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- Rafaela Narrando 🌺-

Depois que o Fernando se despediu da mãe dele, eu aguardei os caras para a retirada do corpo e assinei um monte de papéis.

Resolvi toda a burocracia da cremação já que o Fernando não pode.

- A senhora quer qual vaso? - O cara me amostra um monte de vaso onde coloca as cinzas e eu sinceramente não sei descrever o quão cansada eu estou me sentindo.

De verdade, eu disse pro Fernando ir pra minha casa, tomar um banho e descansar, mas eu mesmo, tô super cansada.

Não comi nada e como tudo é tão demorado já está na hora do almoço. Mas, sinceramente? Não tenho fome.

Eu tô triste, cansada, sobrecarregada, preciso de um banho, mas com fome eu não estou.

- Alô? - Atendo o meu celular que não parava de tocar e que continha um número desconhecido.

Geralmente eu não atendo número desconhecido, mas como esse tá assistindo eu resolvi atender.

- Graças a Deus você atendeu! - Ouço a voz da Carol e automaticamente se forma um sorriso em meus lábios.

- Você tá viva, meu Deus, eu não acredito. Você tá mesmo viva. - Comemoro mais pra mim do que pra ela.

- Você pode vim me buscar? Ele tá morto, mas a casa explodiu, não consegui pegar nada a num ser o telefone descartável que ele tinha, eu tô toda suja de sangue, eu tô com medo Rafaela. - Ela fala e acaba chorando.

- Fica calma, aonde você está? - Pergunto enquanto o cara dos vasos olha pra minha cara.

- Eu tô numa casa abandonada. - Ela diz enquanto soluça. - Eu matei o meu marido!

- Tira essa ideia da sua cabeça se não você vai ficar louca. Ele era um monstro e não o seu marido, me passa o endereço que eu tô indo te buscar. - Falo e ela me passa o endereço.

Mesmo cansada, minhas energias dão uma recarregada bem rápida e eu desligo o telefone guardando o mesmo que agora só tinha 15%.

- Eu vou querer esse aqui. - Aponto para um vaso branco coberto por flores de todas as cores.

- O pagamento é avista ou no cartão de crédito? - Ele pergunta.

- Avista. Aceita pix? - Pergunto, ele confirma, eu pago o vaso e eles mandaram buscar amanhã o vaso já com as cinzas dentro.

Saio da loja e já ergo um braço para que o táxi que está passando pare. Dou boa tarde pro motorista e ele parte pro endereço ordenado.

(***)

- MEU DEUS! - Falo exasperada ao encontrar uma Carol completamente suja de sangue. - Você tá bem? - pergunto pra ela que se levanta do chão.

- Agora eu tô. Cadê a minha filha? - É a primeira coisa que ela pergunta.

- Eu deixei ela com a mãe do dono do morro, por que a mãe do meu melhor amigo morreu, longa história... Mas, pode confiar que ela é gente boa e sua filha está sendo muito bem cuidada. - Falo e ela me entrega um sorriso.

- Obrigada, obrigada, obrigada!!! - Ela diz agradecendo.

- Não precisa me agradecer. Eu comprei essas roupas ali na esquina, já que você tem o mesmo corpo que eu, eu comprei do meu tamanho. - Falo com ela e entrego uma sacola. - E comprei o máximo de água que consegui só pra você tirar esse sangue dos lugares perceptíveis. - Entrego a sacola das águas.

- Obrigada, nem sei como te agradecer. - Ela me diz.

- Já disse que não precisa me agradecer. - Falo com ela.

- Agora eu sou uma mulher morta e minha filha também. - Ela diz do nada.

- Como assim? - Pergunto curiosa enquanto ela começa a se despir.

- Eu tive que arrancar meus dois sisos e aproveitei pra arrancar mais dois de trás. - Ela diz e me amostra. - Coloquei perto do corpo do meu ex marido e os dentes de leite que caiu da minha filha também coloquei ao lado dele, como a casa explodiu, quando a polícia for lá e a perícia examinar o local, vão achar Dna meu e da minha filha e aí vão dar a gente como mortas junto com o meu ex marido. - Ela fala e eu acho ela uma gênia.

- Porra, tu pensou hein mulher. - Falo.

- Agora eu vou me reestabelecer, arrumar uma identidade nova e seguir minha vida. - Ela diz enquanto acaba de colocar a roupa limpa.

- E como você matou ele? - Pergunto.

- Eu envenenei ele e quando ele estava morto eu cortei os pulsos e a garganta, quando sangrou bastante eu explodi a casa. - Ela diz.

- Seus vizinhos tem câmera? - Pergunto preocupada.

- Sim, mas eu saí pela mata. - Ela diz.

- Ótimo. Eu quero te fazer uma proposta. - Falo enquanto ela lava o rosto. - Quer me ajudar a tocar o albergue?

- Oi? - Ela arregala os olhos. - Você tá falando sério?

- Sim, infelizmente eu não sou santa e tô com a ficha mais suja do que tudo e vou sujar mais ainda. Eu preciso de uma pessoa que esteja de frente nisso, eu vou te ajudar, vou te dar uma identidade nova pra você e tua filha e vocês podem morar lá no albergue, as despesas da casa são por minha conta. - Falo.

- Você tem certeza que quer uma vida de ficha suja pra você? - Ela me pergunta.

- Não é uma coisa que eu queira, sabe Carol? Mas é como se eu tivesse nascido pra isso. Eu sei atirar, torturar, não matei só o meu marido e sei me defender. Parece que isso tá no meu sangue e pra ser sincera, as duas pessoas mais importantes da minha vida são envolvidas com isso, então não tem como pular a fogueira sem ficar suja de carvão, até porque, eu já me queimei. - Falo totalmente sincera com a Carol.

- Eu vou tá aqui pra te ajudar e você pode ter certeza disso, Rafaela. Você foi a única pessoa que me ajudou sem querer nada em troca, então o que estiver no meu alcance pra fazer, eu vou fazer. - Ela diz. - Obvio que eu aceito cuidar do albergue pra você.

- Então agora somos parceiras, qual é o seu novo nome? - Pergunto.

- Pode me chamar de Paola. - Ela diz rindo e eu estendo a mão.

- Prazer Paola, meu nome é Rafaela. - Falo brincando e ela aperta a minha mão. - Vamos, Paola.

Era Uma Vez...Onde histórias criam vida. Descubra agora