Capítulo dezesseis

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Azriel

Azriel havia acordado com uma grande ressaca moral. Ele se revirou o máximo que conseguiu, tentando enfiar sua cara debaixo da terra.

Ele havia cercado Gwyn descaradamente.

Talvez por algum orgulho besta, ele se sentiu tentado ao ouvir a porta dela abrir à noite.

De algum modo idiota, ele não esperava que ela realmente estivesse ali.

Gwyneth estava do jeito que a mente dele havia imaginado. Ele já tinha visto aquela camisola uma vez.

Azriel tinha ido pegar alguma coisa no quarto de Nestha e as meninas estavam preparadas para dormir. Ele se pegou vendo discretamente a ninfa com o vestido branco sem nenhuma marcação.

Se ele fechasse os olhos poderia imaginar.

Reunindo coragem de dentro de si, Az levantou-se da cama. Os lençóis remexidos por causa de uma noite mal dormida.

Seu quarto já estava sendo iluminado pela luz da manhã, deixando os detalhes mais visíveis. A madeira dos móveis eram as mesmas, deixando tudo no mesmo tom, os tecidos das cortinas eram de cores neutras. A única coisa destoante era uma pintura de Feyre no centro da parede.

Ela era um conjunto de formas disformes que, quando vistas em conjunto, formavam uma das montanhas de Illyria. O sol avermelhado escorrendo como sangue nos cumes ao fundo dava um toque apocalíptico a obra. Az gostava dela. Era o caos estampado em arte. Normalmente as coisas que ele gostava de apreciar brincavam o caos.

A Grã-senhora disse que quando terminou sua pintura só conseguia ver a cara do Encantador nela. Ela era quieta e corajosa, segundo a fêmea.

Azriel se via naquela situação, com vergonha de sair do próprio quarto, e percebia que ele poderia ser muitas coisas, menos corajoso.

Ele voltou a olhar para o teto. Por que estava tão afetado?

*

O macho se viu obrigado a sair.

Sua barriga parecia fazer uma guerra e estava começando a doer.

Ele havia pedido para a Casa trazer algo para ele, mas o Ser parecia estar com birra dele também e não o obedeceu.

Azriel abriu a porta, observou o corredor e colocou os pés para fora. Ele mandou suas sombras olharem mais a frente. Elas voaram como serpentes, se dividiram na bifurcação e depois de algum tempo voltaram. Elas encostaram nos ouvidos dele e falaram que estava tudo vazio.

Ele pisou devagar, não fazendo nenhum barulho no piso de madeira barulhento. As sombras pareciam uma caricaturas e imitavam os movimentos lentos dele como se pudessem ser vistas.

Az desceu a escadas e andou até a cozinha. Havia sobrado muita coisa do café da manhã. Ele pegou dois pães e passou manteiga.

Como se fizesse uma cesta, ele recolheu tudo que iria comer e foi em direção ao lado de fora da Casa.

Novamente, Azriel caminhou como um gato, vendo como uma salvação a porta que ligava a residência ao quintal.

Quando, finalmente, o Encantador de Sombras tocou a maçaneta ele escutou uma voz o chamando.

- Azriel, onde você pensa que está indo?

*

Az esperou e suas sombras começaram a rodeá-lo para ele desaparecer.

- Nem pense - disse Cassian. - Ia embora sem se despedir de mim?

- É que eu lembrei de uma coisa muita importante que tinha para fazer

- Que seria?

- Eu... preciso... falar com Rhysand. Falar com ele sobre as marcas.

- Eu vou com você.

- O que? - perguntou Azriel mais para si próprio do que para o irmão.

Cassian subiu as escadas fazendo o máximo de barulho possível. Mesmo no andar de baixo, o Encantador escutou o illyriano conversando com Nestha.

Desgraçado.

Az se encostou tanto na parede que quase se tornaram uma coisa só. Duas sombras se balançavam como se estivesse gargalhando da situação. Ele estava cercado de Judas.

*

Cassian desceu com um sorriso maldito no rosto. Azriel teve vontade de socá-lo até aquele risinho sumir.

Ele estava com um couro illyriano e algumas armas presas no boldrié que cruzava o peito dele.

- Vamos? - falou com sonsidade.

O Encantador não se dignou a respondê-lo e caminhou para fora.

O sol brilhava e refletia na grama verdejante. O céu estava azul, sem nenhuma nuvem. Tudo estava perfeitamente bonito e isso estranhamente irritava Azriel. Parecia uma grande ironia.

Ele andou até a borda da montanha e esperou o irmão. Cassian se aproximou e o olhou, como se pedisse uma confirmação. Azriel balançou a cabeça e o illyriano pulou, subindo alguns segundos depois como um pássaro rasante.

Az pode sentir os seis olhos o observando quando ele também se jogou.

O Encantador sabia que, pelo menos um daqueles pares estavam querendo esfolá-lo. E igual a um covarde, ele fugiu deles.

Através das suas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora