver triste, em depressão por causa desse filho da puta, porra amor, você parou de ter pesadelo. Eu não queria você com pesadelos de novo ou com mais traumas por uma coisa que eu podia resolver, eu juro que podia. Eu te amo pra caralho, Rafaela e amo nossos filhos. Promete que não vai deixar eles sozinhos? - Ele diz se despedindo.

- Para com isso, Juan. Para de se despedir, você ainda tem que ficar aqui pra morrer por que sua filha vai pegar vários novinhos. - Falo chorando. - Fica acordado por favor, eu tô com medo. - Falo e ele sorri pra mim.

Mesmo com toda a dor do mundo ele decidi esquecer a dor dele e sorrir pra mim.

- Eu tô aqui contigo, meu amor. E só pra constar, o morro é seu, reconstrua ele do zero mas não desista dele, ok? - Ele fala e eu choro ainda mais.

- Para amor, para com isso. Você vai ficar bem, tá bom? A gente vai casar, vai ter mais filhos, vamos ter um time de futebol. Mas, por favor fica comigo. - Falo chorando e ele abre um sorrisão.

Claro que não vou esquecer a merda que ele fez, mas eu não posso perder ele, não mesmo.

Fico fazendo carinho nele para que se mantenha acordado. Até que começo ouvir tiros.

- Tá ouvindo??? Vinheram nos buscar, amor, vinheram nos buscar. - Falo e quando olho pro coringa ele tá com os olhos fechados.

Começo a dar tapas no rosto dele, não forte demais e nem tão fraco demais.

- VOCÊ NÃO PODE DORMIR, NAO SE ATREVA A DORMIR LOGO AGORA, CORINGA ABRE O OLHO! AMOR, ABRE OS OLHOS!!! POR FAVOR, ABRE OS OLHOS!!! - falo batendo no rosto dele e então a porta se abre revelando o Fernando e a morte.

- Morte? - Pergunto um pouco anestesiada mas logo me lembro do coringa. - Fernando, ele não quer acordar, faz alguma coisa. - Choro e bato no rosto de coringa. - Olha, ele não quer acordar, não quer! - Falo chorando e Fernando se abaixa na minha frente.

- Eu cheguei princesa, vou cuidar de tudo. - Fernando diz e dá um beijo na minha testa.

- Pode vim sem pressa, o Augusto já tá na mala. - Alguém que eu não reconheço a voz fala pelo radinho e Fernando pega o coringa no colo com a ajuda da Ana Júlia e joga o coringa nas costas do Fernando.

- Você tá machucada? - Ela se abaixa na minha frente e me pergunta.

- Não. - É a única coisa que eu consigo responder, ela me dá medo.

- Então, vem. - Ela me ajuda a levantar e me levanto devagarinho.

Ela me ajuda a caminhar e então saímos da casinha infernal.

Ela me põe dentro de um carro e o Fernando coloca o coringa deitado com a cabeça na minha perna.

- Só um minutinho. - Fernando diz e fecha a porta. Ele vai até a morte e agradece. - Porra, sei nem como te agradecer, sem você eles teriam morrido, muito obrigada de verdade e pode contar com a maré pra qualquer parada.

- Jae, fica de olho que vou mandar uns soldado pra lá, só pra ajudar vocês a se reerguer. - Ela diz, faz um toque com ele e ele vem correndo pro carro.

- Como que ele tá? - Fernando pergunta assim que engata o carro.

- Só dirige e rápido por favor. - Peço e fico tentando acordar o coringa.

(***)

Assim que Fernando estaciona, eu já abro a porta do carro e começo gritar.

- Alguém ajuda, alguém ajuda o meu marido. Alguém, por favor. - Grito e rapidamente dois enfermeiros vem pro lado de fora com uma maca e retiram ele do carro.

Eu saio do carro e respiro fundo sentindo minhas pernas estremecerem. Não sei quanto tempo fiquei lá e nem quero saber, mas eu tô fraca.

- Fernando! - o chamo e ele vem na minha direção.

- Vem, princesa. - Ele diz e me ajuda a me locomover. - Como que tá a criançada?

- Não sei. - Sou sincera e adentramos ao hospital. - Você faz a ficha do coringa? - Pergunto e ele assente.

Ele me ajuda a sentar na cadeira e eu sinto o peso do mundo cair nas minhas costas.

Era Uma Vez...Onde histórias criam vida. Descubra agora