Capítulo 3 - Enrico

103 22 4
                                    

   Pouco tempo depois de nos aninharmos, dois médicos entraram e tive que me afastar.

   Uma era a fono, que passou vários exercícios e muitas recomendações. O outro era seu fisioterapeuta. Eu sabia que era necessário que fizesse aqueles procedimentos, porém, só de ver um homem tocando o que era meu, quis joga-lo porta à fora. Me controlei como pude e dei graças a Deus quando acabou com aquela tortura. A fono foi enfática em dizer para que Aylla falasse somente o necessário, mas assim que saíram, aquela matraca começou a falar sem parar.

   — Enrico.

   — Aylla não fica forçando suas cordas vocais. A fono disse para você falar pouco.

   — Eu sei, mas preciso saber o que aconteceu com meu carro?

   — Deu PT. Já comprei outro — disse incisivo.

   — Como assim, comprou outro? E o seguro não vai me dar um novo?

   — Vai. Mas o que eu comprei é seu presente de aniversário. Como não pudemos comemorar, comprei para te entregar quando sair daqui.

   — Obrigada. Mas um carro é de mais. — Ela levantou a cabeça me analisando. — O que houve com os freios e os air bags? Me lembro de não funcionarem.

   — Não sabemos ainda. A perícia não chegou a uma conclusão. Mas provavelmente foi um problema nos sensores. — Odiava ter que mentir para ela, mas ou era isso ou despejar toda a merda em cima dela e isso eu não iria fazer.

   — O que você está me escondendo? Não foi só isso. Eu conheço bem de mecânica e sei que não tem como haver uma falha assim sem acionar a luz do painel.

   — Pare de falar ou você ficará com essa voz pra sempre — disse, tentando mudar de assunto, mas Aylla era ligeira. — Use essa língua para me beijar. Estou morrendo de saudade do seu beijo. — Ataquei sua boca, não dando chance para continuar com aquele assunto.

   Estávamos nos beijando e nos acariciando quando ouvimos alguém pigarrear atrás de nós.

   — Desculpe atrapalhar mas é que precisamos dar banho nela. O fisioterapeuta pediu que tentássemos levá-la até o banheiro. Será que você consegue andar até lá?

   — Da próxima vez, bata na porta e espere até que alguém mande entrar. — Apenas desviei o olhar. Minha Aylla estava de volta. Mesmo quase sem voz, conseguia ser uma Cruela quando queria. A enfermeira ficou vermelha na hora, mas não recuou. — Consigo andar, mas só meu namorado vai me dar banho.

   — Não sei se será possível. São as normas do hospital.

   — Enfie essas normas no rabo e saia daqui. Ninguém mais vai me ver pelada. Já me bulinaram de mais aqui dentro. Ou ele me dá banho ou não tomo.

   — Eu posso fazer isso facilmente, não se preocupe, dou conta dessa moça. — Dei uma piscada despretensiosa e a enfermeira sorriu. Quando me virei, dei de cara com uma ruiva de olhos vermelhos raivosos olhando para mim.

   — Tem certeza? Se ela se machucar a responsabilidade será minha.

   — Você acha que será a nossa primeira vez? Ele está mais que acostumado a me carregar para o banho. Pode ir. Nos deixe em paz. — A enfermeira abaixou a cabeça e saiu toda sem graça, me fazendo sentir pena.

   — Você não precisava falar assim com a coitada.

   — E vocês não precisavam ficar flertando na minha cara. Se quiser posso ir sozinha e vocês continuam de onde pararam.

   — Ah, pelo amor de Deus! Não posso ser gentil com ninguém?

   — Não! Principalmente com essas enfermeiras que estão todas no cio.

Vidas Cruzadas Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora