Era Uma Vez...

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- Rafaela Narrando 🐍 -

Coloco a menina dentro do carro e peço pra ela esperar um pouquinho, tudo sobre o olhar do coringa e quando eu conto tudo pra ele, ele está catatônico me olhando sem piscar.

- Fala alguma coisa, tá me deixando nervosa. - Falo agoniada.

Ele respira fundo umas dez vezes, sem sacanagem.

- Você tá com a filha de um federal dentro do meu carro? - Ele pergunta pausadamente e eu apenas assinto.

Essa é a hora que ele explode?

- Você tá com a filha da porra de um FEDERAL??? - ele grita a última parte chamando a atenção de quem passa.

- Vai, grita mais alto, acho que o Cristo redentor não te ouviu. - Falo do mesmo jeito que ele falou comigo.

- Isso não é brincadeira, Rafaela! Ele é um delegado federal e você achou uma ótima ideia levar ela pra maré? Tu jura??? - Ele pergunta inconformado.

- Sim. - Respondo sincera.

- FEDERAL, ELE É FEDERAL! - ele grita e as pessoas olham.

- Fala baixo, porra! Quer chamar a atenção de quem? - Pergunto no mesmo tom que o dele porém sem gritar.

- Não tô bom pra tuas gracinhas não, Rafaela. Você sabe quem eu sou? - Ele pergunta e se aproxima de mim. - Eu sou dono da porra de um morro que tá sem armamento e sem soldado e aí você acha uma ótima ideia de levar pro mesmo morro que tá sem armamento e sem soldado a filha de um federal e ainda por cima DELEGADO! - ele quase grita a última parte.

- Amanhã a mãe dela vai buscar ela, coringa. - Falo mantendo minha calma.

- Ah é? E se ela não sobreviver? Você já pensou nessa hipótese? Aonde tu vai enfiar essa menina se a mãe dela morrer? Por que eu tenho certeza de que tu num vai jogar essa garota na rua! - ele diz e se afasta de mim.

- E ela não merece uma chance? - Pergunto criando coragem.

- como é? - Ele pergunta.

- A mãe da garota não merece uma chance de viver? Olha pra essa garotinha, coringa! Ela não merece a chance de ser criada pela mãe? Eu quero dar essa chance pra ela, cara. É só isso que eu quero. - Falo e ele encara a garotinha.

- Como que ela vai matar um federal? Só me explica isso. - Ele diz baixo.

- Eu não sei, ok? Só que ela disse que vai tentar e eu acredito que ela vai conseguir. Agora se você não quer ajudar ou não se importa, é só falar que eu pego a garotinha e sumo da sua vista até a mãe dela vim buscar ela. - Falo séria olhando nos olhos dela.

- Não é que eu não me importe, Rafaela. - Ele diz baixando a guarda. - Mas, o meu morro não tá nas melhores condições não e se esse cara sobrevive e decide invadir lá? Ele liquida o morro num piscar de olhos. - Ele diz dessa vez calmo.

- Eu vou te ajudar. - Falo jogando mais uma responsabilidade nas minhas costas.

- Você não vai se envolver nisso. - Ele diz.