Capítulo 20 - Aylla

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- Aylla, seja bem-vinda minha querida. Como você está linda. Entre. - A mãe de Enrico como sempre era muito simpática e nos recebeu muito bem.

- São para você, mãe. - Enrico lhe entregou um grande buquê de girassóis que eu havia descoberto serem suas flores preferidas.

- São lindas, meu filho. Você se lembrou que eu amo girassóis. Obrigada.

Ele me deu a piscadinha. Como forma de agradecer minha ideia. Seu pai veio em seguida e nos recebeu com um abraço.

- Filho. Entre. Eu mal posso acreditar que estou recebendo finalmente vocês aqui. - Ele abraçou o filho demoradamente e vi que Enrico se segurou para não chorar nos braços do pai. - Desculpe a emoção. É que eu esperei tanto por isso e... Bem, vamos entrar.

Meu sogro estava visivelmente emocionado por receber o filho em sua casa pela primeira vez depois de anos.

- Estou muito feliz por estar aqui pai. Obrigado pelo convite desta noite. Isto é para o senhor. Mas acho que só poderá usar se eu estiver junto.

Augusto abriu a caixa que Enrico entregou e ficou admirado com o presente.

Eu havia comprado um jogo de xadrez. Suas peças eram personalizadas e cada uma era esculpida com perfeição. Eu francamente nunca me imaginava jogando algo tão tedioso e demorado. Mas Enrico havia me dito que era o que mais ele jogava com o pai no hotel fazenda deles. Era algo de pai e filho e eu quis resgatar novamente aquela lembrança boa de sua juventude.

- Obrigado filho. Nunca mais eu joguei depois que você se foi. Será que ainda me lembro?

- Depois de perder uma dez partidas para mim, tenho certeza que se lembrará. - Enrico brincou, tentando fazer o pai se distrair e esquecer o que ele havia causado.
- Se bem me lembro, você era o recordista em perder para mim. Então não se iluda rapaz.

Nos sentamos e conversamos um pouco.

- Pai, sua casa é linda.

- É grande de mais. Mas suas irmãs são exageradas, fazer o quê? Eu nem acredito que você está aqui filho. Obrigada Aylla por tirar esse marmanjo de casa e o trazer para ver seus velhos.

- O jantar já ja ficará pronto. Espero que você goste de uma comidinha do interior. Infelizmente não sei fazer os pratos turcos chiques que a Meryem faz.

- O cheiro está delicioso. Certamente o sabor também é divino. Sua sopa quase acabou em briga para ver quem comia o resto que havia sobrado de tão gostosa.

- Imagina. Era só uma sopa simples.

- Fiquei sabendo que você também é chef de cozinha. Que bacana. - Pontuou Augusto.

- Na verdade, fiz o curso de gastronomia, mas nunca trabalhei na área. Optei por trabalhar no ramo de engenharia que é o que realmente amo fazer.

- Essa é uma profissão bem difícil para uma mulher, não é, Aylla? Imagino que deva matar um leão por dia no meio desses homens machistas.

- Já tive que matar uma alcatéia inteira para ser sincera, Augusto. Nós mulheres somos praticamente marginalizadas por exercermos essa função.

- Mas posso apostar que você se destaca muito mais e entrega um serviço de melhor qualidade do que um machão cheio de si.

- Pelo menos seu filho pensa isso. Já que confiou a construção do resort para mim.

- Confio em você para tudo, meu amor. Se o senhor visse como essa baixinha é num canteiro de obras, ficaria assustado. Ninguém se mete a besta com ela.

- Então é melhor eu conhecer esse lugar somente depois de pronto.

- Você poderá ir quando quiser. Estarei sempre por lá e adorarei te levar junto. Topa? Vou precisar muito da sua ajuda.

- Claro que sim. - Meu sogro estava com um brilho genuíno nos olhos. - Mas que falta de educação a minha. Vocês bebem alguma coisa?

- Eu quero um whisky com gelo e você pequena?

- Não quero nada, obrigada. Será que a Cecília precisa de ajuda?

- Não se preocupe. Ela se vira bem. Mas me conte, como está sendo sua recuperação?

- Devagar e sempre. É um processo demorado e vai demorar para me desgrudar da minha amiga muleta aqui.

- E quando será que poderei ter netos? - Ele disse eufórico, mas Enrico o desanimou na mesma hora.

- Nem tão cedo, pai. Aylla não poderá engravidar por um bom tempo, infelizmente.

- É uma pena. Mas vocês são jovens e apaixonados. Logo minha casa estará cheia de crianças suas me deixando careca. Eu tomei a liberdade de convidar a Giulia para jantar conosco, fiz mal? - Percebi que mudou de assunto abruptamente, pois notou o quanto Enrico e eu estávamos desconfortáveis com aquele assunto de filhos.

- De forma alguma, eu adoro ela e faz tempo que não conversamos.

- Aylla você pode vim aqui um pouco? Preciso da sua opinião - minha sogra gritou da cozinha. Me levantei com a ajuda de Enrico, que me levou até a cozinha e me sentou em uma cadeira.

- Estarei na sala se precisar de mim. - Me deu um beijo na testa e nos deixou a sós.

- O que combina mais com este molho? Curry ou cominho?

- Eu prefiro curry, mas o Enrico não gosta. Posso provar?

- Claro.

- Para mim está perfeito. Não precisa acrescentar nada.

- Como vocês gostam desses temperos, achei que ficaria bom se eu colocasse.

- Nunca fui muito fã de muito tempero na comida, a não ser natural. Amo as comidas da minha mãezinha, mas eu gosto mais de uma comida assim. Só não fico sem uma pimenta. Disso eu não abro mão.

Vidas Cruzadas Parte IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora