Capítulo sessenta

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Azriel

O Encantador levantou da cama com uma tremenda dor de cabeça.

Suas sombras não o deixaram em paz durante a noite inteira, se divertindo em serem travessas e inconvenientes.

Ele passou a língua nos lábios, indo beber um copo de água. Limpou seu rosto e escovou os dentes. Pegou um conjunto de roupa mais apresentável e vestiu-se. Iria sair cedo. Não queria se despedir, queria sumir, desaparecer o mais rápido possível.

Desceu as escadas com passos suaves. Abriu a porta, dando-lhe a visão da cidade. Velaris continuava como sempre, sem dar pausa para nada nem para ninguém. O vento batia em sua face, obrigado-o a ficar mais atento.

O Encantador abriu as asas, pegou impulso e voou para o céu. A tensão de sua carne e o ar eram revigorantes. Ele poderia atravessar até as montanhas illyrianas, mas perderia a única coisa que valia a pena no trajeto até lá.

Não era novidade que Azriel odiava o local em que nasceu; odiava o que havia vivido lá, odiava que sua história tivesse se iniciado lá.

Mas não tinha como apagar todos esses acontecimentos. E havia certos fatores, certas pessoas que ele não queria esquecer.

Reclamar fazia o tempo correr. Parou nos portões de sua cidade natal. Ainda aparentava igual. Parecia que estava congelado na linha do espaço-tempo.

A cidade em que ele nasceu era pequena, esdrúxula e totalmente mesquinha. As casas continuaram do mesmo jeito, tendo algumas novas desde a última vez que ele visitou. Ele não vinha ali sem um motivo específico.

Os feéricos encaravam sem discrição; os mais velhos com despeito, os mais novos com admiração. Porém nenhum se atreveu a se aproximar. A postura era arrogante; ombros para trás, peitoral estufado e sua palma cheia de cicatriz pousada no cabo de sua adaga.

Seu tato se atiçou pela obsidiana. Os desenhos aparentavam familiar, assim como as sombras que surgiram ao seu redor. Sua sombra mais fiel se enlaçou, juntando os dedos com o aço; ela não queria que ele se separasse.

Compondo a pintura de poder, sua magia o rondou, ficando mais forte a cada passo que ele se aproximava de seu destino. Azriel entrou na mata densa, observando se não tinha ninguém o seguindo.

O esconderijo ficava no meio das árvores, sendo mostrado pelo cheiro dos jacintos. Rezava a lenda que nesta floresta vivia uma bruxa, que matava intrusos.

Uma história que demorou alguns séculos para que ele conseguisse se tornar crível.

O casebre de madeira e estrutura antiga era afastado do centro. Era protegido por guardas com as língua cortadas, especialmente enfeitiçados para nunca saírem dali. A decoração de flores roxas adornava as pilastras e as janelas de vidros embaçados.

Uma simples palavra fez os feéricos se afastarem, dando espaço para que suas sombras corressem soltas, libertas.

Azriel raspou os solados dos sapatos na escada, limpando-os. Bateu três vezes seguidas na porta baixa de carvalho retorcido.

Ela foi aberta por uma senhora illyriana. Era pequena, com a pele escura e olhos castanhos meigos que começavam a ter pés de galinha. Seu cabelo preto começava a ter fios brancos, porém continuavam nas mesmas tranças de sempre. Ela levantou as sobrancelhas, surpresa. Soltou um gritinho eufórico e o abraçou firmemente.

– Finalmente você veio me visitar, meu filho!

*

A mãe de Azriel usava um avental, o que delatava que ela ainda insistia em fazer as atividades domésticas, mesmo com o Encantador insistindo e conseguindo o máximo de servos para dá-la uma vida confortável.

Através das suas sombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora