Capítulo XXXII

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William

Foi com uma forte fisgada nas costas que eu despertei, olhei ao redor e constatei que estava em um hospital, ao meu lado Maite folheava uma revista qualquer.

- Oi... - Murmurei.

- Até que enfim acordou. - Disse se levantando e tocando minha testa. - Vou chamar o médico.

Ela nem esperou uma resposta e saiu do quarto voltando alguns minutos depois com um senhor que julguei ser o doutor. Ele começou a me examinar, medir pressão, temperatura, etc.

- Aparentemente está tudo certo, a transfusão foi um sucesso e daqui alguns dias provavelmente receberá alta. Qualquer coisa só me chamar. - Disse e saiu.

- Quantos dias eu fiquei desacordado?

- Dois.

- Que transfusão eu recebi?

- Você perdeu muito sangue e precisou de doação. - Explicou, mas parecia estar meio tensa.

- E por que isso te deixou nervosa?

- Nervosa? Impressão sua. - Respondeu  voltando a se sentar e ler a revista.

- Desembucha Maite, tem caroço nesse angu.

- Josué foi o doador.

Ótimo, o cara que estava beijando minha esposa foi o responsável por salvar minha vida. O mesmo cara que eu havia arrancado sangue várias vezes através de agressões... Quanta hipocrisia.

- Era melhor ter me deixado morrer. - Bufei.

- Concordo plenamente, foi exatamente o que eu disse a ela. - Disse Josué aparecendo no quarto como se soubesse que estávamos falando dele.

- Agora eu devo a porra da minha vida a ele. - Falei frustrado.

- Ou seja, me deve muito pouco, por que o que vale a sua maldita vida?

- Chega vocês dois, pelo amor de Deus. - Falou Maite irritada.

- Acho que está na hora de nos dizer a verdade, não é Maite?

- Que verdade? - Questionei confuso.

- Você tem um tipo meio raro de sangue, e quando o médico veio nos perguntar se algum de nós dois possuía algum parentesco com você para facilitar a compatibilidade Maite disse que eu poderia ser compatível. E ela tinha razão, ambos somos O negativo. Sempre que lhe questionei ela dizia que ia esperar você despertar para falar tudo de uma vez, agora pronto, estamos aqui e esse infeliz despertou, conte o que a senhorita sabe. - Disse se sentando onde Maite estava anteriormente.

- Nada, apenas senti que vocês seriam compatíveis.

- PORRA! - Gritou Josué dando um soco na parede ao lado. - Não somos idiotas, estou cansado de viver as cegas, o que você sabe?

Eu nunca tinha visto o homem tão alterado, e acredito que com razão, ela sabia de algo e deveria contar.
Ela deu um longo suspiro antes de passar as mãos pelos cabelos como se estivesse prestes a fazer a maior burrada de sua vida, porém isso era impossível, visto que a maior besteira ela já tinha feito e por isso estávamos aqui nesse maldito quarto de hospital.

- Vocês dois são... Irmãos.

Eu ri, gargalhei como nunca, irmãos? Que piadinha de merda. Eu sou filho único, sempre fui.

- Como você é engraçadinha, agora diga logo a verdade.

Ela apenas me encarou sem esboçar nenhuma reação, ela não estava rindo, e primeiro de abril eu tinha certeza que não era.

- DIGA QUE VOCÊ ESTÁ MENTINDO! - Gritei desesperado.

- Como descobriu? - Perguntou Josué calmo demais, como ele conseguia?

- Desde o dia que nos aliamos e você me contou...

- Pera aí,  como assim "se aliaram"? - A interrompi. - Foram vocês dois os culpados pelas denúncias? - Apenas o silêncio bastou como resposta. - Malditos sejam!

- Enfim, continuando. E Josué me contou que era filho de alguém poderoso e havia sido entregue a Dorotéia para que pudesse cuida-lo eu fiquei com o pé atrás e decidi investigar, foi então que encontrei uma fotografia no armário da cozinheira, era de uma mulher muito chique que segurava um menino no colo e tinha uma leve saliência na barriga, só quem prestasse muita atenção veria que ela estava grávida.
Depois vi uma foto da mesma no seu escritório William e quando questionei você me disse que era sua mãe, se lembra?

Eu concordei com a cabeça, lembrava-me perfeitamente de como ela tinha ficado estranha ao ver o retrato.

- Pois bem, apenas liguei as peças, e fui questionar Dorotéia que confirmou a história. A mãe de vocês conseguiu esconder a gravidez e teve a sorte do marido estar viajando por causa da Máfia nos meses finais da gestação, e quando deu a luz ele estava preso. Como toda mãe ela amava seu filho e queria que ele fosse bem cuidado, assim entregou o menino a Dorotéia.

- Quem é meu pai? - Perguntou Josué de cabeça baixa.

- Era algum dos capangas de Levy, mas ele desapareceu no mundo por medo de tudo ser descoberto.

- Um covarde desgraçado! - Esbrajevou nervoso.

Eu ainda estava em choque, não conseguia acreditar naquilo. Como era possível?
Um irmão nessa altura do campeonato, um irmão que eu tanto tinha raiva, que se juntou a Maite para derrubar a Máfia, para me derrubar, que teve a audácia de ficar com minha esposa e era nítido em seu olhar que a queria.

- Eu não tenho irmão. - Falei por fim.

- E você acha que eu tenho? Quantas vezes você me humilhou? Quantas vezes me socou naquele porão até eu desmaiar? Quantas vezes me sentou naquela cadeira desgraçada e me deu choque? Você nunca foi nada para mim e continuará sendo assim, apenas um filho de uma puta ordinário que merece queimar até a eternidade no quinto dos infernos.
Eu doei esse sangue somente para não ver essa mulher incrível sofrer, mas saiba que a cada segundo eu torcia para não dar certo.
Então sim, você não tem irmão e eu muito menos. - Falou e saiu em seguida.

- Eu imagino que seja muito difícil para vocês dois, mas nunca é tarde demais. Vou te deixar um pouco sozinho, sei que é disso que precisa no momento.

- Ok.

Eu nem a olhei, porque meus olhos estavam marejados demais, e eu me recusava a deixar que alguém visse aquilo.
Como que minha vida podia ter virado de ponta cabeça do dia para a noite?

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