Pouco tempo depois de nos aninharmos, dois médicos entraram e tive que me afastar.
Uma era a fono, que passou vários exercícios e muitas recomendações. O outro era seu fisioterapeuta. Eu sabia que era necessário que fizesse aqueles procedimentos, porém, só de ver um homem tocando o que era meu, quis joga-lo porta à fora. Me controlei como pude e dei graças a Deus quando acabou com aquela tortura. A fono foi enfática em dizer para que Aylla falasse somente o necessário, mas assim que saíram, aquela matraca começou a falar sem parar.
— Enrico.
— Aylla não fica forçando suas cordas vocais. A fono disse para você falar pouco.
— Eu sei, mas preciso saber o que aconteceu com meu carro?
— Deu PT. Já comprei outro — disse incisivo.
— Como assim, comprou outro? E o seguro não vai me dar um novo?
— Vai. Mas o que eu comprei é seu presente de aniversário. Como não pudemos comemorar, comprei para te entregar quando sair daqui.
— Obrigada. Mas um carro é de mais. — Ela levantou a cabeça me analisando. — O que houve com os freios e os air bags? Me lembro de não funcionarem.
— Não sabemos ainda. A perícia não chegou a uma conclusão. Mas provavelmente foi um problema nos sensores. — Odiava ter que mentir para ela, mas ou era isso ou despejar toda a merda em cima dela e isso eu não iria fazer.
— O que você está me escondendo? Não foi só isso. Eu conheço bem de mecânica e sei que não tem como haver uma falha assim sem acionar a luz do painel.
— Pare de falar ou você ficará com essa voz pra sempre — disse, tentando mudar de assunto, mas Aylla era ligeira. — Use essa língua para me beijar. Estou morrendo de saudade do seu beijo. — Ataquei sua boca, não dando chance para continuar com aquele assunto.
Estávamos nos beijando e nos acariciando quando ouvimos alguém pigarrear atrás de nós.
— Desculpe atrapalhar mas é que precisamos dar banho nela. O fisioterapeuta pediu que tentássemos levá-la até o banheiro. Será que você consegue andar até lá?
— Da próxima vez, bata na porta e espere até que alguém mande entrar. — Apenas desviei o olhar. Minha Aylla estava de volta. Mesmo quase sem voz, conseguia ser uma Cruela quando queria. A enfermeira ficou vermelha na hora, mas não recuou. — Consigo andar, mas só meu namorado vai me dar banho.
— Não sei se será possível. São as normas do hospital.
— Enfie essas normas no rabo e saia daqui. Ninguém mais vai me ver pelada. Já me bulinaram de mais aqui dentro. Ou ele me dá banho ou não tomo.
— Eu posso fazer isso facilmente, não se preocupe, dou conta dessa moça. — Dei uma piscada despretensiosa e a enfermeira sorriu. Quando me virei, dei de cara com uma ruiva de olhos vermelhos raivosos olhando para mim.
— Tem certeza? Se ela se machucar a responsabilidade será minha.
— Você acha que será a nossa primeira vez? Ele está mais que acostumado a me carregar para o banho. Pode ir. Nos deixe em paz. — A enfermeira abaixou a cabeça e saiu toda sem graça, me fazendo sentir pena.
— Você não precisava falar assim com a coitada.
— E vocês não precisavam ficar flertando na minha cara. Se quiser posso ir sozinha e vocês continuam de onde pararam.
— Ah, pelo amor de Deus! Não posso ser gentil com ninguém?
— Não! Principalmente com essas enfermeiras que estão todas no cio.
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Vidas Cruzadas Parte III
Romansa. 🌹 Vós, que sofreis porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele 🌹 Enrico é o exemplo de que o amor, em sua magnitude, pode operar milagres. Mas, diante de situações e decisões a serem tomadas, ele se vê em uma luta interna q...