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Domingo 08:00hrs

- Rafaela Narrando 🐍-


Depois do Fernando ter me acordado 5 da manhã pra subir uma montanha que nunca tem fim, chegamos no lugar onde a mãe dele queria ser livre.

Ele tá com o vaso nas mãos e eu tô do lado dele.

A vista daqui é surreal, mas é muito frio. Então, tivemos que nos agasalhar bem.

O carro só sabe até a metade, o resto nós subimos andando e eu quase fiquei pelo meio do caminho.

- O que eu falo, Rafaela? - Fernando me pergunta e eu não sei responder.

- Eu não sei, mas se eu fosse eu no seu lugar, eu desejaria que ela fosse livre, era o que ela queria. -  Falo e ele assente.

- Caralho, isso é muito difícil. Puta que pariu! - Fernando fala angustiado e eu permaneço em silêncio. Esse é um momento dele, eu não vou me meter. - Que você seja livre, mãe. Que você seja o que quiser ser nesse outro mundo. Que você seja tudo e mais um pouco. 8 ou 80. Que a senhora olhe por mim onde estiver. Cuida de nós aqui, minha mãe. E seja livre, livre. - Fernando diz poucas palavras mas é o suficiente.

Ele abre o vaso e é perceptível que ele tá tremendo.

- Eu tô aqui contigo, não esquece disso. - Falo engolindo o choro e ele faz o mesmo. Ele respira fundo e então começa a virar o vaso e as cinzas dela começa a ir pelo ar.

Com o vento as cinzas não caem, elas apenas voam ou deixam ser levadas pelo vento.

Fernando vira todo o vaso até não ter mais nada dentro dele.

Fernando me encara sério e volta a encarar o horizonte. Ele se aproxima da encosta e meu coração por um momento para.

- Fê, o que cê tá fazendo? - Pergunto receosa.

- EU TE AMO, MÃE!!! - Fernando grita me assustando. - TODAS AS MINHAS CONQUISTAS SERAO SUAS, MINHA MAE! EU ESPERO QUE DE ALGUMA MANEIRA EU POSSA TE DAR ORGULHO MESMO COM A VIDA QUE LEVO E ESPERO TE REENCONTRAR UM DIA. VOCE É FODA PRA CARALHA E EU TE AMO PRA SEMPRE, MÃE! SEJA LIVRE MINHA COROA, EU TE AMO!!! - ele grita com toda a alma e meus olhos imediatamente se enchem de lágrimas, mas engulo para não chorar.

Fernando estende a mão pra mim e então eu pego.

Agora é descer essa montanha e desejar que a tia seja o que quiser ser nesse outro mundo, como o Fernando disse.

(***)

- Vai querer almoçar? - Fernando pergunta depois que pegamos a estrada.

Estávamos no centro já, mas já eram 12hr, pegamos um trânsito na hora de descer a serra infernal.

- Você tá bem? - Pergunto.

- Tô, agora ela tá livre. Quer almoçar? - Ele pergunta novamente.

- Acho que apenas um sanduíche ou um suco. Tô com muita fome não. - Falo e ele concorda. - Você é foda, Nandinho.

Ele olha pra mim por um milésimo de segundo e sorri, voltando sua atenção para a estrada.

- Vamo parar ali, comprar uns sucos e almoçar em casa, pode ser? - Ele pergunta.

- Pode. - falo por fim.

(***)

- Cara, eu ainda não acredito que você tá com o coringa, sério. - Fernando fala após engatarmos em um assunto dele com Paola.

- Nem eu, mas nem tem como negar um homem daquele. Coringa é foda demais em todos os aspectos. - Falo e quando o Fernando cruza a avenida para entrar no morro, vejo um monte de carro de polícia, muitos mesmo, com um carro específico que conheço muito bem. - Que patifaria é essa? O que minha mãe e meu pai tá fazendo aqui? Acessa pelo outro lado, Fernando. Vou me abaixar.

Me abaixo completamente perplexa e Fernando acessa o morro pelo outro lado que só os elite conhece.

- Teus genitores são tudo lelé. - Fernando fala rindo enquanto estaciona.

Assim que chegamos na porta da minha casa e que eu ia descer do carro o radinho do Fernando começa a apitar.

- Qual foi, meu bom? - Fernando bipa.

- Nem entra em casa, desce com ela. - Ouço a voz do coringa e ele tá muito bravo pelo tom da voz.

- Vai entregar ela? Que porra é essa coringa? - Fernando já fala puto.

- Confia que eu sei o que eu tô fazendo, desce com ela agora. - coringa diz e Fernando dá uma porrada no volante.

- Confia, confia o caralho! Aí eles te levam e como tu fica? Coringa é maluco, maluco!  - Fernando fala e eu encaro ele.

- Olha pra mim agora, Luís Fernando! - Mando e ele me olha. - Você vai se aquietar e vai descer comigo, são meus pais e a responsabilidade é minha. Como foi que vocês falaram pra mim mesmo? Ah lembrei, SE RECOMPONHA!

Vejo Lk estacionar a moto do lado da minha porta e bate no vidro.

Eu desço do carro e deixo meu celular dentro do carro com tudo meu.

Eu nem tava vestida pra essa ocasião, mas já que eu não posso escolher. Eu tô de botinha, um casaquinho de golinha de lã e calça preta. Esfriou no Rio e lá em Petrópolis tava o próprio gelo.

- Tá com uma cara de patricinha...- Lk diz me fazendo rir.

- Para com isso. - falo e ele estende um fuzil pra mim.

- Se você entrar nessa vida agora, não vai ter como sair nunca mais! Escolhe! - Lk diz e na hora que eu vou pegar o fuzil, Fernando coloca a mão no fuzil.

- Pera aí, Rafaela. Você não quer nem pensar? Você quer ir assim? Tu jura? Tu num nasceu pra essa vida não, cara. - Fernando fala me fitando e eu o fito também.

- Fernando, eu só tenho certeza de uma coisa nessa vida e isso. - Aponto pro fuzil. - É essa coisa. Os três caras da minha vida são envolvidos e comigo não iria ser diferente, mas não é só por isso. Eu me sinto viva quando tô envolvida. O meu sangue fica quente quando tô atirando ou correndo e pulando de telhado e me telhado. O prazer que me dá quando eu tortura alguém ruim, é satisfatório. Então, sim. Eu quero me envolver, mas por que eu já tô envolvida. É como eu disse pra Paola, não tem como pular a fogueira sem se sujar de carvão e eu já tô toda suja. - Falo e pego o fuzil que é pesado colocando nas costas.

Fernando abre a mala e tira o revólver dele de dentro do pneu estepe e coloca na cintura.

- Então bora resolver esse b.o. - Falo descendo o morro com Fernando e Lk atrás de mim e geral do morro olhando pra gente!

Era Uma Vez...Onde histórias criam vida. Descubra agora