Capítulo 30 - Enrico

59 11 0
                                    


   — Anda logo Aylla, não quero chegar atrasado. Para de enrolar.

   — Não estou enrolando, só não acho nada legal para usar.

   — Você já revirou esse closet duas vezes, não vai brotar nada só de você remexer nessa tonelada de roupa.

   — Decidi. Vou de pijama, assim já fico pronta para dormir.

   — Como se por um acaso você dormisse de roupa. Vamos logo pequena. — Eu estava impaciente, pois odiava me atrasar para um compromisso. Desisti de esperar por ela e fui tomar uma bebida.

   Coloquei minhas músicas para tocar, já que, pelo visto ela demoraria para ficar pronta. Então a ouvi reclamar do closet.

   — Como você gosta de velharia.

   — Não são velharias. São clássicos.

   — Clássicos do século retrasado. Seu celular deve ter teia de aranha e cheira a naftalina.

   — Para de falar bobagens e se troca logo. — Tínhamos combinado de ir jantar na casa do empresário Oslo. Não tive como recusar seu convite, mas Aylla estava indo contra sua vontade.

   Eu precisava estreitar os laços com ele, pois meu hotel e restaurantes de Curitiba, eram abastecidos por suas empresas. Eu sabia que não poderia me envolver com ele na parte obscura de seu negócio, mas como empresários, nós tínhamos que ficar o mais próximos possível.

   — Estou pronta. O que achou?

   — Um espetáculo. Está linda como sempre — disse com propriedade. Ela realmente estava perfeita.

   — Tirando essa sapatilha horrorosa.

   — Você sabe quanto custou essa sapatilha? É uma original da Gucci e você a desdenha desse jeito?

   — Obrigada pelo presente, mas você sabe o que eu penso sobre sapatos baixos.

   — Sei exatamente, mas você está linda assim mesmo. Agora chega de me enrolar e vamos logo.

   — Não quero ir amor. Não me sinto segura na casa daquele homem.

   — Mas nós só iremos jantar e conversar um pouco. Estamos trancados nesse hotel há dias. Vamos sair um pouco da toca.

   — Adoro nossa toca, mas tudo bem. Se temos que ir, vamos logo, para de enrolar — Aylla disse me empurrando para fora do quarto.

   Quando chegamos ao hall do hotel, presenciei o gerente chamando a atenção disfarçadamente  do Thomas. Eu havia me simpatizado muito com aquele rapaz e até conversamos várias vezes. Por isso resolvi me aproximar e ver o que estava havendo ali.

   — Algum problema? 

   — Não senhor. Está tudo em ordem. — Assim que me viu, o gerente se endireitou e tentou disfarçar seu nervosismo. Apenas o ignorei e voltei a pergunta para o rapaz, que estava sem graça e visivelmente constrangido.

   — Não foi nada mesmo, senhor Enrico, não se preocupe — disse o rapaz, sem nem levantar a cabeça para me encarar.

   — Vou perguntar novamente. O que está acontecendo? E por que essa discussão no hall do meu hotel? Imagino que você tenha um escritório por algum motivo, não é mesmo, André?

   — Sim senhor, isso não irá acontecer novamente. É que estamos recebendo um grupo grande de hóspedes para a próxima semana e preciso que Thomas entre mais cedo, mas ele estava me dizendo que não será possível.

Vidas Cruzadas Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora