Capítulo 16 - Aylla

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Me sentei no canto do sofá, abracei minhas pernas e chorei sem parar. Eu precisava sair dali. Não suportava ficar sozinha. Eu tinha muito medo de tudo e resolvi ligar para Emma.

Ela chegou em seguida e me levou para o apartamento de Enrico, onde estava morando com Brad.

Assim que entramos, Brad veio até nós assustado ao ver meu estado.

- O que aconteceu baby, por que ela está assim?

- Eles brigaram e seu brow a deixou sozinha em casa.

- O Enrico fez isso com ela? Mas por quê? Ele nunca a deixaria sozinha.

- Mas deixou. Vou subir com ela. Você fique aqui, por favor.

- Claro. Fiquem tranquilas. Estarei aqui se precisarem.

Eu não conseguia nem responder. Estava abalada demais por ter sido abandonada no meio de uma briga. Nem ao menos sabia onde ele estava, o que estava fazendo e com quem.

Subimos para o quarto, onde fui tão feliz com Enrico, mas que naquele momento, me deixava ainda mais triste.

- Eu estou perdendo ele, Emma.

- É claro que não, maninha. Vocês estão passando por muita coisa. É normal isso acontecer.

- Ele não é assim. Eu estou afastando-o de mim.

- Aquele cara é a pessoa mais apaixonada que eu já conheci. Ele nunca vai te deixar. Ele só precisa esfriar a cabeça. Vocês dois precisam.

- Eu tenho medo que ele me rejeite. Eu não posso dar nem um filho pra ele. Ele vai me deixar.

- Para de falar bobagem e descanse. Vocês dois estão esgotados.

Ficamos conversando por mais um tempo, mas os remédios que tomei começaram a fazer efeito e eu não consegui mais ficar acordada.

Não sei por quanto tempo dormi, mas acordei assustada escutando Enrico gritar no andar de baixo. Fui até a escada mancando bastante e vi Emma e Brad tentando acalma-lo em vão.

- Ali está ela. Fala se não é a mulher mais linda do mundo? Pode falar. Vamos embora pequena, vem.

Ele estava tão bêbado que mal conseguia ficar em pé.

- É melhor ir embora, Enrico. Amanhã vocês conversam com calma. - Brad o segurava para não cair.

- Não, não e não. Ela vai comigo. Eu não durmo sem ela. Preciso do cheiro dela brow.

- Dorme aqui então. Você não tem condições de ir embora. A casa é sua mesmo.

- Não... Não é mais. Minha casa é minha pequena. Vem amor. Preciso só dela.

Eu estava sem saber se iria até ele ou o deixava falando sozinho.

- Aylla é melhor você voltar para o quarto. Nós cuidamos dele. - Mas quando dei por mim, já tinha descido as escadas.

- Olha você aí. Ela é linda né, Emma? Eu sou louco por essa mulher. Ela é por mim também, mas eu acho que hoje ela me odeia. Você me odeia, pequena? - Ele se apoiava no amigo que estava quase se desequilibrando com aquele homem imenso em cima dele.

Eu permaneci em silêncio, pois não sabia o que falar naquele momento.

- Vamos brother. Vou te levar para o quarto.

- Não. Eu vou embora. Só vim buscar minha mulher. Vamos mulher. Sabe Emma essa bruxinha me enfeitiçou e roubou meu coração. E agora eu não posso mais viver sem ela. Vem pra casa meu amor. Eu preciso do teu cheiro para dormir. Sabe Brad ela é a mulher mais cheirosa do munnnndo todinho? Ela é meu perfume e o colorido da minha vida, mas ela não enxerga isso. Ela não vê que tuuuudo o que faço é por ela.

Ele estava falando mole e sem parar. Me aproximei dele. Mas ele esticou o braço me parando.

- Não, espera. Eu preciso te falar. Eu quero falar uma coisa. Eu Enrico Cavalcante, dono dessa merda todinha, abriria mão de tudo isso por você. Dou tudo, até a roupa do corpo. Olha só. - Ele começou a desabotoar a camisa mas Brad o impediu. - Mas eu preciso fazer como Francisco de Assis. Não quero mais nada dessa porra se eu não tiver ela. Só quero o meu amor comigo.

- Para com isso. - Eu finalmente consegui abrir a boca. - Vamos para casa. Já chega desse show.

- Você me perdoa amor? Eu não podia ter te abandonado. Eu tenho que te proteger. Eu não consegui amor. Me perdoa. Ele se jogou no chão se grudando em minha perna e chorava sem parar. - Era minha obrigação proteger vocês e eu falhei. Eu não consegui proteger nosso pacotinho. Eu sou um merda de um fracassado. - Eu me ajoelhei mas ele não me olhava.

- Você me protege com sua vida todos os dias Enrico. Para com isso.

- Eu não consegui salvar ele, Aylla. Ele era pequeno demais. Ele cabia aqui ó, na palma da minha mão. Ele era lindo, mas eu não o salvei e falhei como pai. Ele era minha responsabilidade... Minha! Eu queria ter carregado ele aqui nos ombros e não numa caixinha. - Ele batia nele mesmo.

Todos estavam chorando muito. Eu o abracei e choramos juntos.

Nunca o vi tão vulnerável como naquele momento. Toda sua armadura de homem forte caiu e ele transbordou toda a tristeza que segurou por meses. Enrico estava sofrendo tanto quanto eu, mas eu não pude enxergar, pois estava enterrada em minha auto piedade.

- Está tudo bem grandão. Nós vamos superar isso juntos. Eu estou aqui com você. Esquece o que aconteceu.

- Eu não posso... Não posso. Me perdoe. Eu não cheguei a tempo. Eu corri muito, muito mesmo, mas não consegui te alcançar e nem salvar nosso bebê.

- Vamos embora. Amanhã é um novo dia e conversaremos com a cabeça fria. Você chama um táxi, Emma?

- Claro que não. Eu levo vocês - falou Brad. Apenas concordei.

Nossos amigos o colocaram no banco de trás e fomos em silêncio o caminho todo. Enrico estava deitado com a cabeça em meu colo, eu fazia carinho em seus cabelos e olhava para a rua vazia. O tempo parecia saber de toda nossa tristeza e derramava uma garoa melancólica do lado de fora. A madrugada se mostrava tão triste quanto os quatro ocupantes daquele carro e deixei que minhas lágrimas caíssem em torrentes.

Quando chegamos em casa, eles o colocaram na cama e se foram.

Tirei suas roupas e sapatos enquanto ele resmungava algo e me deitei, o puxando para perto, assim como ele fazia quando eu precisava de seus braços em torno de mim. Ele se agarrou em minha cintura e adormeceu.

Estava sem sono e refletia sobre tudo o que estávamos vivendo desde meu acidente. Enrico estava carregando o mundo nas costas esse tempo todo. Precisávamos realmente nos afastar de tudo por alguns dias. Precisava segurar novamente as rédeas da minha vida ou nunca me reergueria.

Acordei dolorida no outro dia, pois dormi toda torta com Enrico praticamente em cima de mim. Tentei me soltar de seus braços, mas foi impossível. Ele me puxou ainda mais para perto me colando nele.

- Nem pense em sair dessa cama.

- Eu preciso me arrumar. Estou toda torta e com dor.

No mesmo instante ele se afastou e se sentou na cama ainda sonolento.

- Que horas são.

- Não faço ideia, mas é tarde. Como você está?

- Bem, na medida do possível. Estou morrendo de dor de cabeça. Me diz que eu não briguei com você de novo. Não me lembro de nada.

- Se tivéssemos brigado, não teria acordado em meus braços e sim no sofá. Vamos esquecer o que passou. Geçmişte kalan. (Que fique no passado).

- Me perdoe pequena. Eu não queria ter saído daquele jeito. Eu... - Antes que terminasse, dei um beijo bem molhado naquela boca suculenta. Não queria me desgrudar dela e ele me deitou na cama, subindo em cima de mim. - Não sei o que fiz para merecer esse beijo, mas eu quero outro.

- É para já. - O agarrei e colei meus lábios nos dele novamente. Parecia que nunca tínhamos o suficiente um do outro e sempre buscávamos por mais. Quando eu perdi o fôlego, sentei na cama. - Agora preciso começar a organizar as coisas para nossa viagem.

- Organiza depois, agora eu vou desorganizar você.

- Nem pensar. Temos muitas coisas para resolver antes de irmos. Vamos, se levante. - Fiquei de pé e o puxei pelo braço, mas ele me jogou de volta na cama.

- Não vou deixar você fugir. Seja lá o que tenha que fazer, deixe para depois. Olha como você me deixou.

Ele colocou minha mão em sua ereção e mordiscou meu pescoço.

- Isso é jogo sujo, grandão. Eu tenho uma montanha de problemas para resolver, é sério.

- Isso aqui é muito sério também.

Tentei sem sucesso sair daquele quarto. Consegui passar pela porta somente uma hora depois. Estava descabelada, desalinhada e com cara de quem estava bem saciada e relaxada.

Cheguei à cozinha e encontrei Ruth preparando nosso café da manhã. Eu nunca tive uma empregada fixa em casa. Sempre arrumei tudo e pagava apenas uma faxineira. Mas Enrico fazia questão que ela viesse todos os dias para cuidar de tudo desde que sofri o acidente e francamente, era muito bom ter tudo arrumado e comida pronta. Desde a primeira vez que a vi no apartamento de Enrico, eu me simpatizei com ela. Ruth era uma mulher mais velha e sempre mostrou ser de confiança.

- Bom dia Aylla, está tudo bem?

- Han...? É... Está sim, mais que bem. Você pode me dar um copo d'água, por favor? - pedi, jogando o corpo no balcão.

- Ela colocou a mão em minha testa para ver se eu estava febril, mas minha quentura tinha nome e sobrenome e estava em ponto de bala novamente quando consegui fugir dele.

- Estou bem. Não se preocupe. - Ela deu um sorriso que dizia saber muito bem do porquê eu estar naquele estado e se afastou.

- O senhor Enrico vai tomar café agora?

- Vai sim. Se você puder fazer uma bandeja, eu levo para ele.

Ela fez uma bandeja tão grande que pedir ajuda até a porta do quarto para segurá-la. Certamente ela sabia que aquele monumento precisava de muita "sustânça" como ele dizia, para repor suas energias.

Tomamos café juntinhos, com direito a iogurte na boca.

- Vou virar uma porca se continuar comendo assim sem malhar.

- Você vai ser uma leitoa muito gostosa.

- Quero ver você repetir isso quando eu não conseguir passar pela porta.

- Isso nunca vai acontecer. Dobro nossa malhação na cama se precisar. Você está bem? - perguntou, notando minha cara fixa na a xícara de café.

- Estou sim. Não se preocupe. - Na verdade, havia me lembrado que passei uma temporada sem tomar café por conta do meu pacotinho, mas mesmo com um nó na garganta, aguentei firme e o tomei mesmo assim. Não queria mais mostrar tanta fragilidade para Enrico. Precisava me manter firme para conseguir apoia-lo e ajudar no que precisasse.

- Marquei nossa viagem para o próximo fim de semana. Tudo bem para você?

- Acho que sim. Só teremos que tomar cuidado, pois ainda não marquei para colocar o DIU. Também precisamos comprar roupas para o frio que deve estar por lá. Hoje vou fazer algo muito importante.

- E o que seria esse algo importante?

- Vou conversar com Karim. Não quero mais adiar esse assunto. Você está certo. Ele me magoou muito, mas não vai deixar de ser meu irmão.

- Se lembre de tudo o que eu falei. Se quiser, vou junto.

- Não precisa. Eu refleti muito sobre o que todo mundo disse e temos que conversar sozinhos. Não precisa se preocupar. Prometo que não vou me matar quando eu sair de lá.

- Você vai voltar a trabalhar?

- Provavelmente. Eu não estou mais aguentando ficar em casa, mesmo que seja em sua companhia, amor. Eu te amo, mas acho que está na hora de sairmos da toca e enfrentar o mundo. Se eu não fizer isso logo, meu medo vai tomar conta de mim e me tornarei minha própria refém.

- O que aconteceu ontem que te fez tomar todas essas decisões. Minha memória está em cacos. Só me lembro de entrar no primeiro bar que vi e beber até não me lembrar de mais nada.

- Aconteceu o que tinha que acontecer. Tivemos um dia estressante demais. Brigamos e no fim nos acertamos. Vamos caminhar lado a lado a partir de agora. - Enrico começou a me olhar estranhamente, coçando a barba. - O que foi? Por que está me olhando assim?

- Porque cada dia que passa, estou mais loucamente apaixonado por você, pequena.

- É mesmo, senhor Cavalcante? Pois saiba que meu sentimento é recíproco.

- Vou te dar um banho, o que acha?

- Só se você fizer massagem.

- Fechou.

Fomos para nossa banheira e tomamos um banho demorado e relaxante. Ele fez uma massagem bem caprichada enquanto conversávamos sobre nossa viagem. Nos vestimos e eu tomei meu coquetel de remédios antes de sair finalmente, para a difícil conversa que teria com meu abi.

- Ruth, não precisa fazer almoço. Vamos ficar fora o dia todo. Mas se você quiser deixar uma jantinha pronta eu agradeço. Pode ser qualquer coisa.

- Tudo bem. Aylla. Eu não sei se devo, mas é que vi que tem um quarto que está sempre trancado. Eu devo limpá-lo ou não?

Olhei para Enrico que estava vermelho de vergonha.

- Estou saindo. Vou dar alguns telefonemas e te espero no carro enquanto vocês conversam. A Ruth assinou um contrato de confidencialidade. Agora é com você senhora Grey.

- Pode correr seu covarde. Deixa a bucha comigo. Depois você me paga. - Brinquei com ele, que me beijou e partiu.

- Voce assistiu aquele filme que tinha um quarto trancado também?

- Claro e quem não assistiu? Sonho com aquele homem até hoje. Que meu marido que não me escute. Vai me dizer que vocês gostam de Sado...

- NÃOOOO! Claro que não. De jeito nenhum. Mas é um quarto especial. Temos algumas coisinhas lá dentro para nos divertirmos. Nada que inclua dor, Ruth. Isso jamais. Enrico é um cavalheiro.

- Ainda bem. Por um instante pensei mal do meu patrão. Isso não combina com ele.

- Fica tranquila. A perigosa aqui sou eu. Mas no bom sentido. Se quiser podemos entrar para você conhecer. Não tem problema, mas você sabe que jamais poderá falar sobre nada do que ver ou ouvir aqui.

- Fica tranquila. Li bem as entrelinhas do meu contrato de trabalho e de confidencialidade. Não se preocupe.

- Se é assim. Vamos lá.
Entrei com ela em nosso quarto do prazer e ela ficava cada vez mais com a boca aberta.
Mostrei nossos brinquedinhos mas preferi me omitir sobre certas coisinhas que tinha por lá.

- E então. Viu que não tem nada de mais?

- Eu quero um quarto desse em minha casa. Você me ensina a usar algumas dessas coisas?

- Aí meu Deus. Estou criando outro monstro. - Caímos na risada.

- Desculpe, mas é que minha relação com meu marido anda tão rotineira que pensei em apimentar as coisas com ele. Só não sei como.

- Se você tiver a mente aberta eu te ajudo com isso. Mas não diga a ele com quem você aprendeu. Coloque a culpa na internet, ok?

- Claro. Jamais falarei. Só não quero esse trem porque eu iria dar um nó se subisse nisso - falou apontando para o balanço erótico.

- Então outra hora eu te explico tudo. Agora você já sabe o que tem aqui. Essa porta tem que estar sempre trancada e a chave deve ser guardada sempre no mesmo lugar. Enrico gosta que deixe tudo sempre em ordem e sempre na mesma posição, por favor. Tome cuidado para não trocar nada do lugar. Tire uma foto do antes para não se esquecer. Mas apague depois.

- Vocês são tão lindos juntos. Admiro o amor de vocês. Amo meu marido, mas vocês dois parecem um casal de contos de fadas. - Ela passava a mão pelo imenso papel de parede com nossa foto e senti que estava emocionada.

- Ele realmente é meu príncipe, Ruth. Mas quando está nervoso, sai de baixo.

- Todos temos nossos limites. É melhor eu começar a arrumação, ou meus chefes me darão uma bronca.

- Boa diversão. Até amanhã.

A deixei sozinha e fui para a empresa de Karim. Me sentia tão nervosa quanto na noite em que fui falar com ele sobre Enrico.

Não voltaria atrás. Nos acertaríamos ou romperíamos de vez, mas não adiaria aquela conversa, por mais difícil que fosse.

 Nos acertaríamos ou romperíamos de vez, mas não adiaria aquela conversa, por mais difícil que fosse

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Vidas Cruzadas Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora