Capítulo quarenta e seis

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Azriel

O Encantador jazia calado em todo o café, fazendo apenas o ruído dos talheres. Ele podia ver que a ninfa o observava de soslaio.

Sinceramente, o macho não entendia o porquê estava tão afetado. Não queria acreditar no que havia acontecido. Az não era idiota, sabia que existia fêmeas que se relacionavam com outras fêmeas, porém não conseguia relacionar esses atos com Morrigan. Será que aquilo foi um evento aleatório, ou já havia ocorrido antes? Se já aconteceu, a partir de quando?

Por que ele se importava? Mor era uma adulta formada, não devia explicações. Mas seria menos problemático.

Azriel engoliu em seco, a comida não passou pela garganta dele. Respirou fundo, tentando clarear a mente.

Seria por isso que ela nunca lhe deu uma chance?

Ela não era totalmente atraída pelo sexo oposto, o próprio Helion era uma prova disso. A loira conseguiu se deitar com ele. Dormiu também com Cassian.

Eles nunca conversaram sobre o assunto; nunca houve uma abertura para isso. Podia ser egoísta, contudo o Encantador pensou por que não fui eu?

Ele ficou tímido, não forçando nada por séculos. Quer saber, Az mudaria o que havia falado antes, ele era tremendamente burro.

As sombras começaram a rodeá-lo, vindo pelas pernas e só as mais íntimas subiam o suficiente para alcançar os ombros, como um peitoral, protegendo-o de ameaças externas.

- Azriel - chamou a voz grossa.

- Desculpe-me, o que eu perdi - disse, levantando os olhos castanhos.

- Você está mais recluso do que o comum.

- Não dormi direito - ele deu um sorriso amarelo.

- Onde estão as meninas?

- Trabalhando em outra linha de investigação - respondeu Gwyneth, que comia sem causar nenhum barulho.

Ela estava parecendo uma lady, não aparentando estar afetada. Talvez ela soubesse mais coisas do que imaginava. Sua postura era ereta; seus movimentos delicados ao extremo. Seu riso era agradável, passando a imagem de calma.

Gwyn cortou uma massa, levando-a para os lábios.

- Vocês estão próximos de algo? - perguntou Helion para a ruiva.

*

Gwyneth

- Sim, bem, se a minha pesquisa estiver correta. Não podemos apostar todas as nossas fichas em apenas uma vertente.

- Ficaria satisfeito em ajudar - ofereceu-se.

A sacerdotisa organizou como iria falar sem revelar a identidade de sua fonte. Julki havia revelado-a informações pessoais de sua corte - pelo menos deveria ser assim, se fosse comparado com a biblioteca da Corte Noturna -, e isso poderia lhe atrapalhar.

- É verdade que tem corredores subterrâneos nessas livrarias antigas?

- A Rosa dos ventos tem muitos segredos que nem mesmo eu sei - respondeu.

- A Norte foi destruída, mas se ela ainda estivesse conservada nas outras camadas.

- Esses caminhos são utilizados pelas sacerdotisas, e tem o uso restrito delas. Se conseguir convencê-las.... Somente avise antes.

As sobrancelhas de Helion estavam tranquilas, ele aparentava estar relaxado. O maxilar anguloso mostrava uma barba bem aparada.

- Por que o complexo se chama Rosa dos Ventos?

- Nós já conversamos sobre isso; os quatro pontos cardeais mais o centro. É separado usando a Corte Diurna como o umbigo do mundo. Talvez seja por isso que essas provas estejam na Norte. É muito básico. Coisas que ocorreram no sul, fica na Sul; no oeste, na Oeste... Enfim, Amarantha pensou que destruir a história da sua corte seria uma forma de enfraquecê-la.

Ela balançou a cabeça, concordando sem escutar muito.

- Eu não nasci na Noturna. - falou baixinho, tentando puxar assunto, já que o Encantador estava focado em seus pensamentos.

- Onde a senhorita nos agraciou com a sua vida ao mundo? - indagou, gracejando falsamente, fazendo a ruiva soltar um sorriso.

- Num lago na fronteira da Outonal com a Primaveril.

- Imagino como foi a sua infância.

- Minha mãe chamava eu e minha irmã de peixinhas. Nós não queríamos em nenhum momento sair da água.

A face de Helion estava adorável, ele parecia prestar atenção em cada detalhe de sua fala. Seus olhos cintilavam, combinando com a sua pele brilhosa.

- Se você quiser testar sua teoria, podemos ir agora para a biblioteca - sugeriu.

Educadamente, Gwyneth aceitou.

- Vai conosco, Azriel?

- Como?

- Quer ir conosco?

- Sim, claro. - disse atordoado.

O macho parecia mais afetado do que deveria. Ele era amigo de Morrigan, amigo de séculos, e não sabia que ela se relacionava com as fêmeas. Gwyn ficou calada, deixando-o em seu canto.

As sombras eram ágeis, teleportando os três e deixando-os na porta. Az se afastou, desculpando-se, saiu na direção das seções sobre as cortes. Quietos, se separaram, buscando a resposta sozinhos.

Helion aconselhou-a a abordar com cuidado as sacerdotisas. Gwyneth não era boba; com um sorriso amigável, ela começou a caminhar, procurando incessantemente.

A tarde passou correndo sem que a ruiva visse um rosto conhecido, Julki havia desaparecido por completo. Perguntou para uma feérica que passava se ela sabia onde estava a morena, porém negou silenciosa. A ninfa entendia que não era sempre que uma pessoa conhecia a outra, largando isso de lado.

A garota notou que já era hora de ir embora. Mexendo nos papéis, viu uma mancha negra passear do outro lado da estante, estreitando e se encontrando com a face. A sombra rodeou-a, a protegendo de uma ameaça que ela não enxergava.

Uma onda fria subiu pela a sua espinha, um pressentimento ruim. Engoliu em seco, rezando em sua mente. Sua guarda demorou vários minutos para sair. Ela ia e voltava como se a chamasse. Obedecendo, caminhou, seguindo-a.

Sua trilha a levou até o Encantador. Respirou fundo, percebeu que a pobre mancha era semelhante a uma criança querendo atenção.

- Vá para o seu dono - sussurrou, deixando-o ter um momento de paz.

Através das suas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora