Era Uma Vez...

80

- Rafaela Narrando 🐍-

Fernando acaba de fazer a ficha do coringa e fica me fazendo carinho por um bom tempo, até receber uma ligação.

Ele sai pra atender e eu fico no mundo da lua, não quero pensar no Lk, quero acreditar que pra mim ele tá vivo, nem que seja dentro de mim. 

Fernando vem na minha direção e me tira do mundo da lua.

- Qual foi, preciso que tu aguente só mais um pouquinho. Polícia tá vindo pra cá, vou atrasar os caras e tu protege o coringa até ele acabar os curativos. - Ele diz e eu olho pra ele.

Eu não tenho mais forças, não tenho.

- Não quero, não aguento mais. Chega Fernando, chega. Eu tô cansada. - Falo com lágrimas nos olhos.

- Qual foi, Rafaela? Vai esmorecer agora? Tá de sacanagem? Eu tô sem dormir tem dois dias, tô sem comer nada tem dois dias e não desisti de você e nem do coringa, então pode levantando agora e indo lá proteger o coringa enquanto eu tiro os bota da reta de vocês! Você vai lutar, por mim, pelo coringa e por esses nenê aí! - Ele diz e aponta pra minha barriga.

- Isso não vai acabar nunca? Vai ser sempre assim? Felicidade, tristeza, felicidade, desastres... - Lágrimas caem dos meus olhos e isso é real.

Eu tô muito cansada, cansada de verdade. São 5 minutos de felicidade e 23 horas e 55 minutos de tristeza. Isso cansa e cansa muito.

Sei que a vida que eu escolhi não é fácil e eu nunca pensei que seria, mas perder pessoas que eu amo não estava na minha cabeça.

- Isso vai acabar, Rafaela. Vem. - Ele diz e me puxa me levando pra um quartinho. Ele tira as duas pistolas do cós da parte de trás da calça e entrega nas minhas mãos. - Não importa quem for, atira!

- Eu tô num hospital caralho, isso é tão errado. - Falo tremendo.

- Respira fundo e se concentra, ou você quer me perder e de quebra perder o coringa também? - Ele fala e eu mentalizo tudo o que passei e no quão forte eu sou.

Respiro bem fundo engolindo o meu choro e repetindo na minha mente umas mil vezes que eu consigo sim.

- Se tudo der errado eu ligo pra me despedir. - Fernando diz e eu encaro ele.

- Eu não vou perder você também. - falo e o abraço. Ele me dá a chave do carro e se despede.

Saímos dali e eu vou até o quarto do coringa. Bato na porta e escuto "entra".

Entro no quarto e vejo o coringa com a coxa enfaixada, o rosto todo inchado por conta das porradas que levou, a barriga enfaixada por conta das costelas quebradas e um braço enfaixado por conta dos cortes.

A enfermeira me olha de cima a baixo e só aí percebo que ainda tô com a arma nas minhas mãos. Merda.

- É de brinquedo. - Disfarço e chego perto do coringa que tá dormindo. - Já acabou de examinar ele? - Pergunto e ela continua assustada. - Não precisa ficar assim, não vou atirar em você. Responde, já acabaram de fazer tudo com ele?

- Érrr... Sim sim sim, já.. já acabamos. - ela diz toda se tremendo e eu assinto.

- Traz uma cadeira de rodas, eu e ele vamos sair daqui. - Falo e ela nega.