Capítulo cinquenta e dois

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Gwyneth

A ninfa ajudava calada a serva que dobrava as suas roupas. Sua mente trabalhava em todo o momento e ela pensava como poderia resolver a maioria dos problemas que arranjou.

Tudo pareceu muito normal, mas ao mesmo tempo tão estranho. Ela se sentia burra. Confiar em uma pessoa que acabou de conhecer e ir com ela para um lugar desconhecido.

Não iria se martirizar mais, pois Emerie trabalhou o suficiente. A illyriana ameaçou esganá-la mais vezes que o necessário, porém Gwyn argumentou que já havia sofrido tentativas de homicídios demais.

A feérica fechou uma das inúmeras malas; não percebeu que trouxera tanta coisa assim.

O ar aparentava estar mais pesado. A saudade bateu forte no peito da sacerdotisa, obrigando-a a segurar o choro. Ela não imaginou que sentiria tanto assim, gostou muito da estadia na Corte Diurna.

Uma batida suave na porta chamou sua atenção. A ruiva autorizou a entrada, vendo o Grão-Senhor atravessar, com as vestes balançando pelo vento. O tecido branco flutuava no ambiente, deixando sua entrada ainda mais dramática. Ordenou baixo para que a serviçal saísse, deixando-os sozinhos.

Gwyneth fez uma reverência singela, esperando que ele começasse a falar.

- Depois que nós descobrimos sobre o daglan, eu fiquei pensando sobre algo. Lembra de alguma coisa que possa motivar essa obsessão? Azriel descreveu no relatório que o monstro disse que a Mãe Sombria iria gostar daquilo.

- Não faço menor ideia, senhor.

- Já me contou como virou sacerdotisa, certo?

- Sim. E, bem, já pensei nessa possibilidade. Minha formação foi igual a de várias outras. Nada anormal.

- E o seu nascimento?

Gwyn franziu a sobrancelha. Não tinha imaginado.

- Acho que bastardos não fazem o cardápio de um daglan.

O canto da boca de Helion levantou.

- Dependendo de quem são os pais.

- Isso seria uma boa questão, porque nem eu sei quem é meu pai.

Helion abriu e fechou a boca. Gwyneth adorava fazer aquilo. Catelyn fazia isso com frequência, gostava de brincar isso. A bastardes era comum no meio das ninfas; elas não tinham parceiros fixos, não por muito tempo.

O senhor parecia inquieto, mexendo nos livros que havia multiplicado poucos dias antes. Passou os dedos no nome de Nisha Yvaine, escrito com uma letra dourada.

- Deve ser algum macho que estava rodeando as terras da Outonal no Calanmai.

- Você é uma Criança do Solstício?

- Sim, senhor. - respondeu bufando, pela Mãe, o que ele estava matutando?

- Talvez seja por isso, Gwyn.

- Acho que não. Se fosse para um bicho de séculos de vida vir me pegar, eu já estaria morta.

O Grão-Senhor bufou, baixando os olhos.

- Sua mãe lhe contou algo mais sobre?

- Passei pouco tempo com ela. E imagino que nem minha irmã possa falar alguma coisa.

Helion a encarou, deixando a sacerdotisa desconfortável; o macho conversou com poucas palavras e saiu acenando a cabeça. Instantes depois a serva entrou novamente, dando a Gwyneth tempo para assimilar. A testa se franziu, pensando no porquê de tudo aquilo.

Soltou um muxoxo, respirando fundo e voltando ao trabalho.

*

Emerie atravessou a porta sem avisar, causando um susto na ninfa. Gwyn estava deitada na cama, como uma musa posando para uma pintura. Levantou o rosto para enxergar a illyriana. Tinha decidido que iria tentar dormir, descansar a mente ansiosa.

Caminhando como um gato, ela embrenhou-se entre os lençóis e a abraçou forte.

- O que foi, Morceguinha?

Emie não disse nada, até começar a soluçar. A sacerdotisa a apertou mais, tendo cuidado com as asas.

- O que foi?

- Mor disse que não quer me ver mais. Eu não sei o que fiz? O que eu poderia ter feito? - o choro se intensificou, deixando a valquíria angustiada.

- Uma coisa tenho certeza, não é sua culpa. Você é maravilhosa! Quem sabe o que pode ter sido? As vezes ela só precisa de tempo para pensar. - a mão da ninfa acariciou o cabelo da illyriana.

- Nós estávamos bem. Nós conversamos.

- O que vocês conversaram? Prometeram alguma coisa?

- Não! Isso que me irrita. Ter criado a expectativa.

O beicinho se mostrou, Emerie soluçou alto. Gwyn tentou mudar o clima, para distrair a amiga.

- Helion veio me perguntar sobre os meus pais. - disse de repente.

Emie bufou uma risada, limpando as lágrimas com as costas das palmas.

- Tentando achar uma razão para a louca da Julki querer me matar.

- O que você acha?

- Meu pai nunca foi muito presente. - brincou - Se for por causa dele...

- Ela teria que saber quem é o seu pai - falou Emerie.

Gwyneth deu um suspiro falsamente ofendido. A illyriana arregalou os olhos, entendendo o sentido duplo de sua frase, e pedindo desculpas repetidamente. A ninfa continuou gargalhando sem parar.

- Nós vamos voltar amanhã. Não precisará vê-la com tanta frequência. - confortou.

- Estou com saudade de casa - sussurrou. - Até mesmo de reclamar!

- Quem está cuidando da loja? - perguntou.

- Fydell. E Daisy.

Gwyn sorriu, imaginando o enorme illyriano com avental atendendo os clientes.

- Quantos joelhos vão ser quebrados até nós chegarmos?

- Nada alarmante. - riu a morena.

A respiração da illyriana se acalmou. A ruiva acariciou os cabelos sedosos da amiga, tentando tranquilizá-la.

- Ruivinha - sussurrou. - Não esqueça que eu trouxe o seu colar. O de fita. Pegue-o no meu quarto depois.

Ela não respondeu. O colar de fita era um objeto de conforto. Não daria para usar, o tecido estava escangalhado, velho. As valquírias, depois do Rito, decidiram ter uma coisa que as lembrassem de suas vitórias. A linha de cetim branca segurava a joia azul, cunhada com círculos e pequenos desenhos. A gema era opaca, rústica. Mesmo tendo ferro, ela nunca era gelada.

Elas fizeram promessas, de proteção e lealdade. Juraram para a lua, queimaram galhos na fogueira e entoaram cantos antigos. Emerie ensinou rituais illyrianos; para dar coragem aos guerreiros e saudar a morte, pedir uma boa partida.

Gwyn fechou os olhos, imaginando a cena. A noite as acariciando. A calor lhes aquecia. Os cabelos soltos e as roupas brancas esvoaçavam com o vento. O crepitar da fogueira era o único som, acompanhado dos cantares. O rio fazia barulho, as águas batiam nas pedras com uma calmaria inexplicável.

A ninfa respirou fundo, acariciando mais uma vez os cabelos morenos de Emerie. Fechou os olhos e pode jurar que sentia novamente a brisa úmida da beirada do rio.

Através das suas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora