Capítulo 47 - Aylla

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   Eu não consegui acreditar que chegamos ao fim. Estava morta por dentro sem Enrico. Mas não dava mais. Não era egoísta a ponto de prendê-lo em uma relação que so estava fazendo mal a ele. Por mais que nos amassemos muito e fossemos almas gêmeas, ao nosso redor, tudo estava queimando. Nossas famílias estavam em perigo, minha amiga havia morrido e estavamos esgotados mentalmente. Enquanto tudo não se resolvesse, não poderia ficar perto dele, então, o melhor era mesmo me afastar.

   Aquele miserável conseguiu me destruiu sem nem ao menos me tocar. Nunca senti tanta tristeza na vida. Apenas quando perdi nosso bebê.

   Enrico era parte de mim e da minha alma. Era a calmaria em minha turbulência e o amava mais que a mim mesma. Fui contra tudo o que acreditava para que pudesse viver nosso amor e me entreguei de corpo e alma a ele. Mudei e melhorei  para que ele não sentisse vergonha de estar comigo, sentia orgulho por ter deixado aquela vida para trás e não sentia a menor vontade de voltar para ela. Enrico me mostrou um novo mundo cheio de cor. Ele era o meu arco iris e eu precisava dele como o ar para respirar.

   Assim que entrei em meu apartamento me larguei no chão, me sentindo sufocada e a sensação de desamparo me invadiu. Vivi em poucos meses com Enrico o que a maioria dos casais não vivem em anos.

   Experimentamos o amor, a paixão, a luxúria, a dor, a perda, o recomeço a superação e uma cumplicidade que nunca sonhei em viver com uma pessoa. Nosso amor era fora do padrões, não obedecia regras. Éramos impulsivos e especialistas em tirar proveito de tudo, pois vivíamos um para o ouro em nosso mundo particular.

   Tive vontade de ir atrás dele na mesma hora. Queria dizer para que esquecesse tudo o que eu havia dito e que voltasse para mim, mas não podia. Não enquanto Thomas não fosse pego e todos estivessem em segurança. Senti muita vontade de mata-lo com minhas próprias mãos e ao mesmo tempo, tinha verdadeiro pavor com a possibilidade de encontra-lo novamente. Nunca mais queria ter que olhar para aquela cara nojenta, pois sentia verdadeira repulsa por ele.

   Não queria ir para nossa cama, o cheiro do meu grandão estava impregnado naquele quarto e eu não sabia mais dormir sem estar em seus braços. Aprendemos a conviver juntos, no adaptamos e tudo ali tinha nosso jeitinho. Desde nossas xícaras favoritas, até nossas escovas de dentes. Tinhamos nosso lado da cama, mas na maioria das vezes, acabávamos embolados num único canto de tão juntos que dormiamos. Fechando meus olhos, pude sentir seu toque em meu corpo e me abalei ainda mais. Aquele apartamento me trazia lembranças de mais e só queria que aquela dor passasse. Então me larguei no chão da sala exausta e adormeci ali mesmo.

   Acordei com Ruth me chamado no outro dia. Estava toda dolorida e com muita dor de cabeça depois de tanto chorar.

   — Aylla querida, o que aconteceu? Por que está no chão?

   — Porque aqui é o meu lugar, Ruth. No chão... na lama...

   — Levanta querida, você pode se resfriar. — Ela me ajudou a ficar de pé e me sentou no sofá.

   — Já estou morta, Ruth. Não tem como ficar pior.

   — Não fale bobagens menina. Onde está o senhor Enrico?

   — Não sei, mas nem adianta procurar aqui porque não vai achar.

   — O que está acontecendo, Aylla? Você está estranha.

   — Nós terminamos — disse entre soluços.

   — Impossível. Um amor como o de vocês não acaba nunca.

   — Nosso amor não acabou, mas o noivado sim. Foi preciso e isso me matou ontem.

   — Não fala isso, vou te ajudar a tomar um banho e fazer um café bem forte. Pensar melhor de barriga cheia. — Ela me levou até o banheiro e me ajudou a tomar banho. Não conseguia falar. Apenas chorava, me lembrando de tudo o que já tínhamos vivido ali e de ver todas as suas coisas que dividiam espaço com as minhas.

Vidas Cruzadas Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora